Já ouvi dois presidentes da Fifa falarem para os árbitros selecionados para Copa do Mundo: “Vocês são a nossa 33ª seleção!” Ou seja, além das 32 seleções classificadas para o Mundial, havia a seleção de árbitros.
Uma centena de árbitros selecionados nos cinco continentes que se juntavam à “família Fifa”, como os funcionários da Fifa gostam de se referir aos que lá trabalham.
Enquanto estávamos à disposição da Fifa, em competições ou treinamentos, tínhamos o melhor suporte que um árbitro profissional pode ter, do ponto de vista logístico ao técnico. Tudo era mais que perfeito! Para falar a verdade, sempre tive a certeza de que aquilo era passageiro, o que facilitou bastante minha decisão de parar de apitar.
Na CBF, enquanto fui árbitro, sempre nos disseram que era feito o possível pelos árbitros, e hoje tenho a certeza que não era verdade!
A excelente iniciativa de ajudar os árbitros da CBF com doações equivalentes a um jogo é uma demonstração de que não se fazia o possível, mas apenas o conveniente para não comprometer o status quo. Faltou visão às gestões anteriores que parece sobrar à atual. Exatamente a visão de que os árbitros são o 21º time do Brasileirão.
Foram doados em três meses praticamente 3 milhões de reais aos árbitros da CBF, que, como se sabe, não são contratados e só recebem quando apitam. Com a pandemia, a renda zerou!
Remunerar melhor os árbitros (que na final da Copa do Brasil e no Brasileirão ganham apenas 30% do que recebem na fase preliminar da Sul-americana e só 5% do que ganham na final da Libertadores), além de contratar esses árbitros, já não parece mais uma utopia. A legislação trabalhista hoje é mais flexível do que anos atrás, assim com a atual presidência da CBF. Falta flexibilizar as cabeças retrógradas de juristas e burocratas descrentes de que profissionalizar a arbitragem não é apenas possível, mas necessário e urgente.
Por Sandro Meira Ricci – Globoesporte.com