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Blog do Leo Lasmar – “Combinar resultado”, mais uma vergonha para o um clube GIGANTE.

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A Alemanha era a grande favorita no seu grupo na primeira fase da Copa de 1982. Uma chave com Áustria, Chile e Argélia não deveria ser problema para a então bicampeã mundial. Logo na estreia, porém, o time alemão foi surpreendido por uma valente seleção Argelina, que venceu o jogo por 2 a 1, marcando a primeira vitória de uma equipe africana por uma europeia em mundiais.

Os jogos do grupo foram avançando, com a Argélia perdendo para a Áustria, que tinha vencido o Chile, e a Alemanha se reabilitando ao golear a seleção chilena por 4 a 1 na segunda rodada. De forma que na última rodada, já sabendo da vitória por 3 a 2 da Argélia sobre o Chile, Áustria e Alemanha se enfrentariam para fechar o grupo.

Diante disso, a conta era clara: vitória por um gol de diferença dos alemães classificaria as duas equipes para a segunda fase, pelo saldo de gols. Em campo, massacre alemão nos primeiros 10 minutos, gol de Hrubesch e depois disso, 80 minutos do mais constrangedor jogo de compadres, com as duas equipes apenas tocando a bola.

Esse resultado impactou muito nas Copas seguintes, já que a partir de 1986, a Fifa passou a marcar os dois jogos de cada grupo na última rodada para o mesmo horário, evitando assim que equipes jogassem já sabendo o resultado das demais.

Outra história. Lausanne, na Suíça, 1954. A Copa de 1954 tinha um formato exótico na fase de grupos. Com grupos com quatro times, em vez de jogarem todas contra todas, cada seleção faria dois jogos, contra adversários de dentro grupo. Quem pontuasse mais, avançaria. O Brasil, na sua estreia, massacrou o México por 5 a 0. A Iugoslávia venceu também na primeira rodada, a França, por 1 a 0. A a rodada seguinte, em Lausanne, colocava brasileiros e iugoslavos frente a frente. O empate colocaria ambos na próxima fase, e eliminaria a França, que vencera o México.

Em campo, jogo equilibrado no primeiro tempo e 0 a 0. No início da segunda etapa, Zebec abriu o placar para os iugoslavos, mas Didi empatou. E o Brasil foi pra cima em busca da virada. Sentindo a pressão brasileira, jogadores iugoslavos faziam sinais com as mãos repetidamente para que o time abrandasse o ritmo, mas o Brasil atacava e atacava.

O 1 a 1 prevaleceu e alguns jogadores brasileiros saíram cabisbaixos e decepcionados, até saberem (apenas no hotel) que o empate tinha classificado as duas seleções. Dois dias depois a seleção brasileira voltava a campo para enfrentar a fortíssima Hungria, muito mais cansada do que se tivesse aceito a “proposta” dos iugoslavos para o jogo de compadres. Como esperado, foi eliminada.

“Jogos de compadre” sempre existiram em competições de pontos corridos ou fases de grupos ao longo dos tempos, minha gente. São distorções do regulamento. Essas duas histórias de Copas do Mundo exemplificam bem isso e dialogam diretamente com o que vimos ontem no Castelão. Aliás, o comportamento de Cruzeiro e Sampaio Corrêa nem é novidade para o torcedor na Série B.

Na última rodada da competição em 2020 (jogada já em janeiro de 2021) aconteceu algo semelhante, quando o Cruzeiro enfrentava um Náutico, que precisava de um empate no Independência para escapar do rebaixamento, e teve Fábio expulso ainda no primeiro tempo.

Na segunda etapa, com um a menos, o time celeste se fechou e o Timbu, com o 0 a 0 que lhe garantia na série B, também não agrediu. Ficou com a bola esperando o tempo passar.

