Coluna Infância Protegida – Movimento Todos Contra a Pedofilia
Em 18 de maio de 1973, o Brasil foi marcado por um dos crimes mais brutais e simbólicos de violência contra crianças. Araceli Cabrera Sánchez Crespo, de apenas 8 anos, desapareceu ao sair da escola em Vitória (ES) e, seis dias depois, seu corpo foi encontrado com sinais de tortura, abuso sexual e desfiguração. Meio século depois, o caso Araceli continua a ecoar como denúncia da impunidade e como símbolo da luta por justiça para vítimas de abuso e exploração sexual.
Um crime bárbaro
Na tarde de 18 de maio de 1973, Araceli não voltou para casa após a aula no Colégio São Pedro. Seu pai, desesperado, procurou a imprensa local para divulgar fotos da menina, apelando por qualquer informação. No dia 24 de maio, o corpo de Araceli foi encontrado num matagal na Praia do Suá, em estado avançado de decomposição.
A perícia apontou sinais claros de violência: a menina havia sido drogada com barbitúricos, estuprada, morta por asfixia e teve o corpo desfigurado com ácido. O crime chocou o país não apenas por sua crueldade, mas pela forma como o caso foi conduzido nos anos seguintes.
Investigações sob suspeita
A apuração do caso foi marcada por omissões e suspeitas de corrupção. O sargento responsável pela primeira investigação foi assassinado, e a polícia local foi acusada de proteger os principais suspeitos, ligados a famílias influentes da capital capixaba.
Em 1980, após sete anos de mobilização, os empresários Paulo Constanteen Helal e Dante de Barros Michelini foram condenados a 18 e 5 anos de prisão, respectivamente. No entanto, a sentença foi anulada. Em 1991, durante novo julgamento, ambos foram absolvidos. A Justiça alegou fragilidade nas provas, mas para a sociedade, ficou a marca de mais um caso em que o poder econômico falou mais alto do que a verdade.
O silêncio que grita
A absolvição dos réus, apesar de indícios contundentes e da comoção nacional, tornou o caso Araceli um símbolo da impunidade. À época, o romance-reportagem Araceli, meu amor (1976), do jornalista José Louzeiro, que denunciava a omissão das autoridades e o poder das elites, chegou a ser censurado pela ditadura militar.
O caso deixou uma ferida aberta na memória coletiva do país e evidenciou a urgência de enfrentar o silêncio que envolve os crimes sexuais contra crianças e adolescentes.
O nascimento de um dia de luta
Somente em 2000, quase três décadas após o crime, o Brasil reconheceu oficialmente a gravidade da violência sexual infantil. A Lei nº 9.970/2000, de autoria da então deputada Rita Camata, foi sancionada no dia 17 de maio e instituiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, marcado anualmente em 18 de maio, em memória de Araceli.
A proposta surgiu do 1º Encontro do ECPAT Brasil (End Child Prostitution, Child Pornography and Trafficking of Children for Sexual Purposes), com apoio de mais de 80 entidades da sociedade civil.
Desafios que persistem
Apesar dos avanços em campanhas educativas e denúncias, a realidade ainda exige atenção. A subnotificação de casos, a falta de preparo para acolher vítimas e a morosidade judicial revelam que o Brasil ainda precisa fortalecer suas redes de proteção à infância.
Anualmente, entidades como o Movimento Todos Contra a Pedofilia, órgãos públicos, ONGs e escolas promovem ações em alusão ao 18 de maio. O objetivo é educar, prevenir e proteger — especialmente os mais vulneráveis.
Faça parte da mudança
Araceli jamais foi esquecida. Seu nome ecoa como um apelo à responsabilidade coletiva diante da violência contra crianças. Denunciar é um ato de coragem e cidadania.
Se você souber ou suspeitar de qualquer situação de
abuso ou exploração sexual de crianças ou adolescentes,
denuncie.
📞 Disque 100 – A ligação é gratuita e
sigilosa.