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“Aumento da dívida foi planejado”, diz Rubens Menin, um dos mecenas do Atlético.

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Parece um paradoxo. A busca por títulos com elenco recheado de estrelas, e, ao mesmo tempo, a dívida Global ultrapassando R$ 1 Bilhão. O Atlético anda no vermelho, mas com grandes ambições dentro de campo. Tudo graças à participação de verdadeiros “mecenas”, empresários milionários que despejam dinheiro para o clube trazer reforços e até pagar salários. A dívida estratosférica é também com eles. Rubens Menin, um dos mecenas, vê o endividamento como “benéfico”.

“Quando a gente fez o planejamento do Atlético, o clube tinha o compromisso de manter o controle das finanças e aumentar o endividamento através de um empréstimo nosso para o Atlético. A gente sabia que o endividamento ia aumentar para compra de jogadores. Então, foi pra suplementar, foi tudo planejado com a diretoria e com o conselho: aumentar o endividamento pra comprar jogadores”

Rubens Menin ressalta que a dívida do Atlético ainda será conhecida por meio do balanço financeiro de 2020, a ser fechado, auditado e apresentado aos conselheiros para aprovação ou reprovação.

Na argumentação do fundador da MRV Engenharia – uma das patrocinadoras do Galo e dona do naming rights do futuro estádio -, foi um combinado entre diretoria, mecenas e conselho que o Atlético receberia os empréstimos, aumentaria a dívida, mas teria um time competitivo, capaz de ganhar campeonatos, valorizar os atletas, vendê-los com lucro e pagar o que deve.

Ainda que a chegada de troféus passe por fatores alheios ao poderio econômico, Menin vê a situação do Galo como favorável. Ele cita que o clube tem patrimônio líquido positivo. Ou seja, na subtração da dívida global com os bens do clube, o saldo é azul. Aliás, no caso, alvinegro.

“O Atlético deve 1 bilhão e não sei quanto, porque o balanço não saiu… Mas tem do outro lado o shopping (49,9% do Diamond Mall), uma arena (Arena MRV) que vai ficar pronta e vale R$ 1 bilhão só a arena, e tem do outro lado um elenco de jogadores que vale R$ 700 milhões, na pior das hipóteses” 

Essa dívida estimada em R$ 1 bilhão preocupa o senhor como um dos investidores do Atlético?

“Pelo contrário. Isso aí (aumento da dívida) foi planejado (no sentido de que já sabia que ocorreria). Primeiro, me surpreendeu ter vazado um documento que não está pronto. Eu não vi ainda o balanço do Atlético como conselheiro. O balanço não foi auditado e não terminou. Então, achei gozado alguém de dentro ter vazado para fora um documento que não foi terminado. Agora, olha que interessante: quando a gente está fazendo esses empréstimos pro Atlético comprar jogadores, a gente sabia que esse endividamento ia aumentar. Não tem jeito, isso é claro. Se a gente está emprestando, se nós, que somos investidores, estamos emprestando dinheiro pro Atlético comprar, ele teria que aumentar endividamento”.

“O Atlético, hoje, tem um patrimônio positivo. Uma coisa é você ter alguns times de futebol que devem R$ 1 bilhão, mas não têm nada do outro lado”.

A dívida vem então muito pelos empréstimos realizados na busca de melhores jogadores. Essa dívida é administrada com os investidores de que maneira?

“Isso foi planejado pra ter um time competitivo, e, com isso, poder ganhar títulos, que é o que a gente quer. Só que essa dívida só vai ser paga se os jogadores forem vendidos, sem prazo e sem juros. Então, é um endividamento benéfico. E mais. É importante destacar por que estão distorcendo os fatos. O Atlético tem disciplina financeira. Nós cortamos de custos do Atlético R$ 120 milhões em relação ao passado. Esse time de futebol que está aí, supercompetitivo, é mais barato que a média do futebol nos últimos anos. Então, o clube tem disciplina. Não tem jogadores que ganharam muito dinheiro, não vou citar nomes, mas não entregavam nada. Hoje, quem está lá, está entregando dentro de uma condição razoável. São jogadores que valem muito dinheiro”.

“Nós temos vários jogadores lá que podem ser vendidos a qualquer momento, que são do Atlético, que valem 10 milhões de euros, 15 milhões de euros. Cada jogador desse vale muito dinheiro. O Atlético tem um plantel altamente qualificado”.

