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Sobrevivente de rompimento de barragem em Mariana morreu em Brumadinho

BRUMADINHO (MG) — Aos 31 anos, o soldador Erídio Dias costumava narrar aos irmãos, os pedreiros Laércio e Israel, como sobrevivera ao rompimento da barragem do Fundão em 2015, em Mariana , o maior desastre ambiental do Brasil, que matou 19 pessoas.

Vez por outra, o funcionário da Vale se vangloriava do episódio. Caçula de seis irmãos, era um dos mais aventureiros, migrando Brasil afora por conta do emprego. Esperava as orientações da Vale e se deslocava para onde o trabalho aparecia.

— Ele contava que escapou antes dessa aí em Mariana, mas veio morrer aqui — lamenta o irmão Laércio.

Na tarde de ontem, na companhia da mulher de Erídio, os irmãos permaneciam quietos na fila para o recebimento da doação de R$ 100 mil, anunciada pela mineradora para parentes daqueles que morreram com o rompimento da barragem 1 da Mina do Feijão. A feição inexpressiva e o comportamento lacônico apenas traduziam a descrença, até mesmo, com o benefícios que estavam prestes a receber.

— Não tenho esperança disso aí, não. Tem tanta gente de Mariana que não recebeu nada, aqui pode ser a mesma coisa — disse Laércio.

O irmão rememora a história contada numerosas vezes pelo irmão mais novo: a vitória por ter sobrevivido à tragédia de Mariana:

— Lá, ele contava que saiu para almoçar e, quando voltou, já estava tudo inundado.

Na fila, a indignação dos irmãos Laércio e Israel foi potencializada quando receberam a notícia, trazida por uma voluntária, de que teriam de voltar a Brumadinho no sábado para efetuar o cadastro de recebimento da doação. Moradores do vilarejo de Igarapé, a 55 quilômetros dali, ficaram consternados:

— Poderiam ter avisado antes. Não tenho onde dormir por aqui, agora vou ter que voltar? É uma desorganização — disse Laércio.

Pai de um filho de 7 anos de idade, Erídio continua desaparecido. Ele é uma entre as 238 pessoas que ainda não foram encontradas pelas equipes de resgate.

Os familiares dos desaparecidos começaram ontem a se cadastrar para receber a doação de R$ 100 mil oferecida pela Vale. Os pagamentos deverão ser realizados em até três dias úteis, a contar do dia do cadastro. Para parentes de vítimas que não possuem conta bancária, um cartão de crédito com limite de R$ 100 mil será disponibilizado.

— Essa quantia não exclui outros benefícios. Haverá ainda a indenização pela morte, os direitos da relação trabalhista, de acidente de trabalho e o findo de garantia — afirma o defensor-geral de Minas Gerais. Gério Patrocínio Soares.

Segundo ele, os R$ 100 mil serão pagos de forma líquida, sem que incidam impostos sobre o valor.

— A gente trabalhou para que a Vale tornasse esse valor líquido. Se tiver qualquer incidência de imposto, a Vale terá de arcar.

A prioridade na ordem para os pagamentos são de vítimas que tinham filhos menores de idade e de cônjuges com união estável comprovada, respectivamente. O fato de haver vítimas que mantinham duas famílias, ambas com filhos pequenos, no entanto, torna a situação mais complexa do que parece, segundo o defensor público Rômulo Carvalho. Para esses casos, a Defensoria Pública de MG oferece ajuda jurídica aos familiares.

Fonte: O Globo