O problema todo em jogos que tiveram o segundo tempo que vimos em São Luís, neste momento para o Cruzeiro, é o contexto. Um clube que trabalha para resgatar sua imagem, para reaproximar seu torcedor e dar a ele esperança, precisa vencer. Jogar pra vencer, tentar, batalhar por cada resultado.

Na medida em que o Cruzeiro, ainda com chances remotíssimas de rebaixamento, “aceitou a proposta” do Sampaio Corrêa e abrandou o ritmo em São Luís, o time está fazendo qualquer coisa, menos isso. Está se acomodando dentro de um campeonato, que nem deveria estar disputando. Está aceitando o contexto.

É bem verdade que deve ser complicado até mesmo motivar os jogadores em um cenário de mais uma temporada de decepção com pouco a se disputar nas rodadas finais. Mas é exatamente aí que está o problema.

O Cruzeiro prepara-se para uma possível reformulação dessa temporada pra próxima, e muitos dos atletas do atual elenco sequer tem lugar garantido no plantel para 2022. Afinal, querem ficar? O natural seria aproveitarem essas últimas oportunidades na temporada para mostrar rendimento e firmar lugar para o ano que vem, mas será que querem mesmo isso?

O que devasta essa reta final de ano no Cruzeiro é, mais uma vez, a falta de perspectiva. Falarão da SAF (Sociedade Anônima do Futebol), que é a esperada transformação do clube em uma empresa, com investidores aportando capital, mas sinceramente, como confiar plenamente em um modelo que depende do interesse de terceiros em adquirirem o clube e investir com pouca chance de recuperação imediata de investimento?

Um clube gigante, é verdade, com uma base de torcedores fiel e enorme, mas também com uma dívida gigantesca, ambiente político conturbado e que sequer tem uma vaga na elite do futebol brasileiro. É absolutamente compreensível que um investidor prefira explorar outras opções.

Enquanto a SAF (Sociedade Anônima do Futebol) é sonho, o Cruzeiro merecia um cenário diferente criado por si só, por iniciativas que privilegiassem o curto prazo. Eu sei, é extremamente difícil, mas quando a atual diretoria aceitou o desafio de comandar o clube, tenho certeza que sabiam que seria exatamente isso que o clube exigiria nessa página triste de sua história.

Criatividade para obter receitas e resolver problemas. Ações efetivas no curto prazo. Passar credibilidade para jogadores, potenciais investidores e, principalmente, torcida.

Quando escutamos Luxemburgo clamar pelo “transfer ban” na Fifa para que o clube possa contratar para 2022, é porque ele sabe de algumas coisas: primeiro, que esse elenco atual, mesmo que fique todo, não é o bastante para subir de divisão ano que vem.

Depois, que alguns jogadores desse elenco talvez já tenham decidido sair, pelos atrasos de salários e outras perspectivas em clubes que talvez tenham um 2022 mais tranquilo que essa batalha celeste para a reorganização. Luxemburgo sabe que, sem poder ir ao mercado em janeiro, a retomada é impossível e temo que a permanência dele próprio, também seja.

Ainda resta um jogo, contra o Náutico. Jogo que o torcedor do Cruzeiro, mesmo maltratado mais uma vez nessa quinta, deve estar lá para se fazer ouvir. Vai estender a mão novamente, como fez contra o Brusque. Vai mostrar que se o time honrar em campo, se mostrar um novo caminho fora dele, a torcida estará lá para torná-lo mais forte.

A volta do público desde o primeiro jogo em 2022 é um trunfo espetacular para que o Cruzeiro faça sua retomada, mais do que a SAF, mais do que qualquer renovação de contrato. Cabe ao time começar, desde já, a cuidar bem desse reencontro com o torcedor e entregar para ele, um traço que seja do Cruzeiro das páginas heroicas e imortais do passado. Um Cruzeiro que não se acomodava em campo, principalmente em jogo de Segunda Divisão.

Por Henrique Fernandes – GE

FUTEBOL MINAS FM