Por Felipe Machado
Nascido há 185 anos, em 25 de março de 1840, conheça a história de Francisco Machado Gontijo, o “Patriarca de Divinópolis”, uma das mais ilustres figuras da história do município. “Seu nome encheu Espirito Santo do Itapecerica, brilhou Henrique Galvão e se fez grande em Divinópolis!” escreveu sobre ilustre figura o memorialista, político e ex-prefeito Pedro X. Gontijo.
Em 25 de março de 1840 nascia, no então pacato Arraial do Espírito Santo do Itapecerica, Francisco Machado Gontijo, filho do alferes Francisco Machado de Miranda e Maria Joaquina Gontijo.
Casado duas vezes, primeiramente com a sra. Anna Leopoldina (também num 25 de março, mas de 1865) e posteriormente com Donatila Eudóxia, foi o progenitor de uma prole de 20 filhos durante quase cinco décadas.
Era, na metade do século XIX, um simples empregado do sr. Jerônimo Dias Pereira, quando, em 1865, eclodiu a Guerra do Paraguai. Vendo que perderia seu fiel empregado para as tropas militares, Jerônimo sugeriu-lhe em casamento com sua filha, Anna Leopoldina, que se deu as pressas. Com o matrimônio, sucedido pela morte do sogro, além de garantir não servir pelo Império no conflito que ocorria no oeste brasileiro, Francisco, ainda aos 25 anos de idade, e seu cunhado, João Epifânio, herdaram o grande comércio do sr. Jerônimo.
Enviuvou-se após a precoce morte de sua primeira esposa Anna Leopoldina, em 27 de julho de 1891, durante complicações de um parto mal-sucedido, que além de ceifar-lhe a vida, levou também o pequeno rebento. Casou-se novamente em 18 de novembro de 1893 com Donatila Eudoxia, também viúva de um conhecido seu, que vinha de Bom Despacho.
Seus filhos do primeiro casamento foram Aurora Leopoldina, conhecida como “Sinhazinha”(1866), Maria Leopoldina (1868), América (1869), Olimpia (1871), José (1872), Francisca Leopoldina (1874), Zenóbia (1876), Augusto (1878), Rosa (1879), Adolpho (1882), Francisco Machado Filho, o “Chiquinho”(1884) e Acrísio (1889). Do segundo casamento, nasceram Oswaldo (1894), Antônio, o “Totonho”(1896), José (1898), João (1900), Lincoln, o “Linco do Munho” (1902), Bernardino, o “Bernardino da Sanfona” (1904), Anna (1906) e Bárbara (1908).
Apesar da imensa prole, o nome de Francisco Machado se conhece nas terras do oeste como “Patriarca de Divinópolis” por outro motivos. Chico foi um dos grandes responsáveis pelo crescimento deste lugar, desde o pequeno Arraial do Espírito Santo do Itapecerica até a cidade de Divinópolis, participando ativamente como um dos lideres da emancipação e também como chefe político e policial destas paragens por muitos anos. Recebeu de Pedro X. Gontijo a alcunha de ‘’Patriarca de Divinópolis’’, por seus feitos e dedicação, como se um verdadeiro pai fosse para esta terra.
Suas benfeitorias nesta localidade se iniciam ainda no antigo Arraial, quando já destacava uma campanha de bate-paus, que zelava pela ordem na região. Entre os anos de 1891 e 1893, e de 1901 a 1904, ocupou o cargo de Agente Executivo Distrital, num cargo anterior ao de Prefeito e Presidente da Câmara, representando o Arraial do Espírito Santo e a Vila de Henrique Galvão na Câmara Municipal de Itapecerica, a quem pertencia esta localidade até então. Deixou o cargo, em 1905, para ocupação do genro, Bernardino Alves Machado, que conduziu esta localidade até sua emancipação.
Foi dele a doação, em 1911, dos terrenos do brejo da esplanada, para instalação das oficinas e da Vila Operária da Estrada de Ferro Oeste de Minas, numa região plana e alagadiça, proxima à cidade nova. Segundo Pedro X Gontijo, nada acontecia nestas paragens sem o aval do Coronel Francisco Machado. Por isso, em 1912, sua conscientização e seu envolvimento na causa foram fundamentais para a emancipação de Divinópolis, recebendo a alcunha de um verdadeiro “Patriarca”.
