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Finanças: Mais risco e menos risco

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Imagine que, em um belo domingo pós-quarentena, você acorda com aquela vontade de colocar o pé estrada.

Na sua cabeça, após meses "aprisionado", passar alguns dias fora de casa poderia ser bom para espairecer as ideias.

Seu desejo é recuperar o tempo perdido. Então, você levanta da cama, arruma uma breve mala e entra em seu carro.

Seu destino? Alguma praia movimentada. Agora tudo o que você não quer é o silêncio ensurdecedor das quatro paredes de sua residência.

À caminho da serra tudo parece bem, com uma bela vista fora da sua janela e sem nenhum carro à sua frente.

Você tem toda a pista à sua disposição. São quatro largas faixas livres e você aproveita para acelerar o carro, sentindo aquele belo vento no rosto.

A sensação é ótima, remete à liberdade. Entretanto, conforme desce a serra, as amplas faixas vão dando lugar a um caminho mais estreito à frente.

Ao final deste processo, tudo que resta é uma faixa única. As curvas, que antes eram suaves, agora são muito mais sinuosas e traiçoeiras.

Sua reação, quase que intuitiva, é reduzir a velocidade, uma vez que a sensação de risco aumentou. É instintivo, como se tivessem implantado um chip na sua cabeça que executa essa função.

Você sabe que, se estiver rápido demais, um erro ali pode custar muito caro.

Agora, quando o assunto é bolsa, por incrível que pareça, não tomamos as mesmas providências.

Em face do aumento do risco, a maioria das pessoas quer apertar o acelerador.

E, devo dizer: essa coragem é perigosa.

Coragem perigosa

Recentemente, Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde, fez uma live onde disse: “em março, se tivessem me dito que em 2 meses o S&P estaria em 3.100 e o Ibovespa a 95 mil, eu venderia tudo e passaria 1 ano em uma ilha deserta”

Eu diria o mesmo, confesso a você. Com todas as incertezas e desafios impostos às economias pela crise do coronavírus, parecia uma decisão muito sensata. Ao olhar hoje, estamos com 97 mil pontos e com o S&P quase em 3.200 pontos.

E, como pode ver, nenhum de nós decidiu ir para uma praia distante. Eu continuo escrevendo essas breves palavras para vocês da minha residência em São Paulo e ele fazendo a gestão dos fundos.

Entretanto, assim como vocês, sigo impressionado com a velocidade da recuperação dos preços em bolsa. Talvez, após ter a queda mais rápida da história, tenhamos também a recuperação mais veloz já vista nos mercados.

Neste momento, o que me preocupa é ver alguns investidores se tornando mais corajosos a cada novo dia de alta na bolsa.

Aos poucos, o FOMO (fear of missing out  medo de ficar de fora) começa a tomar conta.

Entretanto, deixa eu lhe dizer uma coisa: em momentos de aumento do risco, a valentia em excesso pode custar caro, assim como acelerar o carro onde as curvas ficam mais sinuosas e estreitas.

Mas deixe-me esclarecer o que entendo por risco. Não acho que ele acontece por conta do vírus, Brasília ou qualquer outro fator que está estampado nos jornais.

Isso é bobagem, o mercado já tem isso no preço. O risco que expresso aqui é o de pagar caro demais por uma ação.

A cada dia que a bolsa sobe, menor fica a sua margem de segurança e vice-versa. De forma figurada, funciona exatamente como uma gangorra.

Com 60 mil pontos, a margem de segurança era absurda. Desde o ponto de mínimo da bolsa, que aconteceu em 23 de março, das 75 ações do Ibovespa, 72 tiveram resultado positivo, 29 subiram mais de 50 por cento e 5 dobraram de valor.

Ou seja, mesmo que você selecionasse ações com base nos números mostrados nas cartas de Tarô, teria ganhado bastante dinheiro.

Agora, aos 97 mil pontos, a história é bem diferente  bem como nos 100 mil ou 120 mil. Vai exigir de você muito mais seletividade na escolha das empresas.

Logo, não se deixe exaltar pelo otimismo de bolsa. Não queira ser herói. Deixe isso para o seu vizinho falastrão.

O vencedor de dinheiro nos mercados sabe de quatro coisas: 1) tenha uma boa alocação de portfólio, 2) seja seletivo nas empresas que investe, 3) compre-as com margem de segurança adequada, 4) tenha seu psicológico em ordem.

Esse é o quarteto vencedor.

Preparado para a próxima batalha?

Parabéns, meu/minha caro(a)! Se você é novo na bolsa, em março ganhou suas primeiras cicatrizes de batalha.

Será a primeira de muitas, não tenho dúvidas. Aos que entraram depois da queda, devo dizer: vocês começaram muito bem!

