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80 anos da aviação em Divinópolis

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Aeronave no Campo de Pouso de Divinópolis, em 1948 / Acervo EmRedes.

Por Felipe Machado

Há 80 anos, em fevereiro de 1945, nascia o campo de pouso e o Aero-Clube de Divinópolis, plantando a semente da aviação em na região. 

Há 80 anos, o Aero-Club de Divinópolis dava o primeiro passo para a criação do Aeroporto do Divinópolis. Segundo conta-se, a proposta da construção de um aeroporto em Divinópolis surgiu depois de um avião ser obrigado a fazer um pouso forçado no bairro Esplanada. No início da década de 1940, o bairro possuía habitações apenas na região da Vila Operária. No entorno, grandes planícies à margem do Rio Itapecerica, logo ao lado do Estádio Benjamin de Oliveira, o Campo do Ferroviário, foram o local escolhido para a manobra de emergência que fez pousar nesta terra do Divino, pela primeira vez, uma aeronave. 

Logo depois, no mês de fevereiro de 1945 chegaram nesta cidade, à convite de Jovelino Rabelo, a comitiva do Ministério da Aeronáutica formada pelos senhores: Brigadeiro Antônio Alves Cabral, Dr. Miguel da Cunha Filho (Chefe do Departamento de Obras do Ministério da Aeronáutica), o Dr. João Willibaldi (Chefe do 2º Distrito de Obras da 3ª Zona Aérea) e o Tenente-Aviador Cosme.

Visita ao local que viria a sediar o Aeroporto, década de 1940. Observam-se, de costas, em primeiro plano, Jovelino Rabelo, e no meio do grupo, de óculos, Halim Souki / Coleção Halim Souki - Acervo EmRedes.

Os visitantes ilustres foram recebidos e homenageados pelo Aero-Clube de Divinópolis. Em seguida, conheceram o terreno destinado ao aeroporto, situados na localidade do “Pari”, então pertencentes aos senhores Jusa Fonseca, Antonio Fonseca Filho, Teodósio de Tal e Amasílio Aguiar.

Nesta importante ocasião onde firmou-se oficialmente o Aeroporto Municipal, estavam presentes os senhores Jovelino Rabelo, o sr. Afonso Michelini Filho, o Dr. Simão Salomé, o sr. Antonio Fonseca Filho, os visitantes acima citados, além de alguns outros convidados.

Jovelino Rabello com os ilustres visitantes, em fevereiro de 1945 / Acervo Salete Michelini

O grande incentivador da obra foi o então prefeito Jovelino Rabelo, que além de acionar as autoridades responsáveis, comprou do próprio bolso o terreno para a construção do campo de pouso. Grande industrial, Jovelino tinha faro de progresso e ansiava pelo crescimento desta terra, em todas as esferas.

A inauguração oficial do Aeroporto de Divinópolis ocorreu quase três anos depois, no dia 4 de janeiro de 1948, com o nome de “Campo de Pouso de José Machado Gontijo”. Registro do Divinópolis Jornal, um dos principais veículos de comunicação da cidade no período, relatou o ocorrido:

“Notável Empreendimento

Foi inaugurado, festivamente, domingo passado, dia 4 de janeiro de 1948, o campo de pouso que o arrojado espírito progressista de José Machado Gontijo fez construir nas proximidades de nossa cidade.

O novo campo tem boa pista, possue hangar amplo e bem construido.

Às 11 horas, verificou-se a bênção do avião “Santa Cecília”, de propriedade de Sr. José Machado Gontijo. Foi oficiante da cerimônia religiosa o Revmo. Pe. Hilton Gonçalves.

Depois da bênção, foi batida na quilha do avião, uma garrfa de champanhe pela Sr.a Rosa Machado Gontijo, progenitora do proprietário do aparelho.

A seguir, fez uso da palavra, o Revmo. Pe. Hilton Gonçalves, que encareceu a significação daquele acontecimento.

O jornalista Ataliba Lago, discursou pondo em evidência a capacidade de trabalho de José Machado Gontijo e teceu os maiores louvores à familia do ilustre Francisco Machado Gontijo.

