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Atacante do Atlético pede ajuda para voltar ao bom futebol.

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Eduardo Vargas não é de dar entrevistas. Mas se preparou para falar do momento de forte pressão. Em entrevista, ele respondeu abertamente sobre o tormento da expulsão na Libertadores há 15 dias, a multa aplicada pelo clube, o afastamento dos jogos, e a busca por ajuda mental para a missão de dar a volta por cima no Galo.

“Estou focado em reverter toda essa situação. Tentar, nesses últimos três meses (de 2022), voltar a ser convocado (relacionado pelo Cuca), e mostrar toda a vontade que eu tenho de mudar a situação. E aí eles (Atlético) vão dizer se estou bem. Se eles me querem, vou ficar”.

Aos 32 anos, Vargas renovou o contrato até dezembro de 2024. Terminou a temporada passada em alta, com participação direta no título do Galo da Copa do Brasil (substituiu o lesionado Diego Costa). O cartão vermelho diante do Palmeiras (nos acréscimos), entretanto, o colocou na rota de fúria da torcida.

E ainda reverbera. São dois jogos seguidos afastado da lista de relacionados (Coritiba e Goiás). Está em baixa, vive momento ruim (ele próprio sabe). Diz ter entrado em depressão e ainda digere o dia a dia longe dos filhos. Uma espiral de problemas.

A saída foi buscar ajuda profissional e buscar forças para mudar a atual fase. O atacante trabalha diariamente com Lincoln Nunes, preparador mental especialista em performance esportiva.

Vargas criou uma nova rotina. Acorda no raiar do sol, às 6h, e começa a ativar a parte física e psicológica para os treinos na Cidade do Galo. Local onde tentará recuperar a confiança e retornar aos jogos.

“Uma das minhas funções é demonstrar para ele que ele não foi a peça totalmente fundamental da eliminação. Claro que ele faria diferente se voltasse na situação. Ele quer mudar, é um desejo grande. Recuperar a confiança dos torcedores, do clube. O passado não se muda, mas o futuro pode ser escrito de forma diferente. É importante também não distorcer a realidade na mente dele. Digo isso porque o Palmeiras teve dois jogadores expulsos, importantes, e o Palmeiras foi mais eficiente nos pênaltis” – analisa.

“Sabemos da capacidade do Vargas em cobrar pênaltis, mas ele não pode se sentir o único culpado da eliminação do Galo” (Lincoln Nunes)

Ao lado do profissional, Eduardo Vargas também passou a ter o suporte do neurocientista Fabiano de Abreu Agrela, também CEO de uma empresa de assessoria de imprensa, PhD em neurociências e mestre em psicologia. Fabiano faz estudos com outros jogadores, como o lateral Emerson Royal, lateral ex-Atlético e hoje no Tottenham. Royal fará um exame completo de neuroimagem buscando melhorar a performance. É um caminho estudado também por Vargas.

“O tamanho do impacto emocional do jogador tem variáveis, entre elas, condições genéticas e história de vida. O que fazemos é analisar essas variáveis, entender a sua história de vida e, se necessário, pedir exames, entre eles o genético e de neuroimagem. O estado mental do atleta tem relação com a produção de neurotransmissores e esses com o controle do pensamento mediante ao passado, à precursores genéticos, assim como alimentação e outros fatores e, sabe-se que a condição mental interfere não apenas na condição física, como também na criatividade, tomada de decisão, foco e memória, que são os meios vinculados à habilidade” – disse o PhD.

Como você encarou o protesto de torcedores?

“Nunca tinha acontecido isso comigo. Nem no Grêmio, em 2013. Nem em outro time. Muito difícil acreditar no que aconteceu. Mas, eu respeito a torcida. A gente tem que ser cobrado. Então, depois que eles me cobraram, eu respondi. Estou no meu direito de responder algumas coisas. Mas, depois me senti chateado. Porque, como te falei, nunca aconteceu isso comigo. Eu estou em uma fase ruim, mas por isso, eu já me desculpei com meus companheiros, meu treinador Cuca, com Rodrigo” (Caetano, diretor de futebol).

“Não tive a oportunidade de me desculpar com a torcida. Quero dizer que estou muito arrependido por causa da eliminação da Libertadores. Pedir desculpa a todo torcedor que sempre está apoiando no estádio. Fiquei chateado”.

Você sentiu, em algum momento, que a cobrança extrapolou? Sentiu medo?

“Nunca tive esse medo. Sempre vou com um amigo no CT pro treino, porque me ajuda muito. Aí eu falei pra ele pra eu ir sozinho, porque eu tenho que enfrentar. Se eu tenho que enfrentar alguém, vou enfrentar sozinho. A gente ficou sabendo que eles iam manifestar. Então, fui sozinho, parei, conversei um pouco. Eles manifestaram, eu aceitei. E, tranquilo… Nunca tive medo deles me baterem. Acho que eles também respeitam o jogador”.

Depois de alguns dias, olhando para trás, o que tem a dizer da expulsão?

