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Finanças: Fundos correndo o risco de quebrar?

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O título desta newsletter pode causar alguma ansiedade no público mais leigo. 


O título desta newsletter pode causar alguma ansiedade no público mais leigo.

Não é por acaso.

Depois de uma queda da bolsa de -29,90 por cento no mês de março, acumulando -36,86 por cento no ano, muitos cotistas de fundos de ações passaram a temer que os seus recursos virassem pó.

"Meu fundo caiu mais que a bolsa, ele corre risco de quebrar?"

"Vi no regulamento que o fundo pode alavancar. Ele está alavancado? quanto? Como eu sei se ele está alavancado."

"Se o gestor tomar muitos resgates, eu posso perder todo o meu dinheiro investido também?"

Para responder a estas perguntas é preciso entender três conceitos básicos: o primeiro é alavancagem, o segundo é entender como são constituídos os regulamentos dos fundos e que tipo de mandato tem cada gestor e o terceiro tem a ver com liquidez e passivo.  

Então vamos lá.

Alavancagem

Imagine que um Fundo de Ações tenha iniciado suas atividades com um aporte de 100 mil reais.

Para facilitar o exemplo, digamos que ele usou todo o caixa para comprar 10.000 ações de XPTO3, a 10 reais cada.

O gestor do fundo está bastante confiante nessa aposta e acredita que, ao alavancar sua exposição no papel, ele possa lucrar muito mais.

Para isso ele faz uma compra de XPTO3 a termo. A operação de compra de um termo consiste em um contrato que fixa o preço de determinada quantidade de ações, para serem liquidadas em uma data futura.

Supondo que ele queira dobrar a aposta comprando mais 10.000 ações de XPTO3 a 10,00 reais, com prazo para devolver esse empréstimo daqui 1 ano, o custo ao final do período será:

10.000 x 10,00 x CDI do período + uma taxa.

Por que CDI + uma taxa? A contraparte que está oferecendo esse financiamento vai ter uma remuneração atrelada a renda fixa. Supondo que o CDI de 1 ano seja de 3,75 por cento e o investidor da outra ponta esteja disposto a emprestar por 4 por cento, então o gestor passa a dever daqui 1 ano o valor de 104.000 reais.

10,00 x 4% = R$ 10,40 x 10.000 = 104.000,00.

Se a ação estiver acima de 10,40 ao final do período, ele ganha dinheiro. Mesmo antes, se quiser encerrar a qualquer momento e embolsar o lucro, ele também pode fazer.

Para fazer uma operação desse tipo a bolsa exige uma garantia. Pode ser em dinheiro, em ações ou com títulos públicos. A medida que as ações vão caindo, ela vai chamando mais margem (mais garantias), a fim de garantir que o investidor do outro lado receberá a taxa contratada.

(Importante dizer que as corretoras não aceitam o mesmo papel como garantia. Usei no exemplo só para facilitar o entendimento.)

Bom, então como esse fundo quebra?

Se ações XPTO3 caem 50 por cento.

Carteira própria = 10.000 x 5 = 50.000,00

Carteira alavancada = 10.000 x 5 = 50.000,00

Deve 104.000 mil

Se ele vender as ações das duas carteiras, ainda vai ficar devendo 4 mil reais.

Você como cotista, além de perder todo o seu dinheiro, ainda vai ter que contribuir com os 4 mil que faltam.

Por fim, é importante dizer que o gestor não quebra só fazendo termo, mas também operando contratos futuros ou opções.

Regulamento

Regulamento é um documento de constituição do fundo. Nele estão estabelecidas todas as informações e regras essenciais relacionadas à administração, gestão, política de investimento, taxa de administração e performance, condições de aplicação e resgate de cotas, prestadores de serviços, entre outras.

Ao investir em um fundo com poucos cliques na sua corretora, você está ao mesmo tempo assinando digitalmente o de acordo com todas essas regras  só se dão conta disso ou só param para ler as condições em momentos de pânico como o atual.

Alguns fundos de Ações permitem em regulamento a possibilidade de alavancagem, seja via termo, opções ou futuros.

Não quer dizer, necessariamente, que usam dessa estratégia. Aliás, raramente vejo gestores de Ações Long Only fazendo qualquer outras coisa a não ser comprar ações e gerir o caixa. Vez ou outra compram puts como seguro para se proteger.

Mas como o regulamento é quase uma bula, ele alerta o investidor dos possíveis riscos que estratégias como essas podem acarretar, mesmo que o limite pré-estabelecido seja pequeno.

A redação é mais ou menos assim:

"Este fundo utiliza estratégias com derivativos como parte integrante de sua política de investimento. Tais estratégias, da forma como são adotadas, podem resultar em significativas perdas patrimoniais para seus cotistas, podendo inclusive acarretar perdas superiores ao capital aplicado e a consequente obrigação do cotista de aportar recursos adicionais para cobrir o prejuízo do fundo."

Justamente para evitar esse tipo de mandato mais amplo, algumas gestoras de Ações oferecem a mesma estratégia de gestão via um veículo enquadrado em regras mais apertadas, baseadas nas instruções da CVM 4661 e 3.922.

Nesse caso, é vedado que o fundo alavanque via futuros, termo ou derivativos, faça day trade, opere no exterior, entre outras coisas.

Em geral, esse veículo é exigido por fundações e investidores institucionais. Por isso, quando o fundo tem esse enquadramento, ele leva no nome a palavra INSTITUCIONAL.

Veja o caso da Alaska, por exemplo:

Alaska Black Institucional FIA: carteira de ações apenas.

Alaska Black FIC FIA BDR Nível I: além da carteira de ações, pode alavancar em outros mercados, como juros, câmbio (razão e performance recentes) e derivativos.

