Conheça a historia desta praça e uma bela historia de amor que foi publicada em um jornal da cidade em 1946.
A “Praça da Estação” em Divinópolis, Minas Gerais, é um espaço público que evoca memórias de tempos antigos e é comparada em beleza clássica à “Praça da Liberdade” em Belo Horizonte. Este local icônico, cujo ajardinamento foi autorizado em 16 de janeiro de 1937, foi posteriormente renomeado para “Praça Benjamin Constant” e inaugurado em 1939.
Ela existiu até dar lugar a antiga Rodoviária que posteriormente virou Pronto Socorro e hoje abriga o SAMU e mais algumas unidades de saúde.
No fim leia a bela história de amor que envolve esse local.
A Beleza da Antiga Praça
Na época de sua inauguração, a Praça da Estação era um dos pontos mais agradáveis e belos de Divinópolis. Com um romântico coreto e suntuosos jardins, tornou-se um local querido pela comunidade. Infelizmente, apesar da disponibilidade de muitos lotes vagos, a praça foi demolida para dar lugar à antiga estação rodoviária, que posteriormente foi transformada em Pronto Socorro. Hoje, o espaço é conhecido como “Praça Pedro X. Gontijo”, em homenagem a um ilustre morador da esquina, cujo sobrado abrigava a residência e a “Farmácia Maria Auxiliadora”.
Memórias Vivas
Um ângulo diferente da antiga Praça da Estação revelava seus lindos jardins, coreto, bancos, lago e um bonito gradil de concreto. Ao fundo, os sobrados das famílias Notini e Gontijo eram bem visíveis, com o Edifício Jovelino Rabelo à direita, na esquina. A praça, originalmente de terra batida, era um local onde se armavam circos de cavalinho e parques de diversão. Foi também um espaço onde as crianças de antigamente brincavam de “bolinhas de gude”, bilosca, pião e jogavam peladas de futebol com bolas improvisadas de capota e até de meias.
Um Ícone de Lembranças
A praça possuía um coreto que se tornou um ícone nas lembranças dos moradores da cidade. Aos sábados, domingos e feriados, uma banda de música se apresentava para alegrar os frequentadores. Este conjunto – praça e coreto – era um ponto de encontro para confraternizações e até conquistas amorosas, muitas das quais resultaram em casamentos.
O Progresso da Cidade
Enquanto a Praça da Estação testemunhava momentos de alegria e união, Divinópolis dava passos de gigante rumo ao progresso. A memória desse espaço, com suas belezas e histórias, permanece viva na lembrança daqueles que vivenciaram seus melhores momentos. Hoje, ao relembrar a Praça da Estação, honramos um pedaço importante da história de Divinópolis, que continua a inspirar saudade e admiração.
1946: Um romance na Praça da Estação
Texto abaixo assinado por A.B.G. publicado no Divinópolis Jornal de 1946
“Faz alguns meses que eu, sem o querer, por um desses sucessos não muito raros, deparei com um caso romântico.
Fazia calor. O Jardim, entretanto, parecia deserto. Sentei-me num banco e, quando me congratulava com a solidão repousante e acolhedora, eis que vejo quase ao lado, um rapaz que, pelo aspecto me chamou a atenção. Firmei os olhos e pude ver que lia qualquer coisa.
De onde estava, era-me possível observá-lo sem ser visto.
Tinha louros cabelos, era bem proporcionado e mostrava semblante preocupado.
Terminou a leitura, esteve algum tempo com o papel entre as mãos como mergulhado num sonho. Levantou-se, fez um gesto de pô-lo no bolso e se encaminhou para a Estação. Segui-o com os olhos, entrou e desapareceu na penumbra.
Levantei também e, ao passar junto ao banco em que ele estivera, vejo no chão o papel, deixara-o cair. Apanho-o ligeiro e apertei o passo. Não mais o alcancei…
O que diria aquele papel???? Venci o escrúpulo e abri-o: era um bilhete!
Transcrevo-o, com a discrição de omitir nome:”
“I…., você, decerto, ficará surpresa ao receber esse bilhete. Não é para menos… Nós só nos conhecemos de vista; assim mesmo de olhares furtivos, quando acontece de nos encontrarmos. Mas, de qualquer modo, eu precisava, eu sentia uma necessidade inadiável de escrever-lhe alguma coisa. Isso seria para mim quase um desabafo.
Mas, afinal, que quer dizer tudo isso? – perguntará você. Procurarei exprimir, se é que conseguirei fazer.
Desde o primeiro dia em que a vi, apoderou-se de mim uma alegria e um encantamento. Eu a amo como jamais me julguei capaz de fazê-lo!
Mas, não existe amor, que não anseie ir além das confissões mudas de um bilhete. Para mim, você está muito além da vida que tenho. Sendo essa a razão que me impede de revelar-lhe o meu nome, de dizer quem sou…
Você se rirá, talvez, de tudo isso ou me julgará um louco. Eu, infelizmente, nada mais posso dizer-lhe, senão que continuarei a amá-la em silêncio, sem confessar-lhe de viva voz, todo meu amor.
A mim, já que não pode ser de outra maneira, me bastará vê-la sempre, de longe, e convencer-me que estarás comigo no meu coração. Adeus!
Eis tudo o que dizia o bilhete, apesar de procurá-lo como agulha em palheiro não mais o vi.
Publico-o então, porque talvez assim o bilhete chegue, finalmente, ao destinatário.
( texto assinado por A.B.G. publicado no Divinópolis Jornal de 1946)