“Então, eu sou um dos principais que podem bater pênalti. Então, eu entrei com essa vontade… acho que entrei no minuto 76 (entrou aos 34 minutos do segundo tempo). Entrei com muita vontade de querer ganhar esse jogo. Pra não ter de disputar os pênaltis. Mas, sentia que nos pênaltis eu era o principal que ia bater. Na primeira falta (que comete), pra mim, não era cartão amarelo, porque eu me afastei do jogador. Na segunda, eu levei uma falta e ele (árbitro) não marcou. Então, eu perdi a cabeça, fui atrás do jogador (do Palmeiras). Acho que o Allan cometeu a falta”.

“Perdi a cabeça total. Aí fui me manifestar com o juiz. Nunca passou pela minha cabeça que ele ia me expulsar. Depois, cheguei no vestiário com cabeça quente e totalmente arrependido de ter sido expulso”.

Como foi entrar no vestiário do Atlético após aquilo? Conversou com o Cuca?

“Não falei com o Cuca. Só no seguinte dia. Eu fui lá pedir desculpas pra ele, pro Rodrigo. E falei tudo que eu sentia, que eu senti. Mesma coisa que estou falando agora. Que eu estava muito arrependido. Nunca prejudicaria um treinador ou um companheiro com isso. Nunca passou pela minha cabeça”.

Você foi multado pelo Atlético depois… Como foram as idas ao CT?

“Eu chegava no CT me sentia meio, sabe, patinho feio? Não queria fazer nada, não tinha muita, me sentia sem vontade, sabe? Nervoso… mas, aí eles me falaram que eu ia ser punido. Depois, o Rodrigo me chamou pra falar que eu não ia pro jogo”.

Você foi multado pelo Atlético depois… Como foram as idas ao CT?

“Eu chegava no CT me sentia meio, sabe, patinho feio? Não queria fazer nada, não tinha muita, me sentia sem vontade, sabe? Nervoso… mas, aí eles me falaram que eu ia ser punido. Depois, o Rodrigo me chamou pra falar que eu não ia pro jogo”.

Você diz que teve depressão…

“Depois da expulsão, eu cai tipo na depressão. Me sentia com vontade de nada. Não queria sair na rua, não queria ir no supermercado. Inclusive meus filhos vieram no fim de semana. A gente ficou aqui com meus amigos, filhos deles. Saímos aqui no parquinho, sendo que eu podia ter levado no shopping, sabe? Qualquer lugar pra eles desfrutarem. Mas não tinha vontade. Porque eu sabia que talvez o atleticano, o torcedor, ia me olhar com uma forma diferente”.

“O acompanhamento tá me ajudando muito. Tá mudando meu pensamento, minha maneira de pensar. A gente acorda às 6 da manhã pra ele dar um treino, uma ativação pra ir mais forte, mais confiante no treino.”

A intenção é ficar no Atlético?

“Por isso trabalho para ele me ajudar. Estou focado em reverter toda essa situação. Tentar, nesses últimos três meses, voltar a ser convocado (relacionado pelo Cuca), e mostrar toda a vontade que eu tenho de mudar a situação. E aí eles (Atlético) vão dizer se estou bem. Se eles me querem, vou ficar”.

“Eu gosto de desafios, sabe? Coloquei na minha mente da minha vontade de ficar aqui. Mas é o tempo que irá decidir”.

Porque o Vargas que virou o ano não é o mesmo de 2021?

“Eu acho que relaxei. Como posso explicar… Me sentia à vontade, sabe? Se eu ia mal em um jogo, não sentia o que eu sentia ano passado quando ia mal também. Ano passado, se eu fazia um jogo mal, não fazia um gol, eu dava tudo na semana, eu me cuidava, me alimentava bem. Agora, também, comecei a a me alimentar bem para estar no estado físico ideal que eu tinha ano passado”.

Então você estava acomodado?

Sim, estava.

É aquela história de que, quando você desfruta de um banquete que foi 2021, vira o ano sem fome?

“Não é isso. Sempre tenho fome. Mas é isso que falei. Às vezes… Eu passei por uma separação com a minha ex-mulher. Não estou colocando isso como desculpa. Mas afeta estar longe dos filhos. Eles mudaram para Porto Alegre. São muitas coisas, e aí relaxei um pouco mais”.

Seleção chilena estar sem perspectivas ajudou nesse quadro?

“Não, a seleção não tem nada a ver com essa situação, na verdade”.

Como projeta o fim do ano?

“Feliz. Com um novo Vargas acabando a temporada. Tentar ajudar o time a entrar nos quatro melhores do Brasileiro, para ter a vaga na Libertadores. E deixar outra perspectiva na mente do torcedor e na mente do pessoal do clube”.

O projeto se torna mais difícil pela quantidade de atacantes?

“Tem muitos atacantes. Mas, na verdade, é que cada clube que eu fui, tinham sempre muitos atacantes, e sempre lutei para ter uma vaga. Eu respeito muito meus companheiros. Mas vou brigar para ter as minhas convocações, e ter a vaga de titular”.

FUTEBOL MINAS FM