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Finanças: O “vai ou não vai” da Selic

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Olá, investidor.

Aqui é a Marilia Fontes, analista de renda fixa e sócia-fundadora da Nord Research.

Já reparou como é difícil manter o equilíbrio quando o assunto é educação dos filhos? A gente tenta passar uma imagem de austeridade e respeito, mas, no final, fica muito difícil não dar uma amolecida.

Certo dia, minha filha queria brincar com um montinho de papéis picados no meio da sala. Eu disse que podia, mas que ela teria que recolher tudo depois, se não ficaria de castigo, sem poder assistir TV durante uma semana.

Nem preciso dizer que ela pegou meia dúzia de papéis e deixou todo o resto espalhado na sala, preciso? Essas crianças…

Resultado, eu a deixei um dia sem ver a TV e depois fiz ela prometer que nunca mais faria isso. Fui mole? Acho que fui…

Quando a gente anuncia que fará o que for preciso, esse discurso precisa ser acompanhado de uma atitude.

Com o tempo, as pessoas vão percebendo a discrepância dos dois e você acaba perdendo credibilidade.

Não tem nada pior para os pais que querem educar seus filhos do que perder a credibilidade. Controlar as birras futuras se torna uma tarefa muito mais difícil e exige atitudes muito mais incisivas.

Qualquer similaridade do que eu fiz com a minha filha com a reunião do Copom de ontem, 16, não é mera coincidência. Tem alguém picando papel na sala e esse alguém se chama INFLAÇÃO.

Copom sobe a Selic para +11,75 por cento

Ontem, o Banco Central (BC) anunciou uma nova alta da taxa Selic, de 100 pontos base, para +11,75 por cento. A alta já era esperada pelo mercado, mas o comunicado me surpreendeu.

Ele começou dizendo que o cenário externo e a guerra tinham piorado bastante a perspectiva de inflação. Seguiu dizendo que todos os dados de inflação brasileira estavam saindo bem acima do esperado. Disse também que o mercado estava esperando uma inflação bem acima da meta para 2023 (mercado espera +3,7 por cento, enquanto a meta é +3,25 por cento).

Opa, então parece que temos um Banco Central preocupado, que será duro em combater a inflação, não é mesmo? Não…

Eu nunca vi um Comitê de Política Monetária com atitudes tão divergentes do discurso. Por um lado, além de ter subido os 100 bps nessa reunião, ele avisou que fará uma nova alta de 100 bps na próxima reunião, que levará a Selic para +12,75 por cento. Isso poderia ser visto como uma atitude dura para fortalecer o combate à inflação — que anda bem mais alta que o esperado.

Porém, durante o comunicado, a linguagem amoleceu. Várias passagens mencionavam que a inflação estava alta por conta de um choque nos preços das commodities, e não por uma alta disseminada em vários itens. Disse também que o cenário pedia parcimônia na hora de pensar em mais ajustes. Por fim, avisou que o que já estava esperado pelas projeções do Focus era o suficiente para levar a inflação para a meta, ou seja, uma Selic de 12,75 por cento.

Ou seja, embora ele tenha jogado mais uma alta de 100, ele avisou que a Selic pararia por aí. Oras, você está sendo duro ou mole? Vai subir o que precisar ou não vai?

Postado originalmente por: Nord Research