Em nome da familia de Francisco Machado Gontijo, para agradecer as referências feitas pelos oradores, discursou também o Sr. Francisco Gontijo Neto. Depois, foi servido aos convidados presentes um suculento churrasco.

Para a ocasião, o convidado especial, o hábil e experiente aviador — Nelson Santiago — fez várias evoluções nos céus da cidade, pilotando o aparelho “Santa Cecília”.

O povo de Divinópolis soube aplaudir o gesto arrojado de José Machado Gontijo, cidadão que, à custa própria, sem ajuda de ninguém, dotou a nossa cidade de um campo de pouso.”

Inauguração do Aeroporto de Divinópolis, em 1948 / Acervo EmRedes.
Primeiro avião que pousou no Aeroporto de Divinópolis / Acervo EmRedes.

Logo, o Brigadeiro Antônio Alves Cabral se tornou o grande nome da aviação divinopolitana, ganhando nome o Aeroporto de Divinópolis de Aeroporto Brigadeiro Antônio Cabral

Nascido em 1905, Antônio Alves Cabral era divinopolitano, militar de carreira. Na aeronáutica, tornou-se Brigadeiro, ainda na década de 1940. Foi também um dos primeiros diretores da Petrobrás, nos anos 50, e um dos fundadores do Ministério da Aeronáutica.

Brigadeiro Antônio Alves Cabral, prestigiando as festividades do 36º aniversário de Divinópolis, em 1948 / Colorizada. Acervo Colorindo a Nossa História - Vilton Teixeira

Foi de autoria de Brigadeiro Antônio Cabral a análise de fluxo de água para a construção da Represa de Furnas e os cálculos de produção de energia que seria gerada pela mesma. Além disso, patenteou um sistema de freio para carros que gera energia. 

Faleceu em 1977, aos 72 anos de idade. Em 2015, o Museu de Divinópolis, com parceria junto à Prefeitura de Divinópolis, realizou uma exposição sobre o Brigadeiro Antônio Cabral, utilizando grande acervo de fotografias, documentos, paramentos e demais objetos que contaram a vida de um dos grandes nomes da aviação na cidade. O acervo foi cedido pela filha, Alayde Cabral, que visitou o município e prestigiou a exposição. 

Boletim “Lembrai-vos, divinopolitanos”, sobre o Aeroporto de Divinópolis, divulgado pela Coligação Democrática de Divinópolis, na década de 40 / Acervo EmRedes.

Em 1950 acontece o primeiro voo direto para o Rio de Janeiro, então Capital Federal, onde o Brigadeiro Cabral pilotou a aeronave transportando as formandas normalistas do Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração e duas de suas Irmãs. O veículo era uma avião oficial do aeronautica e de carga, e não possuía grandes acomodações.

Alunas do INSSC diante do avião do Brigadeiro Cabral, em 1950 / Acervo pessoal do autor.

Em 1952 o Aeroclube, tendo um dos fundadores o sr Pedro X Gontijo, noticiou em seus boletins que os caminhões da prefeitura baldeavam tijolos e sr. Lapertosa, chefe da Usina Hidrelétrica do Gravatá, cedeu um pedreiro em 1 servente para as obras do Hangar. As obras foram concluídas no ano seguinte.

Em 1991, segundo dados do Aeroclube, o Aeroporto de Divinópolis congregava 100 sócios e uma frota de 18 aviões, com aeronaves de 4 a 8 lugares. Esses números consistiam na então 2ª maior frota do interior mineiro. Nesta época, nosso aeroporto operava com uma linha comercial para a cidade de São Paulo, fazendo escala em Varginha.

Vista aérea do Aeroporto de Divinópolis em seus primóridios, na década de 40 / Acervo EmRedes.

Ao longo dos anos, o Aeroporto Brigadeiro Cabral foi símbolo de orgulho para Divinópolis e o Centro-Oeste Mineiro. Ali, realizou-se anualmente a apresentação da Esquadrilha da Fumaça, que todo aniversário do município, no dia 1º de junho, alegrava os ares da cidade, espalhando suas coreografias pelo céu. 

