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Por que as pesquisas não acertam o resultado das urnas?

Começa agora o período de “gestação” das publicações de resultados de pesquisas de intenção de voto para prefeitos, especialmente para as maiores e mais importantes capitais brasileiras. A partir de janeiro ou fevereiro, ou seja, daqui a pouco mais de seis meses, os principais veículos da grande mídia já começarão a publicar os resultados da intenção de voto e rejeição aos possíveis candidatos a prefeito dessas grandes cidades.

Todo leitor, ouvinte ou espectador começará a tratar essas publicações como um horóscopo. Há os que acreditam piamente, principalmente se os resultados o agradarem, há os que desconfiam da idoneidade e há os que afirmam de nada valer aquelas informações, pois as pesquisas nunca acertam os resultados que saem das urnas. No entanto, nenhum deles resiste à curiosidade, conferem os números publicados e acabam comentando-os, quer para enaltecê-los, quer para espinafrá-los. Se os resultados vierem acompanhados com algumas “projeções de cenários de segundo turno”, então, aí é que dão mesmo pano pra manga para comentários.

A grande mídia, assim, atinge os seus objetivos. Informar? Não necessariamente. Apenas “dar IBOPE”, ou seja, atrair mais leitores, ouvintes ou espectadores e colocá-los a falar a respeito do veículo que fez a publicação.

Na verdade, essa é mesmo a única serventia dessas publicações: atrair consumidores e sua atenção, pois os números que normalmente publicam, intenção estimulada de voto e rejeição, podem não ser manipulados ou mentirosos, mas não representam a verdade. Nem mesmo meia-verdade. No máximo um décimo ou um vigésimo da verdade, e mesmo assim, apenas referente ao período no qual foi realizado o trabalho de coleta das opiniões em campo. Se o instituto termina a coleta hoje e só publica os resultados amanhã, dependendo do que possa ter acontecido desse dia para o outro, aqueles números já não são mais confiáveis. A política é muito dinâmica, os atores envolvidos são muitos e grande parte do eleitorado brasileiro tem o salutar costume de apenas decidir seu voto nos poucos dias que antecedem o pleito. Alguns apenas no pé da urna!

Então as pesquisas somente servem para isso? Atrair incautos e desinformar?

Bem… Não mesmo. No entanto, se publicadas, deveriam sê-lo em sua íntegra, e não apenas aqueles fatídicos números.

Para que se possa aferir com alguma confiabilidade o desempenho dos candidatos, são necessárias muitas outras informações, que nem sempre são obtidas com perguntas diretas, mas sim inferidas através de cruzamentos das respostas a várias questões.

A neurociência já provou que entre 85% e 95% de nossas decisões, por mais técnicas ou fundamentais que possam ser, não são conscientes. Nas perguntas diretas aos entrevistados, eles sempre têm tempo de permitir que seu córtex cerebral elabore e racionalize a resposta, o que, muitas vezes, pode diferir de sua real opinião, inconsciente, naquele momento. Assim, são necessárias questões que, aparentemente buscam uma informação diferente, mas, na verdade, se prestam a, ao serem cruzadas com os resultados de outras questões, deslindar a real tendência do eleitorado.

Um exemplo simples é a comparação da intenção espontânea de voto e a intenção estimulada de voto. Na primeira, o entrevistador apenas pergunta em quem o entrevistado “gostaria de votar” nas próximas eleições. Se o entrevistado responder que gostaria de votar no papa, o pesquisador não deve interferir na sua opinião. Apenas registrá-la.

Já na intenção estimulada de voto, o pesquisador precisa fazer com que o entrevistado se sinta frente à urna e deva escolher entre os candidatos que lhe são apresentados. Se, espontaneamente ele gostaria de votar no papa, certamente o papa não estará constando nessa lista de candidatos que lhe é oferecida para sua escolha, e mesmo que o entrevistado ainda se sinta desinformado e hesitante, ele é induzido a fazer uma opção dentro dessa lista.

Resultado: se compararmos os números de intenção espontânea com a estimulada, veremos que existe um abismo entre os dois referentes a cada candidato. Qual deles, então, é o verdadeiro? O espontâneo ou o estimulado? A grande mídia justifica a publicação apenas do estimulado afirmando que a tendência da intenção de voto do eleitorado é representada por esse número.

Nada mais incerto!

A qualquer momento em que a pesquisa seja feita, todos os possíveis candidatos somente podem contar com o percentual de eleitores que os citarem espontaneamente, pois estes são os que realmente já se decidiram e dificilmente mudarão sua opinião. Já os números estimulados podem sofrer alterações significativas de um período a outro.

Em pesquisas sequenciadas, que são utilizadas pelos partidos e candidatos na orientação de sua campanha, os números da espontânea dos candidatos que realmente serão competitivos costumam ser pequenos nas pesquisas mais distantes do dia do pleito, se comparados aos estimulados, mas vão crescendo ao longo da campanha até que, já nos dias bem próximos ao da eleição, aproximem-se muito dos da intenção estimulada. Já os candidatos que não terão chances de vitória ainda apresentarão grandes variações entre seu número espontâneo e estimulado. Essa, por exemplo, é uma informação crucial e que é sonegada pela mídia.

Outros fatores, como o grau de conhecimento que o eleitorado tem de cada postulante ao cargo, a imagem pública que tem dos candidatos, a possibilidade de lhe destinar seu voto em caso de o seu candidato favorito se tornar inviável, além de muitas outras, inclusive as intenções de voto, analisadas em conjunto é que dão as perspectivas para o desempenho de cada candidato.

Assim, sem chance de qualquer instituto, por mais idôneo, eficiente e capaz  que possa ser, cravar todos os números que brotarão das urnas. Eles somente conseguem se aproximar de todos os resultados das urnas, dentro de uma faixa de margem aceitável de erro, quando fazem as pesquisas de boca de urna, pois nela não é perguntado em quem o entrevistado votaria, mas sim em quem ele acabou de votar.

Surpresas, como as ocorridas no primeiro turno aqui em Minas e no Rio, principalmente, são virtualmente imprevisíveis. Aqui nas Minas Gerais, por exemplo, Romeu Zema somente começou a subir nas pesquisas um dia após o último debate na TV. Em poucos dias ele deu uma arrancada notável. Três ou quatro dias antes das eleições, todos os institutos, partidos políticos e comitês de campanha já sabiam que ele expulsaria Pimentel do segundo turno. No entanto, que essa sua arrancada teria fôlego para suplantar Anastasia, isso já era uma incógnita. Pelos números disponíveis, ele poderia ter ficado pouco abaixo de Anastasia, ou mesmo ser eleito em primeiro turno, essa era a “faixa de possibilidade” de seu desempenho.

Assim, meu amigo, a partir de janeiro ou fevereiro, quando você se sentir no direito de brigar com seus amigos por causa dos resultados publicados de pesquisas eleitorais, seria bem melhor que você se lembrasse desses fatos e deixasse a belicosidade de lado.