Estamos enfrentando um grande problema, a readaptação à realidade de uma pandemia mundial. Uma situação que ninguém jamais pensou em participar. Algo pelo qual nunca houve um planejamento mundial. Ninguém pensou em algo para combater uma crise tão grande.
Lembro-me de quando peguei catapora. Quando a mamãe descobriu, ela não me isolou de meus dois irmãos, o Leo e o Deco (Douglas ainda não tinha nascido), mas deixou que eu tivesse contato com eles e que ambos pegassem também. Seria um único momento de tratamento, seria um único momento de reclusão, nenhum de nós poderia ir para a escola, nenhum poderia ir para a pracinha ou nadar no rio, ninguém poderia ir comprar bala na vendinha do Irací.
Nenhum de nós parava um minuto, conhecíamos todos os cantos da pracinha, todos os ninhos de passarinhos, todas as árvores onde subíamos juntos, todas as moitas para se esconder durante o pique-pega. Não havia nenhum de nós que não pulava a janela, ou o muro, e que não saia pelo portão lateral mesmo o papai trancando com cadeado.
Mas tivemos que parar. Não foi algo voluntário, não foi algo escolhido. Talvez algumas das tarefas até desejássemos não fazer, como deixar de ir à escola, ou ter de limpar o viveiro dos pombos. Mas após dois dias parados, começávamos a desejar ir ao rio nadar especialmente porque estava muito quente. Eu me lembro de que transpirava tanto, mas não podia coçar as bolhinhas que se formavam, pois segundo a mamãe poderiam infeccionar. Queríamos os benefícios do isolamento, mas não os malefícios dele.
Há alguns dias estive meditando num texto surpreendente de Levítico 26.31-43. O que mais me chamou a atenção foi o versículo 35, quando diz: “Por todos os dias da assolação descansará, pelos dias que não descansou”. O autor usa dois termos muito interessantes assolação (Semamāh) e descansar (sĕwa) . A palavra descansar usada significa clamar, clamou, e a palavra para assolação significa devastação, assolação, ruínas, isolamento.
Eu quase chorei. Digo quase, porque o Senhor enxugou as minhas lágrimas quase que imediatamente. Reli o texto e vi: Deus nos isolou, para que nestes dias clamássemos a Ele de forma incessante. Clamássemos a Ele convictos de sua soberania. Levantássemos um clamor a Ele, certo que Ele no seu divino propósito já sabe o fim e intenção de nossa existência nesta terra, e, portanto cabe a nós apenas rogar a Ele que revele seu divino projeto ao dirigir nossos passos.
Pense nisso, você foi parado para clamar. Clamar em favor do próximo, em favor de uma humanidade que sofre, em função de pessoas em vulnerabilidade, pelas famílias que se distanciavam, e por você também. Pois é o Senhor que dirige nossos passos, mas a oração nos faz entender quais são eles.
Um grande abraço!
Nos verdadeiros e fraternos laços do amor de Cristo.
Rodrigo Fonseca Andrade
Um servo que parou muita coisa, mas não estacionou sua fé.
