Na tarde desta Quinta-feira Santa, o Papa Francisco visitou a histórica prisão de Regina Coeli, em Roma, em mais um gesto simbólico de proximidade com os excluídos. Pouco antes das 15 horas locais, o pontífice foi recebido pela diretora do presídio, Claudia Clementi, e por funcionários da instituição. No local, encontrou-se com cerca de 70 detentos de diversas nacionalidades, que participam regularmente das atividades espirituais conduzidas pelo capelão do instituto.
Em sua breve fala aos internos, o Papa destacou o valor simbólico do Lava-pés, tradição cristã que ele costuma repetir todos os anos nesse dia: “Todos os anos, gosto de repetir o que Jesus fez na Quinta-feira Santa, o lava-pés, na prisão”, disse Francisco. “Este ano não posso fazê-lo, mas posso e quero estar perto de vocês. Rezo por vocês e por suas famílias”, completou o pontífice, encerrando o encontro com a oração do Pai-Nosso e sua bênção apostólica. A visita durou cerca de 30 minutos.
A cena, carregada de simbolismo cristão, ecoou também no Brasil. Em Divinópolis (MG), o Bispo Diocesano Dom Geovane Luís levou o gesto de Jesus ao Presídio Floramar, onde celebrou a cerimônia do Lava-pés com os detentos. A escolha de realizar o rito dentro da prisão reforça a mensagem central da data: a humildade e o serviço ao próximo, independentemente de suas condições.
Dom Geovane aproveitou a ocasião para lembrar que, por trás de cada cela, existem vidas, histórias e possibilidades de transformação. “A prisão pode separar corpos, mas não deveria nos fazer esquecer que ali existe alguém que, como nós, já chorou, já teve medo, já quis acertar — e errou”, afirmou.
A fala do bispo se alinha à reflexão proposta pelo próprio Papa Francisco ao longo de seu pontificado: a de que a justiça deve caminhar ao lado da misericórdia. Ambos os líderes religiosos apontam para a necessidade de enxergar além da culpa e da condenação, reconhecendo no encarcerado não apenas o erro cometido, mas a pessoa humana em busca de redenção.
“A diferença, muitas vezes, está no quanto tivemos alguém por nós”, reforçou Dom Geovane. “Muitos que hoje estão encarcerados foram deixados à margem, ignorados quando ainda havia tempo de mudar a rota”.
A cerimônia no Presídio Floramar e a visita do Papa Francisco em Regina Coeli são sinais concretos de um olhar que transcende o julgamento e se aproxima da essência do cristianismo: amar e servir, mesmo (ou principalmente) àqueles que o mundo muitas vezes prefere esquecer.
Em tempos marcados por discursos de intolerância e punitivismo, os gestos da Quinta-feira Santa convidam à reflexão: se até Jesus se ajoelhou diante dos pés de seus discípulos — inclusive daquele que o trairia — quem somos nós para negar a alguém a chance de recomeçar?
Com informações da Santa Sé e da Diocese de
Divinópolis