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O incêndio da Rádio Cultura: veja acidente que consumiu todo o prédio, em 1951

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Felipe Machado

Por Felipe Machado

Em 8 de fevereiro de 1951, um incêndio irrompeu o centro de Divinópolis e destruiu todo o prédio da Rádio Cultura, precursora do Sistema MPA de Comunicação. Conheça a história deste acontecimento sob as chamas do passado que ainda remontam a memória dos divinopolitanos mais antigos.

Antigo prédio da Rádio Cultura, na Avenida 1º de Junho, local onde funcionou entre 1946 e 1951, até ser consumido pelo drástico incêndio. / Acervo Grupo Memória de Divinópolis.

Rádio Cultura de Divinópolis ZYH2 foi inaugurada no ano de 1946, ocupando um prédio alugado na Rua Rio de Janeiro, sob a direção do Sr. José Puntel Sobrinho e os locutores Sebastião Silva e Marcelo Franklin, que possuíam passagens por grandes emissoras da época.

O Divinópolis Jornal, um dos principais meios de informação do município na época, divulgou os acontecimentos que estrearam a difusão da Rádio Cultura de Divinópolis:

“A nossa brilhante “Rádio Cultura” na sua noite inaugural de ontem, executou excelente programa, tendo sido convidado para o ato as autoridades locais e componentes da alta sociedade divinopolitana. Foi uma noite brilhantíssima, que agradou não só aos presentes, como a todos aqueles que tiveram o prazer de acompanhá-la através de seus rádios. Cabe-nos ressaltar o denodo de seu idealizador Sr. José Puntel Sobrinho, que não mediu esforços de agregar essa célula aos divinopolitanos. Os programas de estúdio já foram, cuidadosamente elaborados e entre esses podemos salientar:

– a Orquestra do Cel. Antonio Olimpio sob a regência do Prof. José Ferreira Leite ( para músicas populares Típicas e Regionais) ;

– o cantor José Puntel Sobrinho para as canções portenhas;

– a soprano Maria de Lourdes Marques para as partituras de música de classe;

– a jovem cantora Maria de Lourdes Ferreira para as músicas populares brasileiras;

– o músico Jacinto Guimarães para solos de violino e piano;

– o jornalista José Fernandes que apresentará, diariamente, às 19h uma série de crônicas diversas “Uma Crônica para Você” . Ele dirigirá também um Programa de Calouros para para talentos da terra e ainda, um grupo de rádio-teatro.

Assim sendo, o denodado esforço do José Puntel Sobrinho viu-se coroado de êxito, pelo que o felicitamos desejando a nossa querida emissora votos de feliz duração e continua prosperidade.”

Artigo não assinado, publicado no Divinópolis Jornal em 1946

Fundação da Rádio Cultura de Divinópolis ZYH2, em 1946 , contando com figuras ilustres como Jovelino Rabelo, Reny Rabelo e Pedro X. Gontijo / Arquivo José Valério — Acervo EmRedes.

A programação da Rádio Cultura de Divinópolis foi entregue ao brilhante José Fernandes, estudante do Ginásio São Geraldo, que posteriormente se tornou consagrado apresentador e jurado de televisão. Nas telas, ficou conhecido por ser “o jurado mais rigoroso de todos os tempos”, por só ter concedido nota 10 para grandes artistas. Em sua lista de nota máxima, estão nomes como: Clara Nunes, Cláudia, Elis Regina, Maysa, Orlando Silva, Carlos José, Tito Madi e Dick Farney. Era mineiro, nascido em Arcos, de inteligência brilhante, e morou por alguns anos em Divinópolis, onde foi locutor e repórter de Rádio Cultura.

O conteúdo dos programas era escolhido por José Fernandes com muito critério. A programação, segundo pesquisa de Salete Michelini, colaboradora do Grupo Memória de Divinópolis, “contava com leitura de crônicas, poesias e textos literários, apresentação de cantores e músicos ao vivo, novos talentos musicais, crítica de cinema e curiosidades em torno do mundo cinematográfico, dicas de saúde, beleza, casa e cozinha, noticiário nacional e internacional, além, é claro, da cobertura dos eventos e festas da cidade, etc”.

Max Lemos Moreira, pianista; José Puntel Sobrinho, diretor da Rádio Cultura; e Célio Moreira, em apresentação na Rádio Cultura de Divinópolis / Acervo pessoal de Marli França Vilano — Grupo Memória de Divinópolis.

Em 1948, o maior sucesso da emissora era a voz do cantor Jair Flores, considerada romântica e aveludada. Este se apresentava todas as segundas, quartas e sextas-feiras, às 9 da noite, acompanhado pelo pianista e compositor Max Lemos, formando uma dupla muito prestigiada e admirada pelos ouvintes divinopolitanos.

O comércio também apoiava as apresentações. Nenhum ramo comercial queria perder a oportunidade de ser citado como patrocinador e apoiador dos belos recitais e das grandes apresentações musicais da Rádio Cultura.

Salão da Radio Cultura de Divinópolis, durante evento festivo em 1949 / Acervo Grupo Memória de Divinópolis.

Em 8 de fevereiro de 1951, um grande incêndio destruiu completamente as instalações da Rádio Cultura. O prédio foi consumidos pelas chamas, juntamente com todo o material difusor e todo o aparelhato da rádio. Por muito tempo a cidade ficou sem figurar na lista das cidades do interior de Minas Gerais como tendo uma emissora de Rádio.

