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Finanças: Separando o joio do trigo no crédito privado

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Depois da fraude contábil da Lojas Americanas (AMER3) e das quebras da BRK Financeira e da Portocred, a preocupação com a análise de crédito vem sendo um dos temas de maior interesse do meu público.

As taxas de títulos como debêntures, CRIs e CRAs subiram bastante, tanto para empresas ruins quanto para empresas boas, e nunca foi tão bom e rentável conseguir separar o joio do trigo.

Caso você não queira mergulhar muito na análise, mesmo assim é muito importante ao menos ter uma ideia, pois são muitos bancos oferecendo produtos com taxas atrativas e se você souber as coisas mais importantes a se olhar, vai evitar grandes erros de investimento.

Vou adiantar aqui algumas informações de análise de crédito. Está simplificado e não é exaustivo, pois se fosse abranger todos os detalhes, isso envolveria explicar o balanço de uma empresa, que sozinho seria assunto para um livro.

Mas também não poderia deixar de dizer os índices e características que mais olho para que não fique um completo escuro na análise do crédito. Afinal, não podemos confiar totalmente nas agências de rating.

Basicamente, quando vamos fazer uma análise de crédito de uma empresa, precisamos entender qual é a capacidade aparente dela de pagar a minha dívida.

Ela tem dinheiro? Seu fluxo de caixa é positivo? Ela tem muita dívida além da minha? Dá lucro?

Todas essas perguntas são importantes para se ter confiança no pagamento. Vamos, então, olhar a importância de cada dado.

Caixa x Dívida de Curto Prazo

Toda empresa carrega um caixa, que é utilizado como capital de giro (pagar despesas de curtíssimo prazo para manter o negócio rodando) e como recurso para pagamento de dívidas de curto prazo. Então, quando olhamos para o volume de caixa de uma empresa, temos que ver se ele é suficiente para honrar essas duas obrigações.

Exemplo:

Este gráfico foi publicado no site da Votorantim Cimentos no dia 19/12/16:

Prazo médio da dívida do Votorantim Cimentos é de 9,5 anos, segundo documento publicado em dezembro de 2016
Fonte: Reprodução / Votorantim Cimentos

Podemos observar que ele possuía cerca de R$ 4,1 bilhões em caixa (somando recursos em dólar e em real). Esse caixa era suficiente para honrar com as dívidas até o final de 2019.

Isso é uma qualidade que gostamos de ver, afinal, a empresa não tem necessidade de captação e, mesmo se o mercado estiver em crise, ela tem bastante tempo para organizar uma emissão ou rolagem.

Além disso, a empresa teria três anos para se recuperar de uma eventual redução da demanda, crise no setor ou crise econômica.

Por outro lado, o formulário de referência de 2016 da empresa Light (LIGT3)  apresentou o seguinte cronograma de vencimento de dívidas, com um caixa de cerca de R$ 500 milhões:

 A companhia de energia Light, em 2016, apresentava dívidas a vencer de R$ 1,5 bilhão e cerca de R$ 500 milhões em caixa disponível após 2022

Podemos perceber que em 2016 temos o vencimento de R$ 1,5 bilhão em dívida, o que seria impagável apenas com o caixa disponível da empresa.

Nesse caso, a empresa terá que emitir dívidas mais longas para rolar a atual (o que é o mais comum), aumentar seu fluxo de caixa das operações ou simplesmente não terá como pagar a dívida.

Devemos evitar empresas nessa situação, a não ser que sua capacidade de rolagem seja muito boa e a um custo barato.

Se a necessidade de rolagem acontece em um período de crise, com o mercado mais fechado para novas emissões, a empresa pode correr sérios riscos de calote.

Lembrando que eu não estou fazendo nenhuma inferência a respeito dessas empresas em questão. Com esses gráficos, estou apenas exemplificando tipos de balanços diferentes.  

Dívida Líquida e Ebitda

Outro índice muito analisado é a razão entre a Dívida Líquida (dívida descontada do que a empresa tem em caixa) sobre o Ebitda (que é a receita antes do pagamento de juros, imposto e depreciação).

Essa medida não funciona para medir alavancagem de bancos (ver Índice de Basileia abaixo).

Quanto maior for a dívida da empresa, pior é sua capacidade de honrar essa dívida. Mas quanto maior for a receita, maior é a capacidade de pagamento sem que haja comprometimento de sua liquidez.

Repare na tabela retirada do balanço do terceiro trimestre da CSN (CSNA3).

Podemos ver que no terceiro trimestre de 2015 (3T15), a empresa tinha uma Dívida Líquida/Ebitda de 6,6 vezes e passou no segundo trimestre de 2016 (2T16) para 8,3 vezes e no terceiro (3T16) para 7,4 vezes, todas muito altas.

No terceiro trimestre de 2015, a CSN tinha uma dívida líquida/Ebitda de 6,6 vezes e passou no segundo trimestre de 2016 para 8,3 vezes e no terceiro para 7,4 vezes
Fonte: Reprodução / Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)

Se a dívida ficar muito grande em relação à sua receita, a capacidade de pagamento será comprometida.

O quanto é razoável ter de dívida vai variar de setor para setor e de país para país. Afinal, países com taxas de juros menores permitem que empresas se alavanquem mais, sem comprometer sua capacidade de pagamento.

No Brasil, atualmente, gostamos de ver esse índice abaixo de 3 vezes. Mas essa é uma média e depende do setor e da taxa de juro do período.

Quanto maior os juros, menor deve ser a DL/E.  

Enquanto isso, a empresa Alupar (ALUP11), por exemplo, mostrou queda da alavancagem e de 2015 para 2016 reduziu seu índice para baixo de 2,5. Isso é bem positivo na análise de crédito.

Alupar apresentou queda na alavancagem de 3,5 vezes para 2,5 vezes de 2015 a 2016
Fonte: Reprodução / Alupar

Procurar empresas com baixa alavancagem ou que estão em processo de desalavancagem é um bom indicador para a análise de crédito.

Postado originalmente por: Nord Research