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Bi da Libertadores 1997

Por Hugo Serelo

A caminhada começou muito antes. Foi dentro do Palestra Itália, um ano antes, contra o Palmeiras do ataque dos 100 gols. O Cruzeiro foi pra dentro da toca do lobo e saiu de lá com o caneco da Copa do Brasil. O herói daquela noite seria novamente herói em 97: Nelson de Jesus da Silva, o Dida.

Naquela final, o goleiro canhoto pegou até tiro de bazuca à queima-roupa. Deu mais um título nacional ao clube e classificou o Cruzeiro pra Libertadores 97.

Na Tábua da Beirada

O começo da jornada tinha roteiro de catástrofe. O Cruzeiro conseguiu perder as três primeiras partidas na fase de grupos contra Grêmio, Sporting Cristal e Alianza.

O técnico Oscar rodou e a diretoria buscou Antônio Lopes, que também não aguentou. O jeito foi ir em busca de Paulo Autuori, campeão brasileiro em 95 pelo Botafogo.

O Cruzeiro sabe se agigantar diante das dificuldades e surpreendeu vencendo os três últimos jogos da fase de grupos. O mais difícil foi contra o Grêmio, no Olímpico, onde o Cruzeiro venceu por 1×0 com gol de Palhinha.

O Cruzeiro passou raspando e o milagre motivou jogadores e torcida.

Oitavas, Outra Vez Dida

Contra o El Nacional do Equador, o Cruzeiro perdeu o jogo da ida por 1×0. Pra volta, a Torcida do Cruzeiro lotou o Mineirão e viu o time vencer por 2×0. Era o suficiente, até que no finalzinho um gol de falta contou com o azar de a bola desviar na barreira e entrar no contrapé de Dida. 

Catar penalidades foi a maior marca na gloriosa carreira do baiano. O Mineirão comemorou, mas não se surpreendeu quando Dida voou pra defender e classificar o Cruzeiro pras quartas de final.

Quartas de Final

O Grêmio era simplesmente campeão da Libertadores 95 e do Brasileiro 96.

O primeiro jogo foi no Mineirão, e o O Cruzeiro venceu o jogo por 2×0. Gols de Elivélton e Alex Mineiro.

Na volta, fomos beneficiados pela Copa América. As convocações de Paulo Nunes e Carlos Miguel (que foram pra Seleção de Zagallo), além de Arce (que foi pra seleção paraguaia) tirou a base dos gaúchos.

No Olímpico, o Cruzeiro administrava o empate até que Fabinho se contundiu no segundo tempo. O volante teve que ficar em campo pra cumprir número. Mesmo baleado, o camisa 5 apareceu na área e fez um gol, algo raro em sua carreira de primeiro volante.

O Tricolor ainda pressionou e chegou a virar o jogo pra 2×1, mas já era tarde. Sacramentou-se uma freguesia que vinha desde o Brasileiro 66, passava pela final da Copa do Brasil 93 e, no futuro, se repetiria na semi-final da Libertadores 2009.

Semi-Final: Dida outra vez!

O Cruzeiro pegou um velho rival de Supercopa, o gigante Colo Colo do Chile. Era o sétimo confronto mata-mata somente naquela década.

No primeiro jogo, a Raposa bateu de pouco no Mineirão. O Cruzeiro massacrou o jogo todo, mas abusou dos gols perdidos do limitado Alex Mineiro.

O jogo de volta, no Chile, foi um tiroteio. Num embate emocionante, o bom time do Colo Colo chegou a abrir 3×1, placar que eliminava os mineiros.

A estrela de Cleison brilhou e num gol de raça recolocou o Cruzeiro em igualdade.

Penaltys. Adivinha que estrela brilhou de novo?

Dida pegou duas penalidades. A primeira, uma paulada de Basay que Dida teve a frieza de não escolher o canto e defendeu no meio do gol. Na segunda, voou pra pegar um chute impossível que foi alta, no canto e forte. Cinematográfico.

O time estava classicado para sua terceira final de Libertadores.

A Final

Novamente, um time da fase grupos era nosso adversário. O Sporting Cristal era uma grande equipe e havia eliminado o badalado River Plate, campeão da edição de 96. Era um time de forte marcação e tinha o meio comandado pelo camisa 10 brasileiro, Julinho.

O primeiro jogo foi no Peru e tanto Cruzeiro como Cristal foram cautelosos. O Cruzeiro teve algumas chances, mas desperdiçou uma possibilidade de vitória.

A final seria decidida em Belo Horizonte.

O Título

No Mineirão, o primeiro tempo foi tenso. O Cruzeiro jogava com os habituais três volantes e teve certo domínio. Mesmo assim não houve chance relevante.

Na segunda etapa, o jogo foi ficando tenso até que o Sporting impôs uma intensidade e começou a arriscar mais.

Aos 25 minutos, Solano cobrou uma falta com uma pancada no canto direito. Dida espalmou dando rebote pra frente e um atacante apareceu pra emendar de primeira, mas não contava com a incrível recuperação de Dida que numa agilidade monstruosa se recompôs e fechou o gol. Uma defesa pra História. O susto foi grande e a torcida teve que fazer sua parte empurrando o time na voz.

Elivélton

Cinco minutos depois, a glória.

A defesa do Sporting cortou de cabeça um escanteio. O rebote foi pra fora da área e encontrou a perna direita do canhoto Elivélton. O garoto chutou fraco, mas a tradição do Cruzeiro conduziu a bola pra que passasse por debaixo da palma da mão do goleiro Belario.

O Mineirão explodiu e o autor do gol não correu pra câmera, não beijou a aliança pra noiva, não fez média com torcida organizada, e nem fez dancinha estúpida.

Elivélton atravessou o campo e correu pra abraçar Dida e agradecer pela defesa milagrosa. Um gesto simples que revela a grandeza de um homem. Um herói reconheceu um verdadeiro herói.

Essa é a escrita de mais uma página heroica imortal.

Hugo Oliveira Pegoraro Serelo, 32 anos, é repórter policial, pesquisador esportivo e apresentador de TV e rádio. Nasceu em Andradas-MG e mora em Divinópolis-MG. Torce pro Rio Branco de Andradas e tem uma leve simpatia pelo Cruzeiro Esporte Clube.

https://soundcloud.com/sistemampa/podcast-sobre-a-libertadores