Em uma semana, a situação na Americanas (AMER3) foi de “imaterial” para um pedido de recuperação judicial no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).
O pedido foi aprovado na quinta-feira, 19, após o juiz Paulo Assed Estefan entender que a companhia atende a todos os requisitos para o processo de RJ.
A empresa, comandada pelo famoso trio de empresários formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, acumula dívidas de R$ 43 bilhões e conta com 16,3 mil credores.
Americanas afunda perdas
Logo após a varejista confirmar o pedido de recuperação judicial, os papéis afundaram mais 30%, a R$ 1,16, e fecharam em queda de 42,53%, a R$ 1,00, em uma sessão novamente marcada por diversos leilões.
Desde a descoberta do rombo de R$ 20 bilhões – revelada pelo então CEO da companhia, Sergio Rial, que pediu demissão – as ações da Americanas já caíram mais de 96%.
Posicionamento da empresa
Em fato relevante, a Americanas afirma que “seguirá operando normalmente dentro das novas regras da recuperação judicial, que tem como objetivos principais a manutenção de empregos, pagamento de impostos e a boa relação com seus fornecedores e credores e investidores de forma geral.”
A empresa ressalta ainda que o grupo de acionistas de referência informou ao seu conselho de administração que “pretende manter a liquidez da companhia em patamares que permitam o bom funcionamento da operação de todas as lojas, do seu canal digital, Americanas.com, da AME e suas coligadas”.
Guerra judicial
No último dia 13, a companhia conseguiu na Justiça uma medida cautelar protegendo a varejista contra a cobrança de dívidas antecipadas por seus credores por um mês.
Os bancos credores não gostaram nem um pouco e o BTG Pactual (BPAC11), que tem R$ 3,1 bilhão a receber da empresa, foi o primeiro a apresentar recurso contra a decisão.
A primeira vitória na guerra judicial contra a Americanas aconteceu na quarta, 18, em decisão liminar do desembargador do TJRJ, que deu ao banco o direito de bloquear R$ 1,2 bilhão que desejava reter da varejista para se proteger de eventual calote.
A exemplo do BTG, o Bank of America, BV (ex-Banco Votorantim) e Goldman Sachs entraram na Justiça contra a liminar concedida na última sexta, 13, seguidos de Bradesco e Itaú na quinta, 19.
Bancos rejeitam acordo
A recusa dos bancos credores em se transformarem em acionistas da Americanas pesou no clima das negociações para a rolagem da dívida.
De um lado, os credores pediam que Lemann, Telles e Sicupira fizessem uma injeção de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões na empresa. Do outro, o trio de empresários mantinha que só poderia aplicar R$ 6 bilhões e que, para isso, os bancos teriam que converter parte da sua dívida em ações.
Sem acordo, o caminho mais viável foi a recuperação judicial.
Recuperação judicial
A recuperação judicial é um instrumento jurídico por meio do qual empresas podem evitar a falência.
Na decisão, a Americanas afirma que precisou recorrer ao processo de recuperação judicial para que o fluxo de caixa não fosse abalado, impedindo o cumprimento das atividades indispensáveis da empresa, incluindo o pagamento de fornecedores e funcionários.
A empresa ressalta, ainda, que uma eventual quebra representaria “um colapso” na cadeia varejista do Brasil.
Com a recuperação judicial em curso, a companhia entra em “prazo de blindagem” e tem dívidas suspensas por 180 dias para que consiga negociar com credores – esse intervalo pode ser prorrogado por mais 180 dias.
No entanto, nesse período, a empresa é obrigada a apresentar um plano de reestruturação para o balanceamento de sua estrutura de capital.
Postado originalmente por: Nord Research