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Rascunhos da Vida: Pedras cantantes…

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Retirado do site: https://www.pexels.com/pt-br/foto/duas-pessoas-andando-em-estrada-nao-pavimentada-2679814/

O pisar em pedras cantantes já fez minhas lágrimas cair. Parece muito estranho a situação e a minha afirmação, mas enquanto eu caminhava as pedras cantavam e minhas lágrimas caiam na ida e volta da Igrejinha, nome carinhosamente dado a capela no alto do morro ao lado do cemitério municipal de Pedra do Indaiá.

Apocalipse 21.1-4

Retirado do site: https://www.pexels.com/pt-br/foto/duas-pessoas-andando-em-estrada-nao-pavimentada-2679814/

Mamãe adorava comprar sapatos para nós. O solado dos tais sapatos era feito de um material emborrachado, que sobre algumas superfícies de terreno produziam um som agudo e singular. O guincho produzido em alguns momentos era grave, noutros mais agudos, eram espaçados conforme as passadas que eu dava. Naquele dia os chios dos sapatos pareciam irregulares e eram pautados pela clave de sol, nela havia pausas e muitos “alegretos” no ritmo da batuta do meu coração, do meu suor e do meu respirar.

Subi a serra pensando nas situações que iríamos vivenciar, desci o morro esperando respostas que não surgiam. A cada abraço, cada passada de mãos nos cabelos, e cada sorriso esboçado o tom dos sapatinhos sobre as pedras mudava, mas a música ainda era triste aos meus ouvidos. Era assim que as pedras cantavam no dia do sepultamento de meu pai, o som melódico ecoava dentro de mim, e me libertava dos temores quando eu reportava cada uma das notas às verdades do evangelho de Cristo.

Ao pensar que o lugar de papai no sofá ficaria vazio, que lugar dele com mamãe também estaria. Pensar que não teria condições de ajudar mais na colocação de água no radiador do caminhão e no completar do óleo do motor. Que não haveria alguém para ajudar no pagamento das contas, que mamãe ficaria sobrecarregada na tarefa de mãe e pai. Que nossa responsabilidade aumentaria e que deveríamos ser exemplo em todas as coisas, faziam com que minha mente ficasse inquieta, agitada, temerosa.

No entanto algo me consolava e ainda hoje consola quando vejo semelhantes situações ecoando nesta pandemia. Quanta dor na perda. Quanto choro gerado pela ausência. Quantas lágrimas nos documentos pós-morte e nas lembranças nos armários. Mas, o meu consolo estava em saber que nada passa despercebido aos olhos de Deus. Que nada foge de seu controle e propósito, nem tão pouco de sua conclusão de projetos.

Mesmo que algo pareça obscuro existe um foco que resplandece luz. Ainda que pareça trágico há um roteiro perfeito traçado pelo Deus de amor, esse projeto é tanto para o homem quanto para a humanidade. Portanto mesmo que nossa breve e momentânea tribulação seja real, chegará um dia em que teremos sobre nós o eterno peso da glória de Deus. Pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. E é certo que um dia todos nós nos apresentaremos diante de Deus, aí sim, ele enxugará as lágrimas de seus eleitos e eles terão deleite em sua presença permanentemente.

Não se preocupe se hoje as pedras cantam aos seus pés. Deixe as lágrimas caírem, permita que elas o lavem por dentro e por fora. Que cada lágrima possa lhe servir como válvula de escape no sofrimento, e que Cristo sim possa ser sua esperança. Esperança de dias melhores, de uma situação eterna onde não haverá dor, choro, e morte, mas uma realidade onde teremos paz, alegria e vida eternamente.

Um grande e forte abraço!
Nos eternos laços do amor de Cristo.

Rodrigo Fonseca Andrade
Um servo que nunca deixou de celebrar o dia dos pais, pois o Pai Eterno sempre se fez presente.