fbpx
Pular para o conteúdo

A base que pode dar o título ao Cruzeiro.

Image

A estreia pelo profissional do Cruzeiro, em 12 de outubro do ano passado (contra o Botafogo, pela Série B), acabou se tornando uma grande frustração ao jovem Vitor Roque. Da decepção do desempenho e da rápida substituição (atuou apenas 18 minutos), a grande revelação do Campeonato Mineiro 2022 conseguiu superar a má experiência recorrendo ao trabalho do treinador mental.

Neste sábado, o garoto de 17 anos, natural de Timóteo (interior de Minas Gerais), é uma das grandes esperanças na final única do Estadual, às 16h30, no Mineirão, contra o rival Atlético.

Semanalmente, Vitor Roque tem uma sessão de cerca de uma hora com um treinador mental. Nela, o jogador trabalha a questão da concentração em treinos e jogos, hábitos, como boa alimentação, noites de sono adequadas e até mesmo como portar com o assédio do público em geral.

No Cruzeiro, Vitor Roque também passa por um treinamento de mídia para poder se portar e expressar de forma adequada. Com uma multa contratual bilionária (300 milhões de euros), o jogador é visto como um “jogador de destaque internacional em potencial”. Ele explicou o porquê de recorrer à ajuda.

“No final do ano passado, comecei a trabalhar até para me adaptar e acostumar ao profissional. No primeiro jogo do profissional (contra o Botafogo), teve o acontecido que eu cansei, estava muito ansioso e nervoso. Isso tem me ajudado bastante a controlar a ansiedade, a respiração, a ficar tranquilo” – disse o jogador em um live com o preparador mental, Lulinha Tavares.

Após o início do trabalho com o treinador mental, Vitor Roque ganhou mais chances com Vanderlei Luxemburgo. Com a chegada de Paulo Pezzolano, conquistou ainda mais terreno no elenco do Cruzeiro, sendo o vice-artilheiro da equipe neste início de ano, com seis gols marcados em nove jogos.

Vitor Roque chegou ao treinador mental por meio de um dos seus agentes (o ex-volante do Cruzeiro, Sandro), que utilizou dos serviços de Lulinha ainda como jogador. O treinador mental também atende o lateral Geovane, do Cruzeiro. Matheusinho, do América, também faz trabalho com ele há cinco anos, assim como Patrick de Paula (contratado recentemente pelo Botafogo) e Vanderson (Monaco, da França).

Fez trabalhos com o elenco do Fluminense, de 2011, em uma épica salvação do rebaixamento, e com o Palmeiras de 2014.

“A parte mental é o centro de comando. Você precisa saber lidar com isso, com frustração, medo, pressão. Foi naquele momento (contra o Botafogo). Ele apresentou o que é natural daquele momento: frustração, medo, decepção consigo mesmo. Pelo desconhecimento do contexto, ele se mostrou decepcionado consigo mesmo” – explica Lulinha sobre o diagnóstico inicial.

O salto de Vitor Roque para titular do Cruzeiro e um dos destaques do time também é trabalhado. Tudo isso acreditando que o jovem atacante é um potencial participante de Copa do Mundo ou Liga dos Campeões.

“Nós precisamos entender que este salto repentino pega a pessoa desprevenida. Embora haja expectativa, jamais ele tem a real noção de como são as coisas. Por isso, é importante ter um plano de metas. Onde quer chegar? Vamos ter um plano claro e efetivo, definido para chegar lá. Aí você consegue fazer com que o atleta encara. Ele está no início de um processo, em que ele vai maturar muita coisa. Potencialmente, a gente vê ele como um atleta de Liga dos Campeões, Copa do Mundo. Mas potencialmente. Esse potencial é poder no futuro”.

Segundo o profissional, após cerca de cinco meses de trabalho já é possível ver reflexos no comportamento e atuação de Vitor Roque em campo.

“Melhoria do nível de concentração no treino. Ele começa a ver que o treino dele está diferente. O que ele quer fazer no jogo, faça no treino. Então, este ajuste é lidar consigo mesmo, controlar emoções, controlar a ansiedade e o nível de concentração. Quando chegar no jogo, flui. Isso tem sido muito claramente por ele. Ele está respirando melhor. Comecei e errei um passo. Preciso trazer minha mente, me ajustar. Ele tem que aprender a lidar com a própria máquina”.

Há um preparo específico também para partidas decisivas, como o clássico com o Atlético-MG, na final do Campeonato Mineiro. A ideia é que Vitor Roque assuma uma responsabilidade real dentro do contexto geral da Raposa.

“Semana de clássico, por exemplo. Falo que ele é muito novo, que ele não deve entrar em clima de rivalidade maior, você precisa entender que é um jovem e que precisa entender o momento. Tem que ter cuidado numa entrevista, tem coisas que não deve falar, para chegar em campo e produzir. Não traga responsabilidade que não é sua. Não é responsável pelo atual momento do clube. Faça sua parte”.

Desde os 12 anos (quando estava no América), Vitor Roque trabalha em conjunto com o ex-volante Sandro e o sócio do ex-jogador, Ehler Pessoa. A ideia dos agentes é oferecer suporte extracampo ao garoto para que ele pense apenas no futebol. Mas foi necessário encontrar um suporte a mais, como explica Ehler, após a estreia no profissional.

“A gente acredita que o atleta, hoje, só tem que pensar em jogar bola. Não tem que pensar em mais nada. Porque, hoje, o contexto do futebol é muito mais complexo. A base familiar ajuda muito. Ter foco também no relacionamento interpessoal. Mas tem que ter a demanda para buscar o Lulinha, e a demanda apareceu este jogo após o Botafogo”.

“Achei totalmente normal, porque era um menino de 16 anos, contra um clube como o Botafogo. Garoto tem que ter preparação psicológica. Acham que é chegar e jogar. Tem que ter uma preparação psicológica e como se porta no clube.”

Vitor Roque também tem agenciado pelo empresário André Cury, que o trouxe para o Cruzeiro em um acordo de transação que infringiu regras da Fifa. A chegada à Raposa também foi polêmica por causa da saída do América.

“Chamei o André, ele ficou um pouco reticente, e aí começou a sondar. Viu que o Vitor Roque era unanimidade e fez parceria. Trouxe o Abidal, do Barcelona, para poder ver o Vitor. Cheguei ao América e falei que tínhamos uma situação complicada que, se não levassem com carinho, daria ruim. O André chegou com um número gigante do Cruzeiro, com comissão e tudo mais. Falamos com o pai, e não tinha como o América bancar. O Palmeiras também queria levar, mas precisava cobrir o que o Cruzeiro ofereceu. Ele acabou indo para o Cruzeiro e continuando” – explicou Ehler, que diz que o contrato de agenciamento é sem remuneração, como determina a legislação esportiva.

Vitor Roque deverá ser titular no clássico deste domingo. No clássico da primeira fase, o primeiro da carreira dele no profissional, ele marcou o gol de honra do Cruzeiro na derrota por 2 a 1.

FUTEBOL MINAS FM