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Presidente diz que “buraco” é quase sem fundo.

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“Sem dúvida nenhuma o problema do Cruzeiro é dinheiro. E isso reflete em todas as áreas depois”.

A constatação do presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, é a mesma quando assumiu o clube em maio de 2020, quando foi eleito pela primeira vez.

“Pagar pelo menos uma folha, que tá em aberto” – disse o presidente à época.

Outubro de 2021, e o grande problema da Raposa continua sendo a falta de recursos. Para o dirigente cruzeirense, em entrevista, não há dúvida:

“O Cruzeiro chegou num buraco que nenhum clube chegou”.

Desde 2019, a crise financeira acarretou perda da capacidade de investimento do Cruzeiro, saída de atletas (que poderiam trazer recursos ao clube), diminuição no quadro de pessoal, aumento exponencial nas ações trabalhistas e, claro, crescimento da dívida, hoje novamente se aproximando de R$ 1 bilhão.

Nas últimas semanas, os atrasos salariais fizeram jogadores e funcionários anunciarem uma medida extrema: paralisação dos trabalhos até o pagamento dos vencimentos pendentes. Parte dos funcionários da área administrativa continua em paralisação. Mas Sérgio Rodrigues promete sanar os débitos ainda esta semana.

“Hoje, praticamente, vamos chegar a um cenário que a gente equalizou praticamente (os salários dos) funcionários, Toca I, Toca II. Estamos focando em clube administrativo, agora. Os atletas, agora, em 2021, essa semana, vão ficar em dia também. Imagens estão ok já. Assim, a gente equalizou todas imagens juntos com salários que estavam ok. Aí haviam algumas competências em aberto de imagem e CLT que essa semana a gente vai finalizar”.

Sérgio Rodrigues foi questionado de onde surgiram os recursos. Ele preferiu não dar detalhes, mas afirmou que irá divulgá-los.

“A gente vai divulgar. Depende do quanto se vai confirmar, do quanto a gente vai conseguir levantar, mas a prioridade é sempre deixar os salários em dia, é a prioridade número um, hoje. O Cruzeiro deve R$ 9 milhões, considerando a nossa gestão. O que ficou para trás da nossa gestão não está nesse cálculo”.

“Se eu estou na cadeira de presidente e assino, a responsabilidade tem que ser minha. Quando a gente chegou estava muito mais em atraso do que estava hoje” – Sérgio Rodrigues

A escassez de recursos nas contas cruzeirenses também é provocada pelos bloqueios judiciais.

“Já chegamos a passar 20 dias direto com bloqueio em conta. É complicado. Tivemos quase R$ 10 milhões de bloqueios de gestões anteriores a nossa, o que seria mais do que suficiente para ter os salários em dia da nossa gestão”.

A falta de recursos se soma também ao insucesso dentro de campo. O Cruzeiro está bem próximo de disputar, pelo terceiro ano seguido, a Série B do Campeonato Brasileiro. Algo inédito entre os grandes clubes do país.

“Ah, desempenho esportivo? É gestão sua, mas se tivesse dinheiro para poder fazer, com certeza, seria feito diferente” – Sérgio Santos Rodrigues

A permanência na Série B impacta fortemente as contas. Além de patrocínios de menor valor, bem como a pequena exposição, o Cruzeiro deixa de ganhar milhões em direitos televisivos, segundo Sérgio Rodrigues.

“Só de pegar o direito de TV, tem um prejuízo de pelo menos R$ 50 milhões”

Apesar da dificuldade financeira, de acordo com o dirigente, o Cruzeiro conseguiu realizar importantes pagamentos desde o ano passado e acordos de recursos volumosos. O principal foi coma Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. Sérgio Rodrigues aponta como outro ponto importante da gestão dele o pagamento de dívidas junto à Fifa.

“Da Fifa, foram diversas, né. Só de punições que tinham e não tivemos, que a gente pagou integralmente, só aí deu quase R$ 40 milhões”.

Especialista em negócios do esporte, o jornalista da Globo, Rodrigo Capelo, analisa que houve uma piora nos números cruzeirenses apresentados no balancete do primeiro semestre de 2021.

“O balancete mostra alguns sinais bem negativos. Pra começar, no endividamento que terminou o ano de 2020 em R$ 900 milhões, arredondando, e aumentou nesse primeiro semestre de 2021. Ao término de junho, havia R$ 960 milhões em dividas”.

O economista e consultor de gestão e finanças do esporte, César Grafietti, vê um trabalho de reestruturação no Cruzeiro, mas os efeitos ainda estão longe de serem contabilizados.

“Dá pra dizer que o clube faz um trabalho de reestruturação, mas está muito distante de algo que seja aceitável para o clube retomar ali um caminho de recuperação efetiva”.

O jornalista Paulo Vinícius Coelho também avalia a situação do Cruzeiro dentro do âmbito esportivo. Para ele, o presidente ainda não conseguiu solucionar a crise que herdou.

“O Cruzeiro não pode acostumar o Brasil de que “houve um grande clube na cidade”. “Existe um grande clube na cidade”. Existe um grande clube no Brasil. Existe um grande clube na América do Sul e no mundo. Só que o Cruzeiro tem que lembrar o mundo disso. A crise começou antes de Sergio Rodrigues, mas ele foi eleito com a proposta de solucionar a crise. E ele não resolveu até agora”.

Para o Cruzeiro, o caminho é a implementação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Em dezembro, o clube pretende realizar a transformação para clube-empresa. Mas ainda falta a chegada do investidor, para injetar recursos na Raposa.

“Não é a solução do futebol brasileiro, mas é sem dúvida nenhuma dos meios que tem para conseguir captar dinheiro do jeito mais rápido e seguro pro investidor hoje, porque o grande problema é como o investidor vai colocar dinheiro no Cruzeiro. E aí a gente batalha muito para que isso ocorra” – disse o dirigente.

O economista César Grafietti aponta alguns dos benefícios da implementação do clube-empresa.

“Esse desenho da SAF foi feito sob medida pra clubes na situação do Cruzeiro. Você pode segregar as dividas, deixar na associação, levar as receitas todas pra SAF, e usar 20% dessas receitas pra pagar as dividas que ficaram na associação”.