“E tem mais. Quando a gente fez o planejamento do Atlético, a gente sabia que tínhamos duas opções: ou secava o time, e o time ia secar a torcida, ou ia fazer um planejamento agressivo no sentido de poder investir. Ao mesmo tempo, nós estamos fazendo uma arena, que é a Arena MRV, que vai ficar maravilhosa, nós estamos fazendo um time competitivo e nós estamos saneando o clube. E, se tudo der certo, é o melhor dos mundos. Agora, fácil, não. Não é fácil. É um trabalho que é difícil. Vai demorar algum tempo. A gente sabe disso. Nós temos obrigação de ser transparentes nisso, porque o Atlético é de todo mundo. O Atlético tem 9 milhões de torcedores. Nós vamos fazer um dia de divulgação de todas as informações para todo o conselho, para a imprensa, torcedores, pra sermos transparentes. Nós temos que ser transparentes.

Sobre os jogadores comprados com ajuda do senhor e de outros investidores: há o compromisso de o clube ressarcir o investimento no ato da possível venda dos jogadores? Por exemplo, se o Nacho Fernández for vendido, o clube já tem que retornar parte do dinheiro pra você ou pra outro investidor?

“Não. Vai retornar de uma forma discutida, tranquila, sem estresse. Nós não estamos aqui pra apertar o Atlético. Estamos pra tentar fazer um projeto que vai ser exemplo pro futebol brasileiro. Longe disso (cobrança urgente), viu?! Agora, o Atlético tem que estar com um plantel muito bom e qualificado, e que vale dinheiro, né, gente?! Antes, um jogador do Atlético era vendido por um preço. Hoje, ele é muito mais valorizado. Igual um jogador do Flamengo é valorizado, do Grêmio é valorizado, um jogador do Atlético é valorizado”.

E os efeitos da pandemia na questão de manter o Atlético viável no dia a dia?

“Agora, nós perdemos dinheiro com a pandemia? Perdemos. Dois anos sem bilheteria. Vamos tentar recuperar esse dinheiro perdido com a pandemia – esse foi o buraco no planejamento, foi a pandemia – com a premiação (de competições). A premiação pode suprir esse buraco da pandemia. Esse seria o nosso grande desejo, mas aí a gente não pode prometer nada. A pandemia veio, durou um ano, está durando dois anos, e isso está deixando um buraco em todos os times do futebol brasileiro. Todos eles, sem exceção”.

No ano passado, o clube teve dificuldades para manter salários e outras despesas correntes em dia. A ajuda do senhor e dos outros investidores também tem sido direcionada para gastos do dia a dia?

“O Atlético, hoje, sem a pandemia, com o acerto que foi feito, com essa nova equação, melhorando eficiência, cortando custos, ele é autossustentável. Não precisa de nenhum tostão de ninguém. No ano passado, não era. Não foi, principalmente, por causa da pandemia. Então, a gente precisou ajudar um pouco, os investidores ajudaram pra poder cobrir efeitos da pandemia, folhas de salários, etc. Agora, o Atlético, vou te falar, está 100% em dia com a folha, com os impostos, com tudo. Eu duvido que tenha mais de dois, três times no Brasil nessa situação. Não temos nenhum pagamento atrasado no Atlético, de impostos, de folha de pagamento. Isso é bacana. O Atlético, você vê, hoje todo mundo quer jogar no Atlético. O Hulk quer jogar no Atlético, o Nacho quer jogar, o Cuca quis vir, o Rodrigo Caetano quis vir, porque é um projeto vencedor. O pessoal acredita na seriedade de quem está aí. O presidente Sérgio Coelho está fazendo um trabalho muito bacana. Então, o Atlético é sustentável”.

“Você investe em jogador, depois vende e paga. É o melhor dos mundos. Sem juros. Quem critica isso não conhece gestão. Gestão é cortar custos”.

No ano passado, não foi um contrassenso um clube com uma dívida tão grande, numa pandemia, contratar um treinador caro como Jorge Sampaoli?

