Em 109 anos, muitas histórias podem ser contadas. Mas um importante feito do aniversariante do dia celebra 50 anos da conquista em 2021: o título do Campeonato Mineiro de 1971. Foi um momento especial do América-MG, que encerrou um jejum de 14 anos do clube e deu a volta olímpica pela primeira vez no antigo, mas então jovem, estádio Mineirão. Uma promessa foi feita. E foi paga.
“O título de 1971 é fundamentalmente importante porque o América estava desde 1957 sem ganhar. A torcida estava perdendo seus filhos para o Cruzeiro, porque, para o Atlético, os pais americanos, na época, não aceitavam. Esse título foi uma restauração para a torcida – conta o historiador Carlos Paiva, autor da Enciclopédia do América”.
“Em 1971, foi montado um time muito poderoso, criou uma camisa nova, que foi feita em 1970, mas adotada definitivamente em 1971 e considerada a mais bonita do Brasil. Perderam a chance de fazer a homenagem a essa camisa pelos 50 anos em 2020. Poderiam fazer agora pelos 50 anos do título de 1971. Foi uma conquista invicta. O entusiasmo da torcida foi muito grande. Considero o título da nova geração, na época” – acrescenta Paiva.
O América havia sido campeão mineiro pela última vez em 1957. Depois disso, viu se estabelecer a hegemonia de Atlético-MG e Cruzeiro. Foram quatro taças do Galo e oito da Raposa. O único intruso foi o Siderúrgica, em 1964, um ano antes da inauguração do Gigante da Pampulha. O América foi vice.
A retomada do Coelho foi triunfal. Uma campanha invicta, contra o Atlético de Telê e o Cruzeiro de Tostão. O Estadual foi disputado no sistema turno e returno. Em 22 jogos, o time somou 16 vitórias e seis empates. O clube teve ainda o artilheiro da competição: Jair Bala, com 14 gols.
O time base: Élcio; Misael, Vander, Café e Cláudio; Pedro Omar e Dirceu Alves; Hélio, Amauri Horta, Dario Alegria e Jair Bala.
Era o começo do “Abacate-Atômico”, apelido dado à equipe, que havia lançado na temporada anterior o uniforme verde e preto. Apesar da campanha invicta, o América só se sagrou campeão na última rodada. E precisou ficar na torcida pelo histórico rival Atlético. Ou melhor, torceram contra o Cruzeiro.
“Nenhum americano torceria pelo Atlético naquela época. Torceram foi para o Cruzeiro perder” (Carlos Paiva
Um dos personagens dessa conquista, o ex-atacante Dario Alegria relembra uma passagem curiosa no jogo contra o Galo, no primeiro turno. Saiu do hospital para a ponta esquerda do América.
– Eu estava com uma distensão, internado no Hospital Arapiara. Me levaram para a partida contra o Atlético, aquele que seria campeão brasileiro e falaram comigo: “Entra para você ganhar o bicho”. Claro que fui. Peguei uma bola na ponta esquerda, passei pelo Humberto Monteiro. O Jair Bala levantou os braços pedindo a bola. Eu cruzei a bola e ela entrou no ângulo de Renato. Ganhamos de 2 a 1 – recorda Dario Alegria, hoje com 77 anos, morador de Paracatu.
A campanha também foi marcada pela saída do técnico Biju, que precisou deixar o comando do time por questões de saúde. Auxiliar técnico, Henrique Frade assumiu. Precisou recuperar os jogadores emocionalmente.
– O Biju recebeu recomendação médica para ficar em casa. Ele teve que sair. Houve um pouco de baque para a torcida e pelo próprio time, porque tudo vinha dando certo. Mas o América se recuperou rapidamente – ressalta Carlos Paiva.
A vitória no segundo turno sobre o Atlético de Telê Santana, campeão mineiro no ano anterior e que viria a ser campeão brasileiro daquele ano, reanimou o time. O América tinha chance de ser campeão com uma rodada de antecipação. Mas acabou empatando com o Fluminense de Araguari (1 a 1) na penúltima rodada do segundo turno, trazendo o Cruzeiro novamente para a disputa da taça.
No dia seguinte à conquista, jogadores do América pagaram uma promessa, feita pelo preparador físico Roberto Castro.
Em momento delicado da campanha, Castro foi até Roça Grande, em Sabará. Visitou a Sala dos Milagres e pediu a Santo Antônio pelo sucesso do Coelho no campeonato. Se a taça viesse, os jogadores e integrantes do clube fariam uma caminhada de oito quilômetros até a igreja.
Na manhã de segunda-feira, um ônibus com os campeões deixou a Alameda e partiu rumo ao trevo de Sabará. Dario Alegria, também conhecido como “Leopardo das Alterosas”, recorda aquele dia:
“Foi uma conquista especialíssima. E nós fomos a pé para Roça Grande pagar a promessa. Levamos muitas doações de mantimentos para o povo que ficava na igreja. Foi jogador, comissão técnica e dirigente. Lembro que tinha muita gente na porta da igreja.” (Dario Alegria).
No site do Mineirão, é possível torcedores relatarem o que viram de determinada partida. Na ficha de América 3 x 2 Uberlândia, Reinaldo Luiz Moreira contou como foi o jogo do ponto de vista de um menino então com 10 anos em 1971:
“Eu tinha 10 anos de idade e já frequentava o Gigante da Pampulha. Neste jogo, estava no Mineirão com meu saudoso pai na geral, atrás do túnel do América, onde sempre ficávamos. Em poucos minutos, logo após a nossa chegada, entra em campo o meu América com sua camisa verde e preta (tinha sido escolhida a camisa mais bonita do futebol brasileiro pela revista Placar). Do outro lado, entrava o Uberlândia. Bola rolando, jogo tenso. O América sai na frente. Vibrei bastante com meu pai. Depois, no segundo tempo, o Uberlândia veio para cima bem empolgado e consegui o empate. Aí o América acordou e logo em seguida fez o segundo gol. Mais alegria e tranquilidade. E veio o terceiro gol. Jair Bala de bicicleta. Já gritávamos é campeão fim de jogo. Saímos em festa do Mineirão e fomos para Praça Sete comemorarmos. Vi ali o meu primeiro título. América campeão de 1971.”