Ingredientes do Cruzeiro hoje:
1) Uma diretoria afundada até a raiz dos cabelos numa encrenca policial de final imprevisível. Ou seja, sem a menor condição de cobrar postura de ninguém.
2) Salários atrasados. E não de agora, há alguns meses. Paga um pouco, livra-se de perder os atletas, e volta a atrasar.
3) Um time que se habituou na longa era Mano a focar competições de mata-mata e deixar o Brasileiro de lado. Agora, não há mais mata-mata, e o time é forçado a jogar o Nacional com tudo, com a regularidade que se exige, para escapar do rebaixamento. E não sabe mais como fazer isso.
4 ) Um vestiário cascudo: Thiago Neves, Fred, Dedé, Fábio, Robinho, Edílson, que na Era Mano passou a trabalhar numa zona de conforto em que compunham bem com o treinador.
Aí a diretoria traz para o lugar de Mano, Rogério Ceni.
5) Um treinador que odeia perder, que tem uma trajetória profissional irretocável que lhe dá segurança para não se submeter a panelinha alguma de clube algum, que conhece as entranhas de um vestiário e que se criou mandando no vestiário do São Paulo.
Some tudo isso e você terá um maçarico ligado numa loja de fogos de artifício. Não demora muito e vai explodir.
A impressão que passa o Cruzeiro de hoje é que, com o maçarico explodindo a loja de fogos, o herói chamado a resolver a crise é o Tocha Humana. Tudo errado.
Jogadores – a seu favor apenas o fato de que ninguém é obrigado a trabalhar sem receber salário. Mas se não quer ou não tem condições de trabalhar sem dinheiro, então pede para ser afastado. Não pode é continuar treinando porque não vai prestar. O jogo é o resultado da preparação que se faz para ele. Ninguém faz corpo mole em jogo. Mas com conta para pagar, com remédio para comprar, vendo funcionário passando necessidade é impossível treinar com qualidade, com foco.
Diretoria – Não pode atrasar salário. Ponto final. Se faz isso, perde a condição moral de cobrar e/ou de por ordem na casa. E não pode, de maneira covarde, contratar um treinador que não aceita manchas no currículo para deixar o pepino e/ou o abacaxi para que esse técnico descasque. Respaldo é o mínimo que Rogério Ceni merece.
Ceni – Se não queria se aborrecer, se não tinha certeza de que terá respaldo do patrão, se não queria ser colocado contra a parede por um vestiário pesado, então não tinha nada que aceitar o convite do Cruzeiro. Ficaria até o fim do ano no Fortaleza, e sairia para outro time ganhar, em início de temporada com prerrogativa de montar o elenco à sua imagem e semelhança. Expor o grupo numa coletiva é a fórmula mais básica para perder o comando, sabemos disso. Mas entendo, porque foi um pedido público de socorro à diretoria e uma antecipação de movimento de xadrez – se for demitido, o torcedor saberá que quem manda no clube é Thiago Neves.
Resumindo: está tudo errado, o Cruzeiro está de ponta cabeça. Neste momento só a floresta amazônica precisa mais de bombeiros do que o vestiário da Toca da Raposa…
Fonte: Ricardo Gonzales