Após a reunião do Copom da última quarta-feira (20), que decretou mais um corte de 0,5 p.p. na taxa Selic, o mercado injetou doses cavalares de pessimismo na bolsa brasileira, o que fez com que o IBOV caísse -2,1% no pregão de ontem, enquanto o SMLL, -2,6%.
Com a queda maior, o SMLL voltou a estar atrás do IBOV no acumulado do ano e, agora, os dois índices apresentam alta de apenas +5,7% e +5,8%, respectivamente.
Neste momento, a pergunta que mais recebo é: “se os juros foram cortados, a bolsa não deveria subir?”.
A pergunta faz sentido, pero no mucho.
É, sim, verdade que existe uma correlação inversa entre bolsa e juros (quando um sobe, o outro desce e vice-versa), entretanto, não, o mercado não olha para a Selic antes de precificar os ativos de risco da bolsa, mas sim para os juros futuros.
Foi exatamente o que vimos de março até junho, quando os juros começaram a apontar para baixo e a bolsa finalmente atravessou o primeiro rali consistente de alta em 2 anos.
Rali este que, inclusive, foi mais expressivo para o SMLL, que chegou a subir mais de +30% no período, enquanto o IBOV subiu pouco mais de +20%.
Contudo, de junho para cá, os investidores vêm realizando parte dos lucros recentes e a bolsa volta a caminhar para baixo, ao passo que os juros futuros são precificados para cima.
Sumário
- Small Caps 2023
- Small Caps 2023 top 20 ações do índice
- Para onde vão os juros futuros?
- Cadê os gringos?
- Compre Small Caps antes que seja tarde demais
- Boas Small Caps seguem resultados
- O que é o índice SMLL
Small Caps 2023
Ao todo, existem 117 empresas que compõem o índice SMLL — 112 delas fecharam o pregão de ontem no negativo.
Entre as 10 maiores quedas do dia, praticamente todas estão no grupo de companhias mais sensíveis aos juros, seja por uma alta alavancagem financeira, seja pelos setores em que se encontram, como varejo e construção civil (altamente dependentes de consumo).
Enquanto isso, tivemos apenas 5 empresas operando no positivo dentro do índice, mas sem nenhuma correlação entre si, apenas algumas notícias específicas relacionadas a elas, que podem justificar os movimentos isolados.
Já em 2023, no entanto, o cenário ainda é positivo para as Small Caps, com 75 empresas do SMLL operando em alta, sendo que as 10 primeiras acumulam ganhos de mais de +80% – ajudando a compensar algumas quedas também expressivas no período.
Agora, a pergunta que não quer calar é: “para onde vão as Small Caps daqui para a frente?”.
Small Caps 2023 – top 20 ações do índice
Ação | Empresa | Qtde. Teórica | Part. (%) | Valor de mercado (R$) |
---|---|---|---|---|
EMBR3 | EMBRAER | 734.632.705 | 4,594 | 12.958.138.270 |
ALSO3 | ALIANSCSONAE | 532.616.595 | 4,344 | 13.051.325.311 |
STBP3 | SANTOS BRP | 857.415.274 | 2,739 | 7.682.474.580 |
TAEE11 | TAESA | 218.568.234 | 2,723 | 12.043.681.789 |
GOAU4 | GERDAU MET | 660.411.219 | 2,658 | 11.627.057.933 |
RRRP3 | 3R PETROLEUM | 235.661.666 | 2,638 | 7.453.931.833 |
GGPS3 | GPS | 366.447.063 | 2,292 | 11.823.474.997 |
SMFT3 | SMART FIT | 307.405.718 | 2,255 | 11.847.956.661 |
RECV3 | PETRORECSA | 274.957.807 | 2,055 | 5.996.636.732 |
BRAP4 | BRADESPAR | 251.003.438 | 2,027 | 8.690.635.095 |
CYRE3 | CYRELA REALT | 265.784.616 | 2,027 | 8.282.670.795 |
YDUQ3 | YDUQS PART | 289.347.914 | 2,023 | 5.980.869.267 |
SMTO3 | SAO MARTINHO | 143.294.210 | 1,968 | 13.466.590.955 |
FLRY3 | FLEURY | 345.269.967 | 1,836 | 8.196.921.569 |
COGN3 | COGNA ON | 1.815.524.541 | 1,707 | 4.860.410.084 |
AZUL4 | AZUL | 327.593.725 | 1,702 | 4.981.076.442 |
SAPR11 | SANEPAR | 201.081.482 | 1,683 | 7.151.024.516 |
IGTI11 | IGUATEMI S.A | 217.622.138 | 1,573 | 5.361.413.309 |
ALUP11 | ALUPAR | 145.652.351 | 1,529 | 8.956.854.314 |
MRVE3 | MRV | 376.187.582 | 1,451 | 6.001.845.549 |
Para onde vão os juros futuros?
Como vimos acima, a tendência é que as Small Caps continuem caminhando na direção oposta aos juros futuros até o final do ano.
Logo, a pergunta mais adequada seria: “para onde vão os juros futuros daqui para a frente?”.
Com um direcional mais claro dos juros, fica mais fácil especular se as Small Caps voltarão a subir em 2023 ou se continuarão operando entre perdas e ganhos.
Entretanto, esse direcional se tornou um pouco mais nebuloso após a última reunião do Copom, em que o Banco Central trouxe um tom mais duro (o famoso “hawkish”) em seu comunicado após o novo corte.
Ainda com preocupações fiscais e incertezas quanto ao controle inflacionário no Brasil, o BC elevou suas projeções de inflação para os próximos anos e praticamente anulou qualquer possibilidade de uma aceleração do ciclo atual.
Com isso, mesmo com a Selic em queda, o mercado passou a precificar os juros futuros para cima, culminando na queda da bolsa no pregão de ontem.
Agora, esse mesmo mercado continuará atento aos próximos passos do atual governo (principalmente em relação aos seus gastos) e com os indicadores econômicos que serão divulgados nos próximos meses.
Cadê os gringos?
Os juros futuros, porém, não são o único gatilho para uma retomada da bolsa brasileira.
Assim como vimos desde março, o fluxo de investimento estrangeiro foi o grande responsável pelo rali de alta recente e, agora, pela correção dos últimos meses.
Além dos juros em queda, o gringo também é um grande amigo das ações brasileiras, que viu muitas delas (principalmente as Small Caps) praticamente largadas em nosso mercado e passou a comprá-las.
Só que a alegria não durou muito e o fluxo logo secou. Com a saída dos estrangeiros e os investidores domésticos ainda fora (muitos seguem “presos” em investimentos de renda fixa), a bolsa não resistiu e começou a cair.
Caso existam novas sinalizações positivas por parte do atual governo e do BC, a tendência é que o gringo volte a olhar para o Brasil (ainda mais no preço atual) e a bolsa retome o ritmo.