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Finanças: MGLU3 vs. BHIA3: qual a pior?

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Com a queda em bloco das ações das varejistas desde 2021, muitos investidores passaram a alimentar expectativas e especulações em torno do possível momento de recuperação para as empresas do setor — em especial, para duas queridinhas do mercado: Magalu (MGLU3) e Grupo Casas Bahia (BHIA3), que apresentam baixas, desde então, de -97% e -93%, respectivamente.

Será que realmente existe uma luz no fim do túnel para os resultados dessas empresas e, consequentemente, para suas ações?

Antes de tratarmos de cada uma individualmente, é importante analisarmos o que aconteceu de fato com o setor de varejo nos últimos anos para justificar as expressivas quedas dos papéis no período. 

Taxa de juros é a mãe do varejo

Sem muita enrolação, o principal fator que justifica o movimento visto pelas ações da varejistas foi o início do ciclo de alta dos juros no Brasil. 

Após dar continuidade aos cortes da Selic entre 2019 e 2020, saindo de 6,5% para 2%, o Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros em seus menores patamares por algumas reuniões do Copom, em meio aos impactos negativos da pandemia do Covid-19 para a população e economia no país. Até o início de 2021. 

Com a inflação dando sinais claros de descontrole, o BC precisou agir — e de forma agressiva. Entre 2021 e 2023, a autoridade monetária elevou a Selic de 2% para 13,25%, o que trouxe impactos diretos para diversos setores, em especial, o varejo. 

Gráfico da Selic versus Índice de consumo desde 2018.
 Fonte: Bloomberg

Os juros elevados tornaram o “custo” do dinheiro mais alto, o que resultou em uma forte compressão do consumo por parte da população brasileira nos últimos anos, principalmente por bens supérfluos. 

Mesmo com o crescimento das vendas digitais pelas varejistas ao longo da pandemia, ele não foi suficiente para compensar, integralmente, a menor demanda observada, que acarretou em menores receitas para essas empresas. 

Com a inflação ainda alta, muitas delas também tiveram dificuldade no repasse de preços ao consumidor e acabaram também apresentando redução em suas margens brutas. 

Para completar, o cenário de juros ainda elevou as despesas financeiras (juros de empréstimos e financiamentos), impactando drasticamente as varejistas que possuíam maiores alavancagens. 

Com maiores despesas financeiras, cada vez menores foram os lucros líquidos dessas companhias — até o momento em que, na maioria dos casos, o lucro se tornou prejuízo. 

Esse foi o principal impacto nos fundamentos das empresas do setor — isso sem contar o fato de que os juros em alta também afetam diretamente o valuation das ações, ao passo que elevam as taxas de desconto dos modelos de precificação de analistas de mercado e, com isso, reduzem os chamados “preços justos” dos papéis.

Como deu para perceber, a taxa de juros é a mãe das varejistas. Em cenários de alta, elas vão mal, enquanto em cenários de baixa, elas tendem a ir melhor — se, obviamente, forem boas empresas.

Dedicação total a você (?)

Em movimento de retorno às origens, Via voltou a se chamar “Grupo Casas Bahia” — inclusive mudou o código de suas ações de VIIA3 para BHIA3.

Essa é apenas uma das mudanças que a varejista vem implementando recentemente para ajustar a rota e voltar a apresentar bons números operacionais e financeiros para seus acionistas. O histórico nos últimos anos, entretanto, não é nada positivo e segue colocando um ponto de interrogação na cabeça dos investidores. 

Além de diversas polêmicas relacionadas à família controladora, o Grupo Casas Bahia vem acumulando uma série de resultados negativos, inclusive alguns deles sendo divulgados com certas “inconsistências” contábeis e outros pressionados por processos trabalhistas. 

Não bastassem os problemas internos, os fatores macro já comentados anteriormente contribuíram para agravar ainda mais a situação operacional e financeira da empresa, que, apesar de ter mantido uma estabilidade em sua receita com as vendas digitais compensando a queda no varejo físico, viu seu lucro bilionário de 2020 se transformar em um prejuízo acumulado de mais de R$ 800 milhões nos últimos 12 meses. 

No 2T23, a dona da Casas Bahia e da Ponto (antiga Ponto Frio) seguiu vendo suas margens serem comprimidas e entregou um prejuízo de R$ 492 milhões. Entretanto, na mesma divulgação, a companhia anunciou um plano de transformação até 2025, visando estabilizar suas operações, aumentando a geração de caixa e retomando sua rentabilidade. 

Para isso, além de mudanças estruturais (fechamento de até 100 lojas, redução de despesas de pessoal e de estoques, entre outras) que visam um incremento de mais de R$ 1 bilhão em seu LAIR (lucro antes do imposto de renda), o Grupo Casas Bahia também anunciou um follow-on visando captar até R$ 2 bilhões.

O mercado, porém, não comprou tão bem a ideia da empresa e a oferta movimentou apenas R$ 620 milhões, com suas novas ações sendo precificadas por R$ 0,80.

Com os planos anunciados e a mudança de nome, o objetivo da companhia é claro: focar em seu core business e se tornar um player especialista em seu segmento (eletrodomésticos, móveis etc.). Quem sabe, assim, ela poderá enxergar um futuro mais promissor para seus resultados e ações adiante. 

Contudo, ainda é cedo para afirmar que o Grupo Casas Bahia conseguirá, de fato, implementar todas essas mudanças e obter êxito em seu plano de transformação.

As quedas de suas ações são apenas um reflexo do que já vem acontecendo há mais de três anos, com suas cotações acompanhando de perto a degradação de seus resultados. 

Histórico de ações e lucro do Grupo Casas Bahia (BHIA3).
Fonte: Bloomberg

Sem visibilidade clara de que voltará a gerar valor aos seus acionistas, recomendamos que fique de fora de BHIA3.

MagaLUA ficou para depois

Como o Grupo Casas Bahia, o Magalu (antiga Magazine Luiza) é mais uma varejista que vem sofrendo com fatores internos e externos. A única diferença é que a empresa não se envolveu em grandes polêmicas nos últimos tempos como sua concorrente.

No entanto, Magalu apresentou alguns erros gerenciais, como apostar em uma retomada mais acelerada no pós-pandemia e realizar uma gestão equivocada em seus estoques, o que resultou em um número elevado de liquidações e, consequentemente, em menores margens de lucro. 

Apesar disso e de pressões macroeconômicas, a companhia segue entregando crescimento (mesmo que leve) em suas vendas no 2T23, que é fruto de um grande e resiliente ecossistema que vem sendo montado e pelas vendas em seus canais digitais, que também compensaram o menor desempenho de suas lojas físicas. 

Vendas totais e nos canais digitais do Magalu no 2T23.
Fonte: Magalu

Ainda assim, as maiores despesas operacionais pressionaram o Ebitda do Magalu, que caiu -38% no 2T23, enquanto o cenário de juros elevou suas despesas financeiras, acarretando mais um forte prejuízo de quase R$ 200 milhões no período — um trimestre após apresentar o maior prejuízo de sua história. 

A queda persistente em sua rentabilidade segue trazendo impactos significativos para as ações da varejista, que segue (muito) longe das máximas atingidas em 2021, quando o papel era negociado a R$ 25.

Histórico de ações e lucro da Magalu (MGLU3).
Fonte: Bloomberg

Em situação semelhante à do Grupo Casas Bahia, ainda não enxergamos um momento favorável para ter ou abrir posição em Magalu. Sendo assim, também recomendamos que fique de fora de MGLU3.