A devoção às “13 almas aflitas” é uma prática popular que intriga muitos fiéis. Apesar de sua forte presença nas intenções de missas e igrejas, a Igreja Católica oficialmente não a reconhece. O Frei Jacir de Freitas, presidente da ABIB (Associação Brasileira de Pesquisadores de Bíblia), esclarece que essa crença tem origem em fatores históricos e culturais que remontam a tempos antigos.
Um dos primeiros pontos de referência para essa devoção é São Cipriano de Antioquia, um feiticeiro convertido ao cristianismo que, antes de sua conversão, estudou ciências ocultas. Ele é atribuído como o autor do “Grande Livro de São Cipriano”, uma compilação medieval de feitiços, encantamentos e rituais, alguns supostamente de fontes clássicas ou egípcias. Esse livro contém orientações sobre feitiços, correspondências astrológicas e invocações de entidades sobrenaturais. É nele que aparece pela primeira vez a ideia das 13 almas aflitas.
Segundo a tradição descrita nesse livro, Deus teria dado a Pedro as chaves do paraíso e decretado que, a cada sete anos, 13 espíritos mortos em circunstâncias catastróficas retornariam ao mundo. Esses espíritos seriam almas errantes, que não poderiam alcançar o céu, o inferno ou o purgatório, ficando vagando entre esses estados. Elas seriam vistas como almas sofredoras, contribuindo para a salvação do mundo, uma ideia com raízes na tradição judaica e em passagens bíblicas, como a profecia de Isaías.
Essa devoção popular ganhou força principalmente no século XIX e chegou ao Brasil com a tradução do livro de São Cipriano. Um evento que intensificou essa crença no país foi o incêndio no Edifício Joelma, em São Paulo, no dia 1º de fevereiro de 1974. Durante o rescaldo, 13 corpos carbonizados foram encontrados em um elevador. Na época, sem os recursos da identificação por DNA, esses corpos não puderam ser identificados, e muitas pessoas passaram a associá-los às 13 almas benditas mencionadas no livro de São Cipriano.
Apesar da Igreja Católica reconhecer a existência de almas no purgatório, ela não valida a devoção específica às 13 almas aflitas ou benditas. No entanto, a tradição popular manteve viva essa crença, com orações, folhetos e até práticas de levar água aos cemitérios para essas almas. A devoção às 13 almas aflitas continua sendo uma expressão cultural e espiritual forte em muitas comunidades, mesmo sem o respaldo oficial da Igreja.