O dólar ultrapassou a marca histórica de R$ 6 nesta quinta-feira, gerando grande preocupação no mercado financeiro. O aumento reflete uma reação negativa ao pacote fiscal do governo e à reforma do Imposto de Renda, anunciados recentemente.
Entenda as causas desse marco histórico, os detalhes das medidas econômicas apresentadas e como isso afeta o cenário econômico nacional e internacional.
Por que o dólar chegou a R$ 6?
Nesta quinta-feira, o dólar à vista foi cotado a R$ 6,003 na venda, marcando a primeira vez que a moeda atinge esse patamar desde o início de sua circulação em 1994. A alta foi impulsionada por:
- pacote fiscal do governo: anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o plano visa economizar R$ 71,9 bilhões entre 2025 e 2026, mas inclui medidas que geraram dúvidas no mercado, como a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês;
- preocupações com o equilíbrio fiscal: a isenção do IR pode resultar em uma renúncia fiscal significativa, de até R$ 80 bilhões, segundo analistas, o que levantou questionamentos sobre como o governo pretende cobrir o déficit gerado;
- aumento dos juros futuros: o mercado já prevê um aumento mais agressivo da Selic, com apostas de uma taxa terminal em 14,25%.
Como o pacote fiscal afeta a economia?
O pacote fiscal trouxe medidas paliativas, como o estabelecimento de idade mínima para aposentadoria militar e ajustes em benefícios sociais. Contudo, as mudanças estruturais esperadas pelo mercado, como cortes profundos nos gastos públicos, não foram apresentadas.
Entre as propostas que geraram maior repercussão estão:
- isenção do IR até R$ 5 mil: apesar de ser uma promessa de campanha, a medida é vista como arriscada, pois pode comprometer a arrecadação.
- taxação sobre altos salários e rendimentos: a compensação virá com uma alíquota mínima de 10% para quem ganha acima de R$ 50 mil por mês.
Analistas avaliam que essas medidas não são suficientes para resolver os desafios fiscais do país. O impacto é evidente na curva de juros, com alta nos contratos futuros e um aumento nos prêmios de risco do Brasil.
Comparação do dólar comercial e turismo
Confira as cotações mais recentes do dólar:
Dólar comercial:
- Compra: R$ 5,970
- Venda: R$ 5,972
Dólar turismo:
- Compra: R$ 5,859
- Venda: R$ 6,039
Essa diferença entre os dois tipos de câmbio reflete custos adicionais, como impostos e margens de lucro, aplicados no dólar turismo.
O impacto no mercado financeiro
O pacote fiscal decepcionou investidores, que esperavam medidas mais robustas. Como resultado:
- o Ibovespa, principal índice da B3, recuou mais de 1%, para 126 mil pontos.
- o real desvalorizou em relação a outras moedas emergentes, que tiveram perdas marginais ou até ganhos frente ao dólar.
- a volatilidade foi agravada pela menor liquidez do mercado, devido ao feriado nos Estados Unidos.
Além disso, as incertezas fiscais podem dificultar novos investimentos no país, aumentando o custo do crédito e desacelerando o crescimento econômico.
Cenário internacional e dólar forte
A alta do dólar não é apenas um reflexo de fatores internos. No exterior, a moeda americana continua fortalecida, com o índice do dólar subindo 0,10%, alcançando 106,220 pontos.
Um dos principais fatores globais que favorecem o dólar é a perspectiva econômica dos Estados Unidos, incluindo possíveis políticas comerciais agressivas do presidente eleito Donald Trump, que prometeu implementar tarifas elevadas contra México, Canadá e China.
Essas tensões comerciais, somadas às incertezas sobre a economia global, aumentam a demanda por ativos em dólar, considerados mais seguros em momentos de instabilidade.
É um bom momento para comprar dólar?
Diante desse cenário, não recomendo a compra de dólares no momento apenas em função das eleições americanas.
Pelo contrário, minha sugestão seria aguardar até que o mercado se estabilize e as expectativas se acalmem, permitindo uma análise mais clara da situação econômica. Dessa forma, será mais fácil tomar decisões informadas.
O que esperar daqui para frente?
O cenário de alta do dólar deve continuar nos próximos dias, à medida que os investidores avaliam os desdobramentos do pacote fiscal e os possíveis impactos da reforma do IR. A previsão de alta nos juros, tanto no Brasil quanto nos EUA, deve manter o dólar pressionado.
Para o governo, o desafio será equilibrar as contas públicas sem comprometer a popularidade ou a estabilidade econômica do país. Já para os consumidores, a alta do dólar deve encarecer produtos importados, viagens internacionais e até mesmo itens básicos, como combustíveis.
O marco histórico do dólar a R$ 6 reflete não apenas a fragilidade fiscal do Brasil, mas também a complexidade do cenário econômico global. O caminho para estabilizar a moeda e retomar a confiança dos investidores dependerá de decisões políticas e econômicas assertivas nas próximas semanas.
Postado originalmente por: Nord Research