Durante os processos de emancipação política do município de Divinópolis, em 1911, Francisco Machado Gontijo, aliado à Pedro X. Gontijo e ao Padre Matias Lobato, estiveram pessoalmente no gabinete do então Presidente do Estado de Minas Gerais, dr. Júlio Bueno Brandão, a fim de discutir sobre a causa. Sairam de lá vitoriosos, e no dia 30 de setembro de 1911 foi oficializada a emancipação, instituída com a posse da primeira Câmara Municipal, em 1 de junho do ano seguinte.
Pedro X. Gontijo também honrou o nome de Francisco Machado Gontijo numa publicação no jornal “Divinópolis”, em 25 de março de 1917:
“(…) Em 1912, quando o ramal Belo Horizonte da ferrovia era traçado, para Alberto Isacson interveio o grande cidadão. Ele passou semanas inteiras a cavalo mostrando à Comissão de Construção as vantagens no passar por aqui o ramal, oferecendo gratuitamente uma fonte d”água, inutilizando assim 2 imóveis que possuía no local.
Em 1914, tendo notícias que a estrada precisava de construir umas grandes oficinas e não achava terreno, ofereceu o velho patriota, alqueire de terreno, gratuitamente, para as mesmas, garantindo assim o progresso futuro da sua terra.Desde muito moço entrou para o comércio, onde exerceu a sua atividade até agora.
Correu por todos os cargos e lugares de responsabilidade do velho arraial Espírito Santo deixando sempre após a si um traço de honra e de dignidade. Foi Inspetor Escolar por muitos anos, Juiz de Paz em 2 triênios, Delegado de Polícia por muitos e muitos anos, Presidente da Comissão Executiva em 2 mandatos; a sua vida tem sido um lutar constante em prol do progresso e do engrandecimento desta terra.
Em 1912, pôs-se acompanhado pelos seus valentes e abnegados companheiros: Padre Matias Lobato e Francisco Ribeiro de Carvalho à frente do movimento de emancipação, conseguindo após uma luta de quase um ano, sacrificando os seus interesses e a sua tranquilidade, exigida pela sua avançada idade, elevar a sua terra a categoria de município autônomo.
Francisco Machado é um destes poucos homens, sempre varonis, que aumentam em idade, aumentam em coração e em grandeza, destes homens que em maior número fariam a felicidade da nação.
Ao velho Machado, um abraço pelo aniversário do jornal.
Francisco Machado foi, segundo Aurelio Antunes, no livro “Viagem No Tempo”, “o principal e incontestavel líder da emancipação politica de 1912”.
Ainda segundo Pedro X Gontijo, ocorreram três atos marcantes do ‘Patriarca’ que influenciaram severamente o futuro da pequena localidade que se tornaria Divinópolis.
O primeiro, quando influiu decisivamente na alteração do ramal da Estrada de Ferro Oeste de Minas de Albert Isacson para o Arraial do Espírito Santo. Várias vezes, foi a cavalo até a nova Capital, Belo Horizonte, apresentar as condições favoráveis de Divinópolis para tamanha obra.
A segunda, foi seu próprio ato de aderir à causa da criação do Município. Sem ela “toda ideia a respeito seria vã e inútil”.
A terceira, ocorreu no próprio Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, diante do então Presidente do Estado, sr Júlio Bueno Brandão e da comissão estabelecida pela emancipação. O Presidente estava dando ares de insensibilidade à causa, quando Francisco, com muita audácia, interpelou a fala do governante, de forma extravagante e até mesmo um pouco deseducada. Não se sabe realmente as palavras proferidas naquele dia, mas tais foram suficientes para que pouco tempo depois Bueno Brandão deu causa ganha, e o arraial se emancipou.
Na reunião de criação do Município, quando discutia-se qual nome seria adotado para aquela terra, ainda sugeriu o nome ‘Alexandria’ para a nossa cidade. O nome acabou não sendo o escolhido, obviamente, mas ressalta alguns atos deste senhor em favor do município.
Faleceu em sua residência, no Largo da Matriz, atual Praça Dom Cristiano, a “Praça da Catedral”, onde viveu durante toda sua vida, em 14 de setembro de 1931, aos 91 anos de idade, deixando uma longa geração de filhos, netos e bisnetos, e uma imensa linhagem até os dias de hoje.
Em sua homenagem, o viaduto da Avenida 1º de Junho, que liga o centro ao Bairro Esplanada recebeu o nome de Viaduto Francisco Machado Gontijo, erguido na administração de um de seus netos, Galileu Teixeira Machado.