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Finanças: Traídos pela Ganância        

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Aquele cheirinho de bull market e tudo se repete.

Tudo de novo

O bull market começa e logo o Ibovespa bate recordes de alta ao longo do tempo. O curioso é que toda vez é a mesma história e sempre com a mesma rotina.

Em pouco tempo, a euforia toma conta do mercado. A vinda do gringo, a entrada das pessoas físicas e a criação de novas gestoras trazem uma liquidez fenomenal para a bolsa.

Se apoiando nessa liquidez maior, as casas de ações aumentam o volumes captados – afinal, ninguém quer ficar de fora da festa.

Uma coisa parece puxar a outra e tudo ocorre em perfeita sincronia. Aconteceu nos anos 90, depois nos anos 2000 e acontece nesse último ciclo de alta da bolsa.

Fonte: Economatica

*Valores ajustados pela Inflação

Em diversas dessas ocasiões, essa história não acabou acabou muito bem. Mas, às vezes, acho que a indústria não liga para isso.

Parece que escolheu esquecer, como uma espécie de Alzheimer seletivo. Lembra e esquece o que quer..

Apostando no Volume

É impressionante o crescimento do volume de negociação na bolsa nas últimas décadas. Entre anos bons e ruins, a liquidez das ações cresceu bastante durante os mais diferentes ciclos.

Fonte: Economatica

*Valores ajustados pela Inflação

Note que o volume é inconstante. Sobe em momentos de mercado de alta e demora um tempo até consolidar a “nova normal” dos volumes.

Isso é típico de um mercado que está amadurecendo, trazendo novas empresas e outros players.

É um processo natural e quem é mais velho de mercado viu esse aumento de liquidez impactar diretamente no mercado de fundos. Conversando com alguns gestores que estão na praça desde os anos 90, lembramos que nos anos 2000 asset grande tinha 1 bilhões de reais.

Hoje, quase duas décadas depois, a realidade é completamente diferente. Temos visto no mercado gestoras que, com poucos tempo de operação, captaram esse volume sem grandes dificuldades.

E, francamente, até o momento isso não parecia ser um problema. Afinal, se a bolsa continuar aumentando a liquidez dos ativos e crescendo em número de empresas, gerir mais dinheiro não se torna um problema.

Não limita a montagem e desmontagem de operações e, sendo assim, preserva a estratégia.

O que preocupa é a projeção futura desse fenômeno. A impressão que tenho, dado o ritmo frenético de captação dos fundos de ações, é que as gestoras estão fazendo suas contas de capacity baseadas no volume negociado pelas ações hoje.

Essa é a única explicação que eu consigo pensar para justificar os 100 bilhões que entraram nessa classe nos últimos 3 anos  valor histórico e sem precedentes no nosso mercado.

O problema é que, de 2016 para cá, a liquidez em bolsa triplicou. Saímos de uma negociação de 100 bilhões/mês para algo em torno de 340 bilhões, atualmente.

E aí vem a pergunta: será que é esse nível de liquidez que irá prevalecer daqui em diante? Seria factível pensar em um “volume estrutural” nessa faixa?

Não sei e ninguém sabe. O que me incomoda é pensar que alguns gestores podem estar tratando isso como se fosse algo certo.

Vale lembrar que isso, no passado, já custou muito caro para uma série de fundos do mercado.

Traído pela ganância

Nesse bull market, o maior risco para a performance dos fundos não está na escolha das ações. Tampouco em erro de avaliação de cenário.

Se me perguntassem, como analista de fundos, qual a preocupação número 1 ao se analisar as assets daqui em diante, eu diria: ver se os gestores ficarão seduzidos pelo dinheiro fácil.

Em outras palavras, é ver se o gestor  em meio a esse “oba-oba” de volumes altos e euforia  entrará na onda de querer perpetuar esse cenário de volumes mais altos e utilizar isso como justificativa para continuar captando no mercado  dado que seu “novo” capacity agora é maior.

Porém, fazer isso é pagar na frente por algo que você não sabe. Além disso, uma vez feito, é complicado voltar atrás.

Dali em diante, o fundo terá que conviver com esse fardo e talvez até mudar a estratégia do para se adequar à nova realidade.  

Resultado disso: aos poucos, os retornos não serão mais os mesmos e a capacidade da gestão de responder a crises fica ainda mais limitada  o que, certamente, irá deixar muita gente pelo caminho.

No final, como em outros ciclos, o gestor acaba sendo traído pela própria vontade de ser maior e mais relevante. É apunhalado pela sua ganância.

Do lado de cá, de quem observa os fundos, estamos atentos a isso.

Queremos aqueles gestores que sabem o nome do jogo que eles estão jogando.

E, esse jogo não é de ser grande e capturar grandes taxas de administração. É um jogo de gerar performance.

Curiosamente ou não, quem sabe muito bem disso é justamente quem tem mais tempo de estrada.

Talvez porque já aprenderam com as loucuras feitas no passado.

O game é geração de alpha

A melhor maneira de estudar tudo isso é conversar com quem já é velho de mercado e já viveu esse cenário diversas vezes.

Conversei com dois gestores, ambos nessa estrada há mais de 20 anos, e a resposta foi unânime:

O negócio de asset não é sobre quem tem maior volume sob gestão, é um jogo de geração de alpha. O volume gerido, em hipótese nenhuma, pode atrapalhar isso.”

Em meio ao surto das captações, escutar isso é música para os nossos ouvidos.

Vemos que quem está nessa estrada há mais tempo, geralmente, é mais conservador nessa área. Quer captar dinheiro também, mas vai sentindo como se comporta o volume da bolsa antes de tomar qualquer atitude.

Fecha o fundo e espera a “nova normal” da liquidez se impor. Trabalha os volumes como um enxadrista habilidoso. Valorizamos muito isso.

Então, ao avaliar um fundo, cuidado com esse ponto. Ele pode não aparecer muito na sua cota hoje, mas pode ser o maior risco de longo prazo para o seu investimento em fundos de ações nos próximos anos.

Um abraço

Luiz

Postado originalmente por: Nord Research