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Finanças: 364 por centro em 4 meses

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Aconteceu, mas faz sentido esperar que se repita?

Aprendendo sempre

Não se assuste.

Isto não é uma peça de marketing que vai te induzir a acreditar que um ganho como o que está no título é normal ou esperado na bolsa.

Infelizmente, este tipo de marketing parece estar em alta no Brasil hoje em dia. Mas quem conhece a Nord sabe bem que este não é o nosso perfil.

Preferimos adotar uma linguagem mais honesta, serena e sem promessas de ganhos surreais.

Falando nisso, vou confessar que investi várias horas de trabalho desta semana estudando um ativo que deveria ser tema do meu texto de hoje.

Mas ao tentar me aprofundar sobre o tema acabei ficando com mais dúvidas ainda e acredito que eu não estaria sendo diligente o suficiente ao emitir uma opinião no momento (quem já passou alguns anos estudando o código de ética do CFA  Chartered Financial Analyst  sabe do que eu estou falando).

Inclusive, é bem comum no trabalho do analista de ações que não se ilude, chegar à conclusão de que o negócio ou momento atual de determinada empresa é complexo demais para que uma decisão firme de investimentos seja tomada.

Felizmente, um amigo que muito admiro me pediu uma ajuda para emitir a DARF de uma operação que acabou de realizar e que me deixou bastante curioso.

Como sempre busco aprender com toda experiência à qual sou exposto (própria ou de terceiros), pedi a ele que me contasse a história por trás de sua tomada de decisão na operação, e acredito que valiosas lições podem ser aprendidas.

O mito do market timing

Antes de mais nada, é importante citar que ele não é um investidor profissional. Ele é um empreendedor que investe em diversos setores e que no ano passado decidiu alocar parte de seus recursos em ações utilizando as recomendações da Nord para fundamentar suas decisões.

Mesmo dedicando apenas parte do seu tempo ao investimentos em bolsa, ele está obtendo ótimos resultados em seu portfólio e vem pegando cada vez mais gosto pela coisa.

No dia 18/03, ele disse que já havia perdido as contas de quantas vezes ouviu o Bruce repetindo que é pra comprar bolsa quando ela cai e quando as pessoas estão pessimistas, logo, decidiu aumentar sua posição em bolsa e reforçou algumas das posições que possuía em carteira.

Compra de VVAR3.

Dentre as que escolheu, ele adquiriu ações da Via Varejo (VVAR3), cuja o Ricardo acabara de alterar a recomendação de “Manter” para “Comprar” no relatório do Nord Small Caps publicado no dia 12/03.

E o Ricardo praticamente acertou a mínima do mercado neste call, apenas alguns pregões depois a bolsa atingiu o menor patamar do ano e começou um movimento de forte recuperação.

As ações de Via Varejo foram uma das que mais subiram desde então.

Maiores altas e baixas das ações do IBrX 100, desde 23/03. Fonte: Bloomberg.

No dia 02/06, desconfortável com o valuation e preocupado com as assimetrias de retorno potencialmente desfavoráveis, o Ricardo recomendou a venda das ações aos nossos assinantes.

Meu amigo acabou vendendo as 4 mil ações que comprou em março, juntamente com as 700 ações que já havia adquirido em julho do ano passado (quando montou sua carteira de ações), apenas no dia 29/07.

Venda de VVAR3.

Na última compra ele obteve um retorno de 364 por cento em apenas 4 meses. Considerando o preço médio de aquisição o retorno foi de 322 por cento, em pouco mais de um ano.

Os ganhos são realmente impressionantes.

MythBuster

Agradeço muito ao meu amigo por me permitir compartilhar o histórico de sua operação.

É fato que ele e o Ricardo tem muito mérito nessa história, mas em um prazo tão curto a sorte (sempre bem-vinda) talvez tenha sido a protagonista da história.

Ao destrinchar o contexto e as motivações de cada tomada de decisão poderemos distinguir adequadamente o que foi sorte e o que merece mérito, desmistificando a hipótese de que ganhos assim são normais ou podem ser esperados ao investir em ações.

Tamanho ganho em tão pouco tempo só foi possível por conta de um alinhamento de estrelas extremamente raro e com baixíssima probabilidade de ocorrência.

Primeiro, é importante contextualizar que a crise que estamos enfrentando causou uma queda de velocidade e magnitude vistas pela última vez apenas na crise de 1929.

Nossa bolsa ainda não voltou ao patamar pré-crise, mas já subiu 64 por cento desde a mínima. O fato de que meu amigo de comprou as ações praticamente na mínima da bolsa explica grande parte do retorno.

Mas a coragem para comprar bolsa após a mesma ter caído -47 por cento, praticamente no auge do pessimismo, é de longe o maior mérito aqui.

