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Rascunhos da Vida: A CIDADE DO VALE DO AMANHÃ

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Do arquivo pessoal

Contos da rua Alagoas

Capítulo 1

A CIDADE DO VALE DO AMANHÃ

O Vale do Amanhã é uma das regiões mais bonitas e cativantes de Minas Gerais, banhado pela junção de quatro rios o vale fica dentro de um quadrilátero natural. A montanha do Caldeirão, o Pico dos Uivos Uivantes, a Montanha do Velho Lobão, e o Morro da Caveira vermelha são destaques na paisagem. A belíssima cidade de Imperatriz dos Ases está situada no centro desse quadrilátero.

Do arquivo pessoal

Conta-se a história que um condenado português foi deixado a deriva no Brasil, e que esse homem cujo nome de batismo é Odilon DelPorto Casimiro tornou-se conhecido como Dom Casimiro. Esse pobre homem fora condenado ao exílio por contestar contra a coroa portuguesa. Deixado no Brasil casou-se com uma índia Tikuna cujo nome era Orvalho da Manhã, chamada carinhosamente de Dona Orva, e agregou em sua pequena família um casal de quilombolas de um quilombo recém-destruído. Em sua peregrinação pelo país veio parar no Vale do Amanhã, e segundo a lenda ele viu uma imagem de uma criança que andava sobre uma nascente, e ao aproximar-se do local a criança disse a ele que aquele vale guardava segredos que nunca seriam descobertos, mas, que ele fizesse ali sua morada e começasse uma nova aldeia. Após a fala a criança tornou-se um pássaro e desapareceu para todo o sempre.

Dom Casimiro, então cercou a nascente, fez uma fonte, que se encontra embaixo da matriz do Senhor Bom Jesus de Imperatriz dos Ases. Construiu a casa grande, uma pequena capela, uma casa para Kussan e Kikari, seus amigos refugiados. Construíram um centro da cidade com um jardim em frente à capela, começaram a plantar milho, mandioca e arroz. Em pouco tempo conseguiram pegar e amansar alguns porcos do mato. Em fim construíram galinheiros, fizeram o curral central e a casa de compras e assim começaram a negociar com muitos bandeirantes que cruzavam o caminho do pequeno povoado. Alguns destes bandeirantes decidiram ficar no lugarejo, nesse período surgiu no local um Frei Franciscano chamado Manoel, tornando-se o primeiro padre do local.

No alto do morro da Caveira Vermelha afixaram um cruzeiro, sobre o altar deixavam frutas, milho, mandioca e arroz, para que a chuva fosse farta e que a colheita sempre abundante. Ainda no morro da Caveira Vermelha, numa caverna escondida havia um altar dos bantus. Frei Manoel começou uma pequena escola dentro do curral de Dom Casimiro, a palmatoria ficava exposta nos umbrais do portão de entrada, mesmo tendo sido poucas vezes utilizada. As crianças aprendiam latim, português e matemática. Aprendiam os conceitos da religião católica passando pela classe de catequese, e eram crismados no tempo oportuno. Foi batizada toda a população a fim de não serem considerados pagãos. Frei Manoel rezava a missa em latim e português, ele era um visionário, noutras localidades a missa era só em latim. Escrevia a liturgia em folhas e distribuía as crianças que faziam a leitura do evangelho, com o passar dos anos essas crianças cresceram e fizeram história na cidade.

O povoado não tinha nome, era conhecido como cidade de Dom Casimiro. Um dia quando todos acordaram depararam com uma placa na praça da capela. “Imperatriz dos Ases” estava escrito na madeira queimado com estaca de bronze. Segundo Dom Casimiro um anjo apareceu para ele e disse que ali seria o império dos anjos na terra. Então ele entalhou o nome do vilarejo e colocou na praça central. Frei Manoel trouxe água benta e celebrou uma missa naquele dia batizando o vilarejo de Imperatriz dos Ases, o império dos seres de asas.

Padre Manoel construiu a usina de óleo de abóbora, para substituir o azeite e o querosene das lamparinas que era muito caro. Construiu também os primeiros estaleiros de polvilho doce e azedo, bem como auxiliou na construção do primeiro alambique de cana-de-açúcar e rapadura no terreno de Castor Delgado. José de Arimateia abriu a primeira estalagem da cidade, nela havia um ponto de encontro regado pela pinga do alambique Delgado. Ele aprendeu a fazer uma bebida que agradava os paladares, mel, água, canela e cravo eram regados na cachaça e faziam a diversão dos frequentadores.

De lá pra cá muita coisa aconteceu, a cidade cresceu um pouco, tornando-se uma referência nos ares mineiros. Todos conheciam as histórias de uma missa em latim e português, e como em boa harmonia conviviam os católicos, os bantus, os céticos e até mesmos depois de alguns anos os protestantes que chegaram à cidade através de David Mood Smith implantando o luteranismo na cidade.

A cidade hoje conta com aproximadamente trinta mil habitantes. E tem como prefeito atual o Sininho, um homem baixo de cabelos ruivos que recebeu a alcunha de “Sininho” por ser quando criança um menino muito gordo, de voz estridente e fala acelerada, cuja fala parecia o retilintar do sino da matriz. Ainda hoje sua voz é estridente, mas um pouco mais cantada como todo bom mineiro da gema. Esta semana Sininho anunciou os preparativos para a celebração do Jubileu do Senhor Bom Jesus de Imperatriz dos Ases. Você é o nosso convidado para o período da celebração. Venha encantar-se com as histórias que acontecem especialmente na rua Alagoas, no centro de Imperatriz dos Ases.