Não há um melhor ou pior. A estratégia de operar juros e câmbio já turbinou os resultados em bons anos de bolsa ou serviu para proteger a carteira em períodos de queda. Esse foi o mandato estipulado em regulamento e é inclusive onde os sócios da casa concentram a maior parte do patrimônio pessoal.

Como a estratégia de juros e câmbio gerou perdas relevantes, no ano de 2020, o Black BDR já caiu 66 por cento e o Institucional -38 por cento.

Se comparado ao restante da indústria, percebemos que todo mundo está sofrendo igual, com quedas de -30 e -40 por cento. Isso inclui gestores consagrados como Dynamo (-34), Atmos (-34), XP Investor (-39), Constellation (-34), Equitas (-41), Moat (-42), Real Investor (-34), Brasil Capital (-41) e Bogari (-32).

Todo mundo caiu porque, na média, estavam mais expostos a commodities, empresas de varejo e consumo interno. Essas duas últimas foram as que fizeram os fundos superarem com folga o Ibovespa em 2019.

Por fim, para responder a dúvida sobre alavancagem, os fundos de nossa cobertura só correriam o risco de quebrar se todas as empresas em carteira passassem a valer zero na bolsa. Bastante improvável, para não dizer impossível.

Liquidez e passivo

A terceira e última grande dúvida de alguns investidores é se um fundo poderia quebrar por conta de resgates excessivos.

A primeira boa notícia é que mesmo durante a crise, muitos fundos receberam mais aplicação do que resgates. Praticamente todos os recomendados no Nord Fundos foram assim. Acredito que este é um sinal bastante importante da melhora na educação financeira e maturidade do brasileiro.

Outro ponto importante: hoje a maioria dos fundos tem resgate em D+30. Ou seja, se no meio da crise algum cotista entrou em pânico e resolveu sair do fundo, só recebeu o investimento de volta 30 dias depois, e com o valor da cota do trigésimo dia.

Essa prática de D+30 tem uma razão de ser. Primeiro, desencoraja o investidor a tomar esse tipo de decisão justamente no meio do olho do furacão. Segundo, oferece uma margem mais folgada para o gestor se desfazer das ações para pagar resgates. No final do dia, isso protege o cotista que fica, que não vai ter sua cota machucada por conta de uma venda acelerada das ações por parte do gestor.

(Importante deixar claro que completamos 30 dias de crise no dia 26 de março. Por isso os resgates mais relevantes podem começar a aparecer a partir de agora. Eu e o Luiz temos feito um monitoramento desses dados bem de perto e, em caso de alguma novidade, avisaremos os assinantes do Nord Fundos pelo Telegram.)

Um ponto que favorece muito os gestores hoje em dia é o passivo pulverizado. Por conta do avanço das plataformas e maior presença do varejo, hoje é bastante normal que um fundo de ações tenha dezenas de milhares de cotistas, com um ticket médio na casa de 10 a 30 mil reais. Isso reduz muito o risco, por exemplo, de um cotista muito relevante no passivo que queira sacar tudo de uma vez.

Por conta do sucesso nas plataformas, ao longo dos últimos meses vimos vários fundos consagrados fecharem para aplicação. A razão por trás de um fechamento é justamente preservar a capacidade (capacity) do gestor em entrar e sair de posições sem afetar as cotações de mercado. Se ele fica grande demais, pode ter mais dificuldade.

Para entender melhor como isso funciona, vale a pena dar uma olhada na lâmina de um fundo que você investe. Lá é possível encontrar dados de liquidez da carteira como:

  • dias para zerar 20, 50 e 100 por cento da carteira.
  • porcentagem da carteira com liquidez acima de 10 milhões/dia, porcentagem da carteira com liquidez acima de 100 milhões/dia, porcentagem da carteira com liquidez acima de 1 bilhão/dia.
  • porcentagem da carteira em ações com valor de mercado acima de 1 bilhão, porcentagem da carteira em ações com valor de mercado acima de 10 bilhões, porcentagem da carteira em ações com valor de mercado acima de 100 bilhões.

De novo: essas métricas são importantes para garantir que no prazo de 30 dias o gestor tenha condições (com folga) de pagar os resgates sem nenhum problema.

Em um  caso extremo, se todos os cotistas pedirem resgate, a gestora passaria a fazer a gestão apenas do dinheiro dos sócios.

E olha que em alguns casos esse valor é bastante relevante. No caso da Alaska, por exemplo, ⅓ do total sob gestão é dinheiro dos sócios. São 4 dos 12 bilhões de reais. Em outros casos, vemos de 5 a 20 por cento do patrimônio sob gestão, o que também é bastante relevante, se tratando de vários de bilhões.

Por fim, não vemos hoje qualquer risco no universo de cobertura do Nord Fundos de algum caso que possa sofrer com uma debandada geral.

Entretanto, estaremos sempre vigilantes, monitorando de perto os  dados de aplicação e resgate daqui para frente.

Se por acaso ainda não se cadastrou no Telegram do Nord Fundos, essa é uma boa oportunidade. Entre na área do assinante e siga o passo a passo.

Um abraço,

Renato

Em observância ao Artigo 22 da Instrução CVM nº 598/2018, a Nord Research esclarece que oferece produtos contendo recomendações de investimento pautadas por diferentes estratégias e/ou elaborados por diferentes Analistas. Dessa forma, é possível que um mesmo valor mobiliário encontre recomendações distintas em diferentes produtos por nós oferecidos. As indicações do presente Relatório de Análise, portanto, devem ser sempre consideradas no contexto da estratégia que o norteia.

Postado originalmente por: Nord Research