O aeródromo divinopolitano serviu também para acesso de diversas figuras de importância histórica, dentre governantes, políticos, cantores, artistas e demais figuras ilustres, que desceram dos céus para colocarem os pés na cidade divina, como foi o caso de Benedito Valadares, Juscelino Kubitschek, Israel Pinheiro, Tancredo Neves, Aécio Neves, Milton Nascimento, Gilberto Gil, entre tantos outros que nesses 80 anos utilizaram de nosso campo de pouso. 

Chegada do Governador Benedito Valadares e demais autoridades no Aeroporto de Divinópolis, em 1948, para os festejos do 36º aniversário da cidade / Acervo EmRedes.
Chegada de autoridades ao Aeroporto de Divinópolis, na ocasião da inauguração do Anel Rodoviário, em 1975 / Acervo EmRedes.
Chegada do então Governador Francelino Pereira ao Aeroporto de Divinópolis, na década de 70 / Acervo EmRedes

No ano de 2012, quando celebrou-se o Centenário de Divinópolis, o Aeroporto Brigadeiro Cabral passou por uma grande reforma e ampliação. Na ocasião, no dia 1º de junho, foi inaugurado o novo terminal de passageiros. A ampliação foi concebida para possibilitar adequações às exigências da Agência Nacional de Aviação Civil.

O mais importante Aeroporto da Região Centro-Oeste de Minas Gerais possui uma pista de 1.540 metros e 30 metros de largura, com iluminação noturna e balizamento noturno. 

Aeroporto Brigadeiro Cabral, em Divinópoli, 2008 / Foto: Prefeitura de Divinópolis.

Durante alguns anos da década passada, o aeroporto recebeu também viagens da Companhia Azul Linhas Aéreas, realizando itinerários com destinos a Viracopos, na cidade de Campinas, no interior paulista, e à capital mineira, Belo Horizonte. O primeiro vôo após a ampliação ocorreu no dia 6 de julho de 2015, que ao longo de quase três anos, realizaram rotas de 5 vôos semanais (domingo, segunda, terça, quinta e sexta).

No dia 30 de março de 2018, a Azul Linhas Aéreas suspendeu os voos comerciais no aeroporto da cidade devido à dívida do município com a antiga administradora. No final do ano passado, algumas rotas foram reativadas depois de seis anos inoperante. 

Aeroporto de Divinópolis atualmente /

Após a reforma, estimadas em 12 milhões de reais, e concluídas no início de 2015, o novo terminal aéreo recebeu o nome de Ítalo Cônsoli, em homenagem a um dos pioneiros na aviação da cidade. Nascido em Pouso Alegre, Cônsoli era descendente de italianos e recebeu seu primeiro brevete durante a Segunda Guerra Mundial. Ele se tornou um apaixonado por aviação e fundou o Aeroclube de Bom Despacho. Dizia-se que enquanto Ítalo voava pelo céu de Divinópolis, os moradores olhavam para cima até perder o avião de vista.

A partir de 1947, com o estabelecimento do campo de pouso, Ítalo Consoli passou a fornecer aps divinopolitano o serviço de taxi aéreo. Seus contratos levavam a população de um aeroporto a outro, principalmente ao do Carlos Prates e da Pampulha, em Belo Horizonte, mas na maioria das vezes recebia contratos para passeios, quando comprava-se seu talão de vôo para dar apenas uma voltinha. 

Ítalo Consoli, aviador de Divinópolis, ao lado da aeronave PT-AHK da empresa Soares Nogueira S.A.

Outra figura pioneira na nossa aviação foi o sr. Teodosio Ferreira dos Santos, o ‘Martinelli’. Fascinado por aviões e motores, foi o primeiro mecânico de motores a óleo e de aeronaves de Divinópolis, além de operador da Jardineira Divinópolis-Belo Horizonte e choufer particular. Tinha o apelido de “Martinelli” por conta de sua grande estatura, comparada ao famoso arranha-céu , o edifício Martinelli, em São Paulo. 

Hoje, Martinelli está mais perto das nuvens, no céu, fazendo o que mais gostava. Faleceu em 5 de setembro de 2003, aos 78 anos, residindo no bairro Porto Velho, em Divinópolis. 

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