“Na verdade, Jorge Sampaoli e equipe foram caros, a gente sabia disso, mas eles foram contratados antes da pandemia. Aí a gente já estava com contrato feito, acabou. Não tinha como desfazer. Agora, eu, pessoalmente, acho que o “crédito” Sampaoli é alto. Ele deixou muita coisa pro Atlético. Ele ajudou muito a fazer um time que foi respeitado, um time que teve uma boa classificação no Campeonato Brasileiro. No início do ano (2020), nós estávamos com dificuldade pra classificar no Mineiro. Tinha perdido pro Afogados, pro Unión, na Copa Sul-Americana. Poxa, ruim. Agora, nós precisamos respeitar. O Atlético hoje é respeitado. E você vai ver muita gente falar mal do Atlético, porque isso incomoda os outros, né?! Mas você pode ter certeza que está sendo feito com muita consciência. Cortando custos que tinham e que não precisavam existir, super-salários, etc, etc, e investiu no futebol. E na base. Este ano vai ter um investimento na base muito grande. Base é o futuro do Atlético. Nós vamos investir R$ 20 milhões na base neste ano. Um investimento grande para a base. Esse é o investimento de muito time profissional. Nós vamos investir na base. R$ 20 milhões. Tem que fazer porque, se você não investir na base, não tem futuro”.

Mesmo com jogadores de nível internacional, como Hulk e Nacho Fernandez, a folha salarial do Atlético tem sido reduzida?

“Eu vou te contar e você não vai acreditar. Isso que é bacana. A folha do Atlético era muito mais cara que as da maioria dos times do Brasil. Muitos jogadores que não entregavam com salários altíssimos, de R$ 500 mil, R$ 600 mil, R$ 800 mil, R$ 1 milhão, R$ 2 milhões… O Atlético agora tem teto de salário. Esse timaço que está aí custa menos que a média dos últimos anos. Olha que coisa sensacional. O futebol do Atlético hoje está no nível de um grande time, mas com custo baixo. Eu sei, por exemplo, o custo do Flamengo, do Palmeiras, é muitas vezes maior que do Atlético. Eu acho que o Atlético está no nível do Flamengo e do Palmeiras. Pode não ser melhor, mas está ali, com um custo muitas vezes menor que o do São Paulo, do Palmeiras, do Flamengo. Isso é eficiente, gente. Nós temos esses jogadores todos, com um elenco um pouco maior, porque tem que disputar Copa do Brasil, Copa Libertadores, Campeonato Brasileiro, tem que ser um plantel um pouco maior que do ano passado, porque é muito intenso o calendário do futebol brasileiro, mas com muita efetividade, muita seriedade no trato. Então, estou tranquilo”.

Qual o peso do estádio do Atlético neste planejamento para que o clube tenha uma saúde financeira melhor?

“Você só tem um clube completo se você tiver estádio próprio, venda anual de ingressos, tiver o sócio-torcedor bem implantado. O Atlético está com o sócio-torcedor até muito bom. Dentro das possibilidades, dentro de uma pandemia, a torcida atleticana está respondendo, o Galo na Veia está indo bem. Longe ainda do que a gente quer, mas está indo bem. Agora, o estádio completo, igual a Arena MRV, que se tudo der certo vai estar pronta em algum momento do ano que vem, ela dá uma série de outros ganhos. Ganhos adicionais. Além de você ter a bilheteria toda sua, toda, a gente calcula que, a partir de R$ 100 milhões por ano, podendo chegar num número muito maior, se a pandemia acabar, se a gente tiver competência pra trazer shows, peças, eventos, etc, vai dar um lucro muito grande para o Atlético. Agora, é só ver: o clube de futebol que teve sucesso tem a casa própria. Mineirão é muito bacana, mas custa muito caro, ele não é do time. Cada R$ 1 milhão de renda você leva R$ 300 mil pra casa e deixa R$ 700 mil pra pagar despesa do estádio, que é mais antigo, mais obsoleto. Então, a gente precisa ter a nossa arena, não tem dúvida”.

O Atlético está executando um plano para diminuir a dívida e ser mais eficiente?

“Nós vamos abrir pra imprensa, no “Galo Business Day”, todo o planejamento do Atlético para os próximos anos. Se tudo der certo, com muito trabalho, muita dedicação, a diretoria que está aí é super comprometida, a torcida vai poder comemorar. Porque você ter um time competitivo, ao mesmo tempo organizar o time financeiramente. É mais difícil, mas é isso que a gente está fazendo. E pra isso a gente vai fazer uma série de coisas que a gente vai falar. E ainda construir um estádio. Você ter um time competitivo, fazer o planejamento financeiro e ainda construir estádio, olha que coisa bacana que nós estamos conseguindo fazer”.

Por Fred Ribeiro e Rodrigo Franco – GE