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Blog do Leo Lasmar – Sem inventar e com o titular, o time vence.

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Foi um Atlético diferente. Daqueles que há muito o torcedor não via. Um Galo, como o próprio hino orgulha em dizer, forte e vingador. Forte, para mostrar que, apesar dos fracassos recentes, ainda é um dos melhores times do país. E vingador, para dar uma resposta à altura à enxurrada de críticas a quem segue como seu comandante.

No ritmo de mais de 50 mil vozes, a melhor atuação da temporada no 2 a 0 contundente sobre o Flamengo.

Aliás, tudo parecia diferente na região da Pampulha, em Belo Horizonte, nesse domingo. Desde horas antes do jogo, no movimento intenso nos arredores do Mineirão, até a negativa em abandonar a arquibancada do Gigante longos minutos após o apito derradeiro.

A cada expressão fechada que se olhava, a cada grito ensurdecedor e interminável que se ouvia, o sinal era claro: até podia ser jogo de 13ª rodada de Brasileiro, mas para o atleticano, era final. E não há nada mais simbólico disso do que o balanço enérgico, preciso e constante do Gigante vestido de preto e branco.

Muito pela rivalidade histórica com o adversário, claro, mas sobretudo pelo momento alvinegro. Diria ser bem provável que a virada de domingo para segunda tenha sido a primeira noite bem dormida de Turco Mohamed em vários dias. Como sofreu o treinador na prévia desta partida. Das críticas, antes somente externas, ao clima claramente conturbado no alto escalão da Cidade do Galo. Tudo parecia indicar sua queda neste domingo.

Um cenário de pressão tamanha que não bastava apenas vencer um dos melhores elencos do país para seguir empregado. Era preciso convencer, jogar como nunca, voltar a encantar como em 2021. Noventa minutos para tudo ou nada. E o tudo veio, graças ao único laço que talvez tenha até se fortalecido no Atlético diante tudo o que aconteceu recentemente.

O elenco nunca escondeu que gosta de Mohamed, e foi em campo que veio a resposta clara do verdadeiro respaldo ao treinador.

“Ele merecia essa vitória. É o mínimo que ele merecia. É um cara muito do bem, e quando a pessoa é do bem, a gente faz de tudo pra ajudar. Pode ter certeza que vamos dar a vida por ele” (Hulk).

Bastou o apito inicial e os primeiros minutos de jogo para perceber que não seria um domingo qualquer. A massa atleticana sempre empurra, mas estava diferente. O grito que vinha da arquibancada era quase em tom de desespero: “vai pra cima deles, Galo!”, e o Galo foi. Amassou o Flamengo no campo de defesa, numa avalanche que teve poucos minutos de descanso.

Talvez num curto espaço de tempo na etapa inicial, quando o rival conseguiu avançar e criar duas boas chances em sequência, com Andreas Pereira. Talvez no início da segunda etapa, quando o Galo tentou abaixar as linhas para se resguardar na defesa e explorar os contra-ataques. Tentou, porque o recuo não foi permitido pela torcida.

Não era dia para ser cauteloso, era dia de “Galo Doido”. A cada mínimo sinal de resposta rubro-negra, a resposta vinha em dose extra de vontade. Ora de fora para dentro, ora de dentro para fora. Se a torcida pedia o Galo em cima, o Galo ia. Se a arquibancada baixava o volume, algum jogador fazia o tradicional gesto para levantar novamente o povo, e o povo ia.

Atmosfera sob a qual Mariano deu uma aula de jogar futebol na lateral direita. No meio, Allan lembrou os grandes momentos de 2021 ao fazer uma de suas melhores atuações tanto com quanto sem a bola. Na frente, se não tão inspirados como em outras vezes, Nacho, Hulk e companhia jogaram na base da raça e tiveram momentos decisivos.

O meia abriu o placar no rebote da cabeçada de Keno, no primeiro tempo. Jogada construída com calma, paciência, qualidade. À beira da área, a bola girou da direita para o centro, do meio para a esquerda. Chegou em Arana, que levantou na cabeça do camisa 11 – que também teve atuação a ser destacada. No rebote de Diego Alves, a primeira explosão do Mineirão.

Já Hulk passou boa parte do jogo brigando com a dupla de zaga do Flamengo, mas quando teve o mínimo espaço, mostrou porque é craque. Inteligência e qualidade ímpar para só ajeitar de cabeça o lançamento de Mariano. Ademir fechou o placar e completou de vez a festa.

O Fumacinha, aliás, deu fim à seca de gols e tirou a camisa na comemoração em tom de alívio pelas (também) fortes críticas que vinha recebendo. Entrou no segundo tempo no lugar de Vargas, que voltou ao time titular após lesão e deu outra cara ao lado direito do sistema ofensivo. A formação mais próxima do que o Galo se habituou a jogar com Zaracho, que segue no DM e faz enorme falta.

Individual e coletivo funcionando, tática, técnica e raça em dia. Tudo sob a batuta de um Mohamed desta vez não tão quieto à beira do gramado, claramente nervoso. Mas no dia dos pais argentino, uma tarde de glória para ele. Até mesmo a entrada de Otávio na vaga do lesionado Jair deu outra consistência ao sistema defensivo.

E foi assim que o Galo venceu e convenceu no Mineirão. Na melhor atuação do ano. Na maior resposta que poderia haver para Turco. O Atlético encerra a incômoda série de quatro tropeços seguidos, a maior desde 2020, e o técnico ganha o alívio de mais alguns dias de trabalho. Resta ver até quando. Quarta-feira tem mais Flamengo. E Mohamed sabe que para ele, a partir de agora, tudo será final.

Por Marcelo Cardoso – GE

FUTEBOL MINAS FM