Entraram na hora certa, comprando do institucional e aproveitando o rali. Perfeito! A vocês também os meus mais sinceros parabéns!

Mas, apesar de terem começado bem, investir em bolsa é uma guerra que é travada aos poucos.

É um combate similar ao de trincheiras: lento e longo. Muitas vezes, você perde espaço e, no momento seguinte, consegue avançar mais um pouco.

Logo, apesar do bom começo, nada está ganho neste momento. Isso vale para todos, seja você um novo investidor ou velho de casa…

Tão importante quanto ser seletivo nas empresas e comprar barato, é ter um portfólio equilibrado e não tomar riscos maiores do que o seu psicológico suporta.

E aqui, não há receita de bolo. Cada um tem seu limite e, assim como a sua tolerância ao álcool precisou de diversas festas universitárias para ser testada, em investimentos segue a mesma ideia.

Mas, felizmente, nós não precisamos quebrar a cara para saber o nosso limite. Podemos, usar os dados passados para termos um cheiro do que nos espera.

Fiz, então, três mini carteiras para lhe ajudar nessa tarefa. As combinações são:

Carteira 1: 70 por cento CDI, 20 por cento Multimercados (IHFA), 10 por cento Ibovespa.

Carteira 2: 40 por cento CDI, 20 por cento Multimercados (IHFA), 30 por cento Ibovespa; 10 por cento Small Caps.

Carteira 3: 10 por cento CDI, 20 por cento Multimercados (IHFA), 50 por cento Ibovespa; 20 por cento Small Caps.

Em meio às altas da bolsa, todos queremos a carteira 3. Sem dúvidas, ela deve ser bastante vencedora. Entretanto, você está preparado para as perdas que essa exposição de risco maior traz consigo?

Para simular isso, utilizei os últimos 11 anos de dados para calcular qual seria a perda máxima em uma janela de 12 meses em todas as carteiras. Eis o resultado:

                                [Fonte: Nord Research e Economatica]

                                                

Carteira 1 caiu uns 7 por cento em 2020. A carteira 2 caiu uns 25 por cento e a carteira 3 caiu 45 por cento.

E aí? Agora volto à pergunta: você realmente quer a carteira 3?

Está preparado para perder, pelo menos, 50 por cento do seu patrimônio? Se não, busque algo mais brando. Tente um misto entre as alocações 2 e 3.

Não abuse da alocação de risco. Ver seu patrimônio recuar 40, 50, 60 por cento é doloroso, mesmo para nós que trabalhamos com isso.

Ela mexe com seu psicológico, isso é fato. Ele é seu maior inimigo ao investir em bolsa e vai querer pregar peças em você.

Você tem duas maneiras de combater esses pensamentos: (i) conhecendo profundamente seus investimentos e os motivos pelos quais te levaram a comprar aqueles papéis; (ii) ter uma alocação de portfólio equilibrada.

Faça isso e sem dúvidas terá uma vida longa na bolsa.

O que importa é a margem de segurança

A bolsa tem subido bastante, sem dúvidas. São 52 por cento de alta em um pouco mais de 2 meses.

O descompasso com a realidade econômica é gigante, saudavelmente explicitado por essa icônica imagem que tem rodado os grupos da Faria Lima:

Novamente, a bolsa não irá seguir o PIB. Ela é ansiosa. A bolsa está olhando a retomada, já refletindo aqui os bons exemplos que temos visto nas economias centrais.

(*Linha azul: % de casos em relação ao topo que tinham quando decidiram abrir a economia; Linha cinza: % de casos em relação ao pico hoje)

Apesar das nossas idiossincrasias (baixos testes, subnotificação elevada, risco de segunda onda ao abrir sem estabilizar a curva) tornarem a nossa abertura mais arriscada, tudo se resume ao quanto você paga para fazer um investimento.

Essa é a variável de ajuste. No fim do dia, o que importa é a margem de segurança. Hoje, sem dúvidas, ela é muito mais estreita do que antes.

Então, tome cuidado com o “oba-oba” que temos no mercado. Faça aportes com parcimônia, em ativos que, faça chuva ou sol, vão crescer.

Se achar que a sua posição em bolsa está muito grande para o seu estômago, reduza. Não há demérito em fazer isso, muito pelo contrário.

Lembre-se: tenha uma boa alocação de portfólio, seja seletivo nas empresas que investe, compre-as com margem de segurança adequada e tenha seu psicológico em ordem.

Não tenho dúvidas de que essa combinação te levará longe na bolsa aumentando os seus rendimentos.

Por fim, se quiser entender um pouco melhor o que está por trás dessa alta recente na Bolsa, assista ao vídeo da Marilia falando sobre o squeeze que está acontecendo. Caso você não saiba o que é "squeeze", então é fundamental que você veja o vídeo.

Um abraço,

Postado originalmente por: Nord Research