Estado da Rádio Cultura após ser consumida pelo fogo, em 1951 / Acervo EmRedes.

Na capital, a notícia do incêndio irrompeu as páginas dos jornais:

“VIOLENTO INCÊNDIO EM DIVINÓPOLIS” — “Despachos procedentes de Divinópolis informam que irrompeu, na magrugada de hoje, violento incêndio naquela cidade (…)”

Hiram Vasconcelos, testemunha do terrível incêndio, relembra o acontecimento, a solidariedade da vizinhança e a dificuldade em se combater as chamas:

“(…) Eu estava lá, morava no prédio anexo, Av. 1º de Junho, 599. Não havia Corpo de Bombeiros nem brigada de incêndio em Divinópolis. O que havia era amizade, solidariedade, empenho, coragem e latas d’água no combate às chamas. Assim, pode-se evitar a propagação do fogo aos prédios vizinhos. Meu tio Orozimbo Vasconcelos, irmão dos proprietários do prédio (Onésimo, meu pai, e Durval), homem habituado ao trabalho árduo, teve papel importante no combate ao incêndio, liderando. Cogitou-se pedir socorro ao Corpo de Bombeiros de Belo Horizonte, mas o trajeto demoraria mais de 3 horas e seria inviável.”

Equipamentos da Rádio Cultura destruídos no incêndio em 1951 / Acervo EmRedes.

A Rádio Cultura renovada foi para a Rua Rio Janeiro, quase na esquina de 1º de Junho, em prédio do sr. Álvaro Ameno, ocupando o segundo andar. Na parte de baixo, Álvaro explorava uma padaria. Esse prédio ficava logo abaixo do Leão da Esquina e Barbearia do Mingote. Depois que o Álvaro deixou o local, a loja foi ocupada pelo Banco Mineiro, onde Rosenwald Hudson de Oliveira era gerente e João Silva, contador.

Detalhes do Incêndio no prédio da Rádio Cultura, em 1951 / Acervo EmRedes.

Em 1961, com pioneirismo e gana, Jovelino Rabelo e Mayrinck Pinto de Aguiar fizeram uma parceria certeira para o ressurgimento da antiga Rádio Cultura, marcando um período progresso vertiginoso da comunicação em Divinópolis. Foi em abril de 1961 que Jovelino, um dos fundadores da Rádio Cultura de Divinópolis, propôs a Mayrinck uma sociedade na emissora. Este, a convite do irmão, Dulphe, já trabalhava na rádio e aceitou a oferta de Jovelino. Assim, o radiofusor e administrador natural de Mateus Leme, passou administrar a emissora fundada em 1946.

Mayrinck Pinto Aguiar, sócio de Jovelino Rabelo que impulsionou a Rádio Cultura de Divinópolis a partir da década de 60 / Acervo Grupo Memória de Divinópolis.

Ao assumir a administração da emissora, Mayrinck percebeu que a situação financeira da rádio era precária, e que o patrocínio e anúncios dos comerciantes locais não eram tão garantidos e não conseguiam manter a rádio como um todo. A partir daí, o administrador passou a colocar no ar todos os comerciais de clientes nacionais, dando a impressão que a rádio havia se expandido. Tal mudança chamou a atenção dos anunciantes locais que aumentaram suas ofertas e tiveram melhores contratos com a Rádio Cultura, gerando lucros para ambas as partes.

Depois da potencialização da marca, Mayrinck pode investir em um novo transmissor de 1000w e passou a ser presença garantida em todos os eventos políticos, esportivos e religiosos de Divinópolis, o que criou, a aprtri de então, uma forte identidade com a comunidade e seus interesses.

Antigo anúncio da Rádio Cultura de Divinópolis, nos anos 60 / Acervo Grupo Memória de Divinópolis.

Max Fonseca, médico divinopolitano e que na juventude foi locutor da Rádio Cultura também descreve os tempos da emissora:

“Antes do advento das FM (frequencias moduladas ) as emissoras de rádio eram as AM, que com suas chiadeiras da estática davam para escutar alguma coisa e algumas eram até boas, como a radio Jornal do Brasil no Rio de Janeiro.Eu tinha um radinho de pilha japonês que era muito bom e lá escutava minhas músicas pop e as músicas clássicas eruditas. Divinópolis tinha a Rádio Cultura que tocava de tudo e tinha programas de todo tipo. Não era seu ouvinte, mas como tinha um timbre grave de voz me metia a locutor amador nessa rádio. Era um estudante e devia ter uns 14 anos de idade, mas era bem amadurecido pela minha idade.

Esta é a minha história breve de locutor da rádio Cultura de Divinópolis (falando para o centro e cochichando para os bairros); ela era até potente e conseguia cobrir o município. Uma pândega esta aventura!”

Texto do divinopolitano Max Fonseca, médico e ex-locutor da Rádio Cultura na juventude / Acervo pessoal Max Fonseca — Grupo Memória de Divinópolis.

Atualmente, a Rádio Cultura de Divinópolis, razão social da qual engloba o Sistema MPA de Comunicação, é administrada pelo sócios, Mayrinck Pinto Aguiar Junior, filho de um dos precursores da rádio, Mayrinck Pinto Aguiar e Adelci Mattar.

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