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Finanças: (Ainda) tem uma guerra lá fora

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Deflagrada nova rodada de hostilidades entre EUA e China

Feliz 2019

Existe coisa mais inútil do que feriado em quarentena?

De qualquer forma, o dia é de retomada de atividades após o Primeiro de Maio. E o tom lá fora não é dos melhores: a bola da vez é Trump vociferando contra China — mais especificamente, ameaçando (re)taxar produtos chineses. Aparentemente esse negócio de live do Roberto Carlos em pleno abril bagunçou o espaço-tempo e voltamos para 2019.

O arroubo se dá logo após o Secretário de Estado, Mike Pompeo, afirmar que existem “fortes evidências” de que o vírus foi gestado em um laboratório em Wuhan.

Com diversos mercados fechados na Ásia, coube a Hong Kong quantificar a azia do lado de lá. A despeito de boas notícias locais, com países entrando na “fase 2” de retomada de atividades, as praças europeias repercutem o clima ruim.

Do lado de cá do Atlântico, tudo dentro do esperado: futuros de NY para baixo, dólar e Treasuries para cima. Falas do velho Warren sobre a indústria de transporte aéreo repercutem com especial força no pré-market.

Caminhamos, assim, para um começo de maio conturbado, com prováveis reflexos na B3. A julgar pelo que se desenha, os defensores do sell in May and go away já devem estar esfregando as mãos.

Não ficamos atrás

Mas não invejemos Trump: também temos uma hostilidade para chamar de nossa. O final de semana foi marcado por um grande ato pró-Bolsonaro em Brasília — e o PR não poupou a oportunidade de tecer críticas públicas à atuação recente do Legislativo e do Judiciário.

Jair declarou que não mais admitiria a “interferência” dos demais Poderes sobre o Executivo e sugeriu, en passant, que conta com o “apoio” das Forças Armadas — cujos representantes, por sua vez, logo se apressaram em publicar notas reiterando seu compromisso com o processo democrático.

Enquanto o Presidente ladrava, o Congresso avançava no projeto de ajuda financeira aos Estados: o Senado aprovou, na noite de sábado, o “Programa Federativo de Enfrentamento ao coronavírus”. Trabalhos têm continuidade na Câmara na manhã de hoje. Previsão é de repasses e suspensão de dívidas, tudo no montante de 125 bilhões de reais.

Ah! E temos Copom amanhã e quarta!

Por último, mas não menos importante, Moro depôs em Curitiba por 8 horas no sábado. Lá vamos nós passar mais uma semana com um olho no gato e outro no peixe: de um lado, o noticiário econômico e corporativo; do outro, não menos importante, o político.

Quarentena no Brasil é tudo, menos tédio. Brasília nunca decepciona.

Bandeira amarela

O mercado havia ficado pimpão com os bancos após os resultados do Santander Brasil. Mas foi lance passageiro.

Os dias seguintes foram de moagem: primeiro, resultados de testes de estresse promovidos pelo Bacen deram a ideia do montante de provisões adicionais que se fariam necessárias na hipótese de defaults em maior escala, por conta do Covid. Depois, Bradesco divulgou resultados com megaprovisões e tom lúgubre.

Hoje, após o fechamento, tem resultados de Itaú-Unibanco. É esperar para ver.

Fim do mundo? Claramente não: os maiores bancos brasileiros já enfrentaram muita coisa. E, por conta disso, eles têm um excelente histórico de gestão de risco e conservadorismo no provisionamento ante créditos duvidosos. Tenho para mim que é mais provável que as instituições se preparem para o worst case scenario e, à medida que o horizonte se mostre mais claro, revertam provisões.

Entre os grandes bancos, a situação é confortável em termos de indicadores de risco. Vale, contudo, cuidado adicional com instituições exóticas — aquelas que anunciam CDBs a taxas exorbitantes em umas plataformas por aí.

A Marília tem feito um trabalho intenso de análise de risco de crédito dessas instituições lá no Renda Fixa Pro. Eu não investiria no Banco-Do-Zequinha-Garantido-Pelo-FGC antes de falar com ela.

Caixa, pra que te quero

Até o Warren entrou na onda das lives: em tempos de Covid-19, o encontro anual da Berkshire Hathaway teve formato inédito. São 5 horas de aula grátis. Das melhores. Todo mundo deveria assistir.

Não entrarei em grandes detalhes, porque tenho certeza que o Bruce o fará melhor do que eu.

Chamo a atenção, contudo, para um único ponto: Buffett fez fortes declarações sobre as companhias aéreas, indicando que saiu completamente do setor diante de evidências de que o mundo mudou — e, com ele, terá a indústria também que mudar.

Se o Oráculo de Omaha erra, muda de ideia e segue em frente, talvez todos nós tenhamos algo a aprender nesse sentido. Aprendamos todos a olhar para nossas posições perdedoras de forma menos apaixonada.

E sim, o cenário do transporte aéreo é muito conturbado: sempre foi uma indústria de margens muitíssimo apertadas. Para as brasileiras (ou latino-americanas, para incluir a LATAM), mais ainda: a flutuação do câmbio eleva ao quadrado a volatilidade do combustível, que responde por parte relevante da estrutura de custos.

Se você não entrou no site de uma delas para ver como está a malha aérea nesse momento, faça-o: é de chorar. O business virou, no curto prazo, uma disputa de respiração: quem tem mais caixa sobrevive.

Deve vir ajuda estatal? Deve. Se Brasília permitir.

Postado originalmente por: Nord Research