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Finanças: Uma desaceleração a comemorar?

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Atenuação da situação em países-chave é bem recebida pelo mercado

Um sopro de otimismo

Desaceleração no número de mortes por Covid-19 em alguns países — Espanha, França e Itália — dá espaço à tomada de risco nesta segunda-feira. Fatalidades no Estado de Nova York também tiveram queda, embora Trump alerte que ainda há dias difíceis pela frente.

Com esse pano de fundo, mercados asiáticos tiveram noite positiva e o front europeu tem manhã de alta — puxado, aliás, por setores fortemente impactados pela pandemia, como indústria automotiva, viagens e lazer. Futuros de NY também começam o dia no azul.

Devemos ver reflexos da melhora de humor no mercado local. Sem, contudo, descuidar do nosso próprio fluxo de notícias.

Queda de braço (I)

Atenções voltadas ao Palácio dos Bandeirantes: com a quarentena determinada em São Paulo terminando nesta terça-feira, dia 7, a pergunta do dia é e agora?

A ver. Tendência é de prorrogação das medidas — com sorte, com alguma sinalização de como e quando haverá condições para começar a flexibilizá-las. O rumo paulista, por sua vez, pode ajudar a dar o tom da atuação no restante do País.

O desafio é grande: de um lado, manter a propagação do vírus em ritmo compatível com a capacidade de atendimento; do outro, desestrangular a atividade econômica — cujos impostos decorrentes serão necessários à sustentação dos esforços de combate à infecção.

Até aqui, virtualmente não tem havido discussão. Com o andar da carruagem, porém, o diálogo entre secretários de saúde e de fazenda deve melhorar: as medidas implementadas pelo primeiro grupo, justas e necessárias, dependem dos recursos administrados pelo segundo.

E eles precisam vir de algum lugar.

Queda de braço (II)

Outro impasse que persistirá um pouco mais é o que impera entre os membros do cartel produtor de petróleo: fomos para o final de semana com a expectativa de uma reunião de emergência ocorrendo nesta segunda-feira, que acabou adiada.

O motivo do adiamento, dizem, é a péssima relação entre Arábia Saudita e Rússia — exatamente a mesma causa-raiz do último choque de oferta do óleo negro.

Não é o tipo de situação que parece fadada a perdurar: logo em seguida ao choque de oferta causado pela abertura de torneiras sauditas, derrubando preços, o agravamento da pandemia em curso se traduziu em expressiva queda de demanda… derrubando preços de novo.

Espera-se que tratativas sejam retomadas na quinta-feira, dia 9. Até lá, espere vol.

“Passa lá em casa”

Está oficialmente reaberta a temporada de programas de recompra de Ações.

Anúncios desse tipo costumam ser percebidos pelo mercado como uma sinalização bastante estridente do management das Empresas de que os preços de suas Ações não fazem sentido.

O argumento é simples: se a própria gestão, que dispõe do maior volume possível de informação sobre a situação da Companhia, decide empregar seu próprio caixa para comprar os títulos, é porque eles devem estar baratos.

Em teoria, é isso. Mas o diabo mora nos detalhes: é preciso levar em conta o montante de ações abrangido pelo programa de recompra, e também o prazo para realização das operações.

A sinalização de quem avisa que poderá comprar 0,01 por cento do total de Ações ao longo dos próximos 12 meses é totalmente diferente da emitida por quem se propõe a comprar 5, 10 por cento da Companhia nas próximas 4, 8 ou 12 semanas.

O segundo caso costuma refletir uma intenção firme. O primeiro é tão crível quanto aquele passa lá em casa que falam ao encontrar na rua alguém que não se vê há muito tempo.

Riscos e oportunidades em energia

Tenho falado bastante, nas últimas semanas, em oportunidades no setor de energia. Não é por acaso: a despeito da bagunça que uma certa presidenta causou no setor ao editar uma MP infeliz, a percepção geral é de que elétricas são um porto seguro para momentos difíceis.

Não custa, porém, ressaltar que é preciso separar o joio do trigo: geradoras, transmissoras e distribuidoras de energia têm modelos de remuneração e riscos operacionais muito diferentes entre si, e podem apresentar desempenhos bem discrepantes ao longo dos próximos trimestres.

Enquanto transmissoras têm receitas dadas e devem, portanto, passar virtualmente ilesas pelo momento atual, geradoras terão que lidar com possíveis casos de inadimplência de grandes consumidores e, eventualmente, distribuidoras.

Estas últimas, por sua vez, podem ver desencaixes significativos entre volumes de energia contratados (comprados das geradoras) e faturados (vendidos aos consumidores finais). E o mercado de curto prazo, ao qual recorreriam para comprar/vender déficits/superávits de carga está com mais vol do que a bolsa.

Além disso, as situações financeiras das empresas diferem muito entre si: a combinação de impactos operacionais médios com alavancagem financeira alta e vencimentos relevantes no curto prazo pode trazer dor de cabeça.

Ou seja: quem se posicionar sem avaliar criteriosamente o que está fazendo pode acabar levando choque.

Estamos relativamente expostos ao setor no Nord Dividendos, muito atentos à necessária separação dos riscos e oportunidades do momento.

Postado originalmente por: Nord Research