Por Felipe Machado
“Brigitte Bardot, Bardot, Brigitte beijou, beijou
Lá dentro do cinema todo mundo se afobouBB, BB, BB… Por que é que todo mundo olha tanto pra você ?
Será pelo pé ? -não é!
Será o nariz ? -não é!
Será o tornozelo ? -não é!
Será o cotovelo ? -não é!Você que é boa e que é mulher me diga então porque que é…”
“Brigitte Bardot”, música carnavalesca de Gustavo Miguel, cantada por Jorge Veiga, nos anos 60.
“E Deus Criou a Mulher”, ou no original “Et Dieu Créa la Femme” é um filme ítalo-francês, lançado em 1956, que chegou aos cinemas de Divinópolis três anos depois, em 1959, causando muita confusão. O longa, dirigido por Roger Vadim, estrelado por Briggite Bardot, lançou a então jovem francesa ao estrelado e como grande ‘sex-symbol’ do período.
Logo que chegou, o filme causou muito que falar e logo se tornou a grande polêmica, principalmente para os conservadores. A Liga da Decência Católica condenou a exibição do filme por “ultrapassar os limites da representação da sexualidade no cinema”, principalmente pela icônica cena em que Bardot dança descalça em cima da mesa, considerada uma das mais eróticas da história do cinema.
O biquíni, peça até então pouco usada, a não ser pelas bravas mulheres de vanguarda, e até então muito contestado por uma sociedade conservadora, torna-se sucesso a partir deste filme. Logo depois, em 1961, com a eleição de Jânio Quadros à Presidência, o uso da peça é proibido no Brasil.
Mas em Divinópolis, o longa foi alvo de enormes críticas da sociedade conservadora e principalmente dos católicos. O Jornal “A Semana”, de 15 de novembro de 1959, destaca em primeira página diversas críticas à exibição do longa:
“E Deus Fez A Mulher
Cotação Católica: Condenado
É um filme péssimo. Seu único objetivo: exibições despudoradas. Diálogos e cenas inteiramente indecorosos, infidelidades conjugais, violências e brutalidade.
Quem tiver amor e respeito à sua mãe, à sua irmã, à sua noiva ou espôsa, corará de vergonha ao assistir este filme.
É um filme para quem perdeu todo e qualquer resto de vergonha.
Moste o povo divinopolitano aos produtores e distribuidores de filmes e ao dono de nossos cinemas que é digno merecedor de coisas melhores e mais dignas
POR SER UM FILME CONDENADO E PÉSSIMO, QUEM ASSISTE, SABENDO-O, COMETE PECADO MORTAL!
Ninguém, portanto, pode assistir a esse filme; é gravemente proibido à todas as pessoas. É uma infâmia a exibição de tal fita. A mulher divinopolitana não poderá permitir que seja de tal modo explorada para finalidades tão baixas.
Mais uma vez: fazemos apelo veemente para que o povo de Divinópolis mostre claramente que é digno e merecedor de coisa melhor.
Como há de mostrá-lo? Repudiando totalmente o filme, deixando totalmente vazio o cinema que é exibido.”
Tal repúdio ao filme levou a enormes protestos que aconteciam defronte aos cinemas da cidade no horário da exibição do mesmo. Mulheres, principalmente, estendiam faixas, cartazes e protestavam contra aquela obra.
Não teve protesto, moralidade ou conservadorismo que vencesse. O filme foi um sucesso e Brigitte Bardot mais ainda (e ainda é, no auge dos seus 90 anos), se tornando um clássico e ela, uma estrela!