Uma rede de desvio de dinheiro da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), fundada e presidida pelo padre Robson de Oliveira Pereira, envolve empresas de comunicação, postos de combustíveis e até o vice prefeito de Trindade Gleysson Cabriny de Almeida (PSDB), conforme denúncia do Ministério Público de GO. Segundo o MP, o vice-prefeito faz parte do quadro de sócios de empresas que realizaram inúmeras operações imobiliárias entre pessoas jurídicas e a Afipe, causando prejuízos para a associação.
O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público de Goiás deflagrou na manhã desta sexta-feira (21) a Operação Vendilhões, que apura irregularidades relacionadas à Associação Filhos do Pai Eterno (AFIPE). De acordo com o MP-GO, a investigação originou após o presidente AFIPE, padre Robson, ser vítima de extorsão, utilizando indevidamente recursos provenientes de contas das associações que preside. Os crimes apurados, até o momento, são os de organização criminosa, apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal. Estão sendo cumpridos 16 mandados de busca e apreensão na sede das Associações (AFIPE), empresas e residências em Goiânia e Trindade, expedidos pelo Juízo da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais, em decisão da Juíza de Direito Placidina Pires.
As investigações começaram depois que o padre Robson foi vítima de extorção, em 2017, quando ele teve computador e celular hackeados e passou sofrer chantagem “para que não divulgassem imagens e mensagens eletrônicas com informações pessoais, amorosas e profissionais que levassem a prejudicar sua imagem”, segundo o MP. Na ocasião, o padre transferiu mais de R$ 2 milhões das contas bancárias da Afipe para os criminosos. A quadrilha foi condenada em 2019, mas o uso do dinheiro da fundação para fins pessoais ligou o sinal de alerta das autoridades. O MP afirma que Robson apropriou-se de valores arrecadados dos fiéis e utilizou para finalidades diversas daquelas desenvolvidas pela entidade.
Também de acordo com o documento, uma empresa de comunicação recebeu, entre junho e novembro de 2018, a quantia de R$ 18 milhões da Afipe. No mesmo período, transferiu R$ 17,5 milhões para uma rede de postos de combustíveis. O MP também aponta como investigado o presidente da Afipe, padre Robson Oliveira Pereira – que também é reitor do Santuário Basílica de Trindade. O órgão chegou a pedir a prisão do Padre Robson. Constatou-se que os gastos de boa parte das doações não tinha vínculo com questões religiosas, mas com outros negócios, como a compra de imóveis, propriedades rurais, cabeças de gado e emissoras de rádio, explica o MP.
Fundada pelo padre, a Associação Filhos do Pai Eterno mantém um canal de TV e também transmite missas em uma rádio. Além de toda a programação religiosa, a Afipe é responsável pela Romaria do Divino Pai Eterno, principal festa religiosa de Goiás e considerada uma das maiores celebrações religiosas do mundo. Ao longo de dez dias, são realizadas cerca de 100 missas e mais de 40 novenas, além de procissões, batizados, vigílias, alvoradas e confissões durante os dez dias de festa.
O Padre Robson pediu afastamento de suas funções do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno e da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), após investigação de desvio de R$ 120 milhões de doações de fiéis em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia. A informação divulgada pela Arquidiocese de Goiânia e confirmada pela defesa do padre, na tarde desta sexta-feira (21).