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Finanças: O Dia D da Amazon

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O que esperar das Ações das varejistas?

Saudações.

Por favor, marque na sua agenda: 10 de setembro de 2020.

A julgar pela gritaria vista no mercado ontem, os próximos doze meses serão de profunda transformação para as varejistas brasileiras. Pois bem, vamos dar o benefício da dúvida: deixe o lembrete na agenda e veremos, lá na frente, se fazia mesmo sentido ou se, como em tantos outros momentos, estávamos simplesmente diante do mercado dando a um fato repercussão muito maior do que merece.

Caso você ainda não tenha entendido, a referência é ao lançamento do Amazon Prime no Brasil, anunciado ontem.

Trata-se de um pacote de benefícios, que inclui frete grátis para todo o País e entrega em até 48 horas em aproximadamente 90 municípios. De lambuja inclui, ainda, acesso ao Prime Video (concorrência direta ao Netflix), ao Music Unlimited (concorrência ao Spotify), a livros e revistas e ao Twitch Prime (plataforma de streaming de jogos).

Tudo por 9,90 mensais. Pragmaticamente falando, mesmo que você não compre um alfinete sequer na Amazon brasileira, mas, por outro lado, assine Netflix ou Spotify, vale a pena no mínimo considerar. Eu já comecei meus 30 dias grátis…

Mas ok. E o Quico?

O Prime se trata, sobretudo, de uma muito bem pensada ferramenta de fidelização para compras na Amazon. E é aí que a porca torce o rabo… se você assinar o produto (que, novamente enfatizo, está sendo oferecido a preço de banana), qual será seu e-commerce preferencial dali em diante?

Resultado? Ações do Magazine Luiza (MGLU3) recuaram 5 por cento ontem. B2W (BTOW3) teve queda de 4,8 por cento — e sua controladora, LAME4, viu a cotação recuar em 3,2 por cento. As intrépidas VVAR3 apresentaram 3,3 por cento de desvalorização.

Frete grátis e entrega acelerada fazem uma enorme diferença — decretou o condado da Faria Lima neste dia 10.

Existem aqueles que acreditam que a interação entre compradores e vendedores no ambiente do mercado se traduz em uma correta manifestação, nos preços, de toda a informação disponível a todo momento. E existem aqueles que acreditam que essa interação é um termômetro impreciso, que diz muito mais sobre as emoções dos envolvidos no momento — e é, ainda, influenciada por fricções como, por exemplo, liquidez dos ativos — do que sobre a realidade em si.

Alio-me a esse segundo grupo: a única certeza que tenho sobre o Amazon Prime é que o seu impacto sobre os negócios das varejistas brasileiras não é o que apareceu no preço ontem: ou esse negócio não fará diferença alguma, ou impactará muito mais.

A título de exemplo, sugiro olhar para o que aconteceu com o Mercado Livre no México quando o Prime começou por lá:

Este gráfico circulou muito na FinTwit ontem. Honestamente não sei quem é a fonte original — a quem, de qualquer forma, peço sinceras desculpas pela não-menção.

Para se manter competitivo, o e-commerce precisou equiparar as condições comerciais do concorrente. E oferecer frete grátis e entrega acelerada a preço de banana sai caro.

Alguma dúvida de que, se vier impacto, será muito maior do que 3 ou 5 por cento do valor do equity?

Aí você me pergunta: a quem isso deveria preocupar mais?

Penso eu que a grande ameaçada é B2W. Histórica queimadora de caixa, a Companhia começou a tomar jeito com a expansão do seu marketplace. E inclusive oferece serviço similar ao Prime como ferramenta de fidelização. Opera só no online. Têm motivos de sobra para se preocupar, à medida que o acirramento da concorrência pode impactar seus resultados operacionais de forma expressiva e definitiva.

Se eu tivesse ganho 1 real para cada vez que ouvi que a saída de B2W era ser comprada pela Amazon, estaria nas Bahamas agora…

Lojas Americanas, por sua vez, há de sentir o reflexo caso os resultados de sua filha de fato sejam, de fato, impactados.

Magazine Luiza pode ver seu valuation ser contestado. O histórico de resultados da Companhia é excelente, e isso há muito se traduz na avaliação que o mercado faz da Empresa — múltiplos em patamares que, francamente, há muito não me apetecem. É natural que bata medo de que o crescimento e a geração de valor do e-commerce da Magalu, diante da investida gringa, seja abalado.

Por fim, penso eu que a fraqueza de Via Varejo — o fato de estar muitoatrás da curva quando a matéria é e-commerce — acaba, nesse momento, se tornando uma força: há tanta oportunidade de melhoria no varejo físico e a representatividade do online no consolidado é menor a ponto de, francamente, pouco me preocupar.

Mas não descarte a hipótese de, pura e simplesmente, o mercado superestimar o Amazon Prime: é natural ao ecossistema da Faria Lima achar que os hábitos de consumo do Brasil inteiro são iguais aos de seus habitantes.

Enquanto o coletinho de nylon não se popularizar do Oiapoque ao Chuí, é bom tomar com uma pitada de sal as impressões mais momentâneas da turma.

Quando a Amazon desembarcou no Brasil, foi um Deus nos acuda só. Já há uns 10 anos eu ouvia de analistinha recém-repatriado da Europa que o varejo físico simplesmente desapareceria em razão da expansão do e-commerce.

Fazia sentido para mim, que compro até cueca online. Mas continua não fazendo sentido para a grande maioria da população brasileira. Aguarde mais uma geração, talvez.

Anote na sua agenda: 10 de setembro de 2020. Quem sabe, dessa vez, os futuristas acertam?

 

Em observância ao Artigo 22 da Instrução CVM nº 598/2018, a Nord Research esclarece que oferece produtos contendo recomendações de investimento pautadas por diferentes estratégias e/ou elaborados por diferentes Analistas. Dessa forma, é possível que um mesmo valor mobiliário encontre recomendações distintas em diferentes produtos por nós oferecidos. As indicações do presente Relatório de Análise, portanto, devem ser sempre consideradas no contexto da estratégia que o norteia.

Postado originalmente por: Nord Research