Por Felipe Machado
Há exato um quarto de milênio, em 13 de janeiro de 1775, o pequeno povoado das proximidades da Cachoeira Grande, no Rio Itapercerica, era reconhecido pela criação do curato. Nascia naquele povoado o que vira a ser a Divinópolis de hoje, dois séculos e meio depois…
Fundada em 1º de junho de 1912, Divinópolis tornou-se cidade emancipada há somente 112 anos, mas suas origens e primeiras habitações remontam do século XVIII, quando o Brasil ainda era uma colônia de Portugal. Por aqui, em meados de 1720, surgiram os primeiros habitantes da região, chamados muitas vezes erroneamente de indígenas da tribo candidés, mas que, segundo Antônio e Francisco Gontijo de Azevedo no livro ‘Da História de Divinópolis’, estes foram “emboabas”, geralmente homens de várias etinias, que fugidos da guerra de mesmo nome, ocorrida no início daquele século, se estabeleceram na região a procura de refúgio.
Segundo os mesmos autores, após o estabelecimento dos ‘candidés’ na região, habitando as proximidades da Cachoeira Grande (do Niterói) e do Bracinho (atual Parque da Ilha), o primeiro cemitério foi erguido por aqui em 1730, no alto do morro da atual Catedral. Em 1770, contam ainda que o fazendeiro Manoel Fernandes Teixeira, doou à Diocese de Mariana 40 alqueires de terra para a criação da Freguesia do Divino Espírito Santo, o que possibilitou a criação de uma igreja, tendo como padroeiro o mesmo, e uma outra, em honra a São Francisco de Paula, que por falta de recursos não foi edificada.
A localidade na época ficou conhecida como Passagem do Itapecerica, pelo motivo de na época havem um local de travessia pelo rio, feita a vau, próximo à Cachoeira Grande. Com a aprovação da “lei do esforço menor”, o nome acabou encurtado para “Itapecerica”, visto esta aprovação estar à margens deste rio, e por não haver, na época, outra localidade de mesmo nome (a atual cidade de Itapecerica, emancipada em 20 de novembro de 1789, tinha como nome Vila de São Bento do Tamanduá).
Em 13 de janeiro de 1775, o nosso pequeno povoado que habitava as ‘itapecericas’, trecho tempestuoso do Rio Itapecerica, na altura do ‘bracinho’, era elevado ao termo de curato. O acontecimento também é narrado no livro ‘Da História de Divinópolis’ dos irmãos Gontijo de Azevedo:
“1775:
A 13 de janeiro de 1775, o nosso povoado foi elevado a curato. Nessa ocasião estava em início a contrução da Primeira Matriz.
O sr. Manoel Lopes Caetano, fazendeiro do Macuco, foi o iniciador, construtor e principal idealizador da construção da Matriz. Era homem que tinha escravos e bons haveres. Era neto do chefe dos Candidés. O arquiteto foi um espanhol que estivera trabalhando como pedreiro por muito tempo. Mandaram roçar o ponto mais alto do morro e ali puseram as pedras começando assim a construção da igreja que até pouco tempo tempo existia e hoje foi substituida pela Catedral do Divino Espírito Santo, erguida atrás da Matriz. Demoraram vários anos para terminar a igreja, pois segundo contam, cada ano, um fazendeiro destacava uns tantos escravos para sua construção. O Sr Manoel Lopes Caetano, tanto pessoalmente como seus próprios escravos e seu arquiteto, ficou desde o princípio até o fim da construção. Fim, não é bem o termo, pois não houve totalmente o fim da construção. Dizem que o assoalho só foi feito depois do incendio de 1830, que era um templo sem assoalho, sem forro, de janelas e portas as mais grosseiras e rudimentares possíveis. Que o próprio altar-mor era muito tosco. O arquiteto espanhol acima referido se chamava Miguel Cantalha. Depois de levantada a Matriz, o cemitério foi transferido para dentro do adro da mesma. O adro ficou pronto em 1787.”
Assim, há 250 anos, nascia o pequeno povoado, que ao longo dos séculos cresceria, se agigantaria, torando um dos principais centros urbanos da região e do estado de Minas Gerais. Passagem do Itapecerica, Vila do Espírito Santo do Itapecerica, Arraial do Divino Espírito Santo, Vila de Henrique Galvão foram já teu nome. “Cidade Divina”, “Princesa do Oeste”, “Cidade-Oficina”, apelidos que designam Divinópolis, cidade jovem, de história secular!