Outro grande mérito foi a frieza do Ricardo ao recomendar uma das empresas que mais poderia se prejudicar nesta crise por conta do fechamento de suas lojas durante a quarentena, sabendo que o foco deve estar no longo prazo e não no próximo release de resultado.

Entretanto, como o Ricardo disse no relatório em que alterou a recomendação para “Compra”, a resposta do mercado por meio do injustificado pânico e consequente queda nos preços das ações em nada refletiam a realidade da empresa.

Mas talvez por conta da surpresa positiva com os resultados da frente digital da empresa no 1T20, o mercado passou a ficar demasiadamente otimista com suas vendas on-line. E otimismo demais pode levar a frustração.

Além disso, a companhia ainda fez uma oferta de ações em junho com boa parte dos recursos destinados a “otimização da estrutura de capital e reforço ao capital de giro”, assim, existe a possibilidade da empresa ter queimado bastante caixa no 2T20.

Assim sendo, entendo que a recomendação de venda do Ricardo foi absolutamente acertada e o fato de que o meu amigo vendeu algum tempo depois com um preço um pouco mais alto vai pra conta da sorte.

O fato dele dispor daquele capital para aportar exatamente naquela data foi outra ironia muito bem-vinda do destino. Era absolutamente impossível prever que a bolsa começaria a subir logo na sequência.

Ele inclusive já havia feito um aporte em fevereiro, após uma forte queda na bolsa, e viu a bolsa cair muito mais, bem na sua cara.

Ninguém imaginava que uma crise tão grave transformaria o ano em que o Brasil tinha de tudo para engrenar, em um ano em que, se a atividade econômica não cair muito, já vai ser excepcional.

O fato é que absolutamente ninguém no mercado financeiro consegue prever movimentos de curto prazo.

São variáveis demais coexistindo e se alterando ao mesmo tempo, não existe análise técnica, modelo estático ou bola de cristal que seja capaz de antecipar o que vai acontecer com o preço das ações.

O que nos resta fazer é estudar profundamente as empresas, entender o que elas são hoje, quais são os potenciais de crescimento e quais são os riscos.

Ao colocar tudo isso em uma balança com o preço atual das companhias (múltiplos) do outro lado, conseguimos ter uma noção da relação risco-retorno, baseada em fundamentos, e assim podemos tomar uma decisão considerada correta dadas as informações disponíveis no momento.

A sorte não vem para todos

Gostaria que não fosse necessário dizer isto, mas devido ao teor das peças de comunicação e ao tipo de coisas que ando vendo nas redes sociais, sou obrigado a repetir:

Ganhos de tamanha magnitude e velocidade são absolutamente anormais e não devem de maneira alguma ser esperados por quem investe em ações.

Mas é fato que comprar e vender pelos motivos certos, assim como, adotar uma postura contrarian (comprar no auge do pessimismo) foram comportamentos que permitiram que tal ganho se tornasse realidade.

Só o tempo vai dizer se vender agora realmente foi a decisão mais lucrativa. Mas na realidade, não faz diferença. O que importa é que a decisão foi adequada com os dados disponíveis no momento. O foco agora é a próxima oportunidade disponível.

E a outra verdade é que no mercado de ações quem tenta ganhar o máximo de dinheiro geralmente acaba conseguindo justamente o contrário.

Os maiores e melhores investidores de todos os tempos não alcançaram performances excepcionais porque ganharam o máximo de dinheiro possível em todas as operações, mas, sim, porque tiveram a disciplina necessária para obter ganhos com consistência.

A sorte pode lhe ajudar a obter ganhos maiores ou mais rápidos, mas caso você esteja se colocando em situações onde as probabilidades não estão ao seu lado, quem tende a bater na sua porta é o azar.

Não se deixe iludir, você pode sim multiplicar seu patrimônio na bolsa, mas não será da noite para o dia, não será seguindo dicas quentes, e também não será se alavancando.

Na bolsa, os atalhos quase sempre têm como destino final uma armadilha, e o risco de quebrar é simplesmente alto demais para justificar uma ínfima chance de sucesso.

Invista com consciência.

Um abraço,

Em observância ao Artigo 22 da Instrução CVM nº 598/2018, a Nord Research esclarece que oferece produtos contendo recomendações de investimento pautadas por diferentes estratégias e/ou elaborados por diferentes Analistas. Dessa forma, é possível que um mesmo valor mobiliário encontre recomendações distintas em diferentes produtos por nós oferecidos. As indicações do presente Relatório de Análise, portanto, devem ser sempre consideradas no contexto da estratégia que o norteia.

Postado originalmente por: Nord Research