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Os pais também são gente

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“Para mim, qualquer coisa serve”. Essa é uma frase desastrosa repetida por muitos pais e possui um poder fantástico de transformá-los em “qualquer coisa”, em algo sem valor, que aceita tudo e não merece respeito. Somos gente e não “qualquer coisa”. O nascimento dos filhos é um momento único em nossas vidas, no entanto, não podemos permitir que esse momento tão especial marque o encerramento de nossa existência, anulando-a por completo, para vivermos única e exclusivamente em função deles. É óbvio que os filhos precisam de toda a nossa atenção, de todo nosso cuidado, de todo nosso amor e não devemos medir esforços para proporcionar-lhes uma vida plena. Também não vou defender, aqui, aquele discurso de que precisamos nos amar em primeiro lugar, pois o amor de verdadeiros pais em relação aos filhos é maior do que a si mesmos e não vejo qualquer problema nisso.

O problema está quando, em detrimento do amor que sentimos aos nossos queridos, esquecemos de nós mesmos e nos abandonamos. Por que viver em função dos filhos se podemos viver todos? Aqueles que decidem viver em função dos filhos, futuramente, quando suas crias tomarem seu rumo, constituírem sua família e desligarem do contato familiar, o que lhes restarão? Um ninho vazio? Uma tristeza profunda? Uma depressão?  Toda vez que nós mesmos não nos valorizamos como gente, como pessoa humana que merece respeito, também somos esquecidos e tratados de qualquer jeito.   Quando os pais não assumem seu caráter humano, muitos são os filhos que passam a enxergá-los, não como gente, mas como uma máquina que precisa trabalhar vinte e quatro horas para satisfazer-lhes todos os desejos. Veem os pais como coisas e se relacionam com eles com frieza absurda.  Sem compaixão, acreditam que seus genitores não têm vez. Querem tudo para si, não aceitam receber não como resposta, reclamam de que não pediram para nascer e de tudo que recebem, nada valorizam.

Na educação de nossos filhos devemos assumir nossas responsabilidades de pais, buscando fazer sempre o nosso melhor, sem, no entanto, vestir a máscara do todo poderoso, do super-herói, do inatingível; pelo contrário, devemos deixar que eles percebam que somos humanos e como gente merecemos e temos o direito de sermos tratados com consideração e respeito. Como gente, possuímos sentimentos e somos atingidos quando se dirigem a nós de forma estúpida, com palavras ofensivas, desrespeitosas ou grosseiras. Somos únicos e não uma massa e, como pessoa única possuímos nossos valores, nossas qualidades e nossos sonhos e não podemos nos permitir morrer em vida.

Certa vez, Steve Jobs, fundador da Apple, citou que “Cada sonho que você deixa para trás, é um pedaço do seu futuro que deixa de existir”. Quem não sonha para si mesmo, quem não busca valorizar-se, quem se trata de qualquer jeito, não está vivendo como pessoa humana, criada por Deus para ser feliz e por maior que seja o seu desejo, não conquistará o valor merecido e o respeito do outro. Lembro-me, certa vez, do relato de uma mãe que me chamou muito a atenção. Era final de ano e na empresa onde ela trabalhava haveria uma festa de confraternização, no entanto, o convite era exclusivo para o funcionário, não sendo permitida a presença de nenhum familiar. Ela, separada, mãe de dois adolescentes, ficou muito bronqueada por não poder levá-los e concluiu toda poderosa: “Onde não cabem meus filhos, também não me cabe, por isso, não vou”.

No dia da festa, os filhos despediram-se dela com um breve “fui” e passaram a noite fora, enquanto ela perdeu a confraternização e passou a noite sozinha em sua solidão. O amor e o respeito do outro não se cobram, não se exige, não se compra. O amor que esperamos de nossos filhos é uma conquista que se inicia a partir do momento em que nós mesmos nos enxergamos e agimos como pessoa humana, como gente que aprendeu a se valorizar, a se respeitar e amar a si próprio. Existe vida após o nascimento dos filhos e temos o direito de vivê-la em sua plenitude.

Texto: José Tito – Regional Divinópolis de AE

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