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O maior risco da Lava Jato pode ser Bolsonaro?

O Maior Risco da Lava Jato Pode Ser Bolsonaro?

Por João Cenzi

Com a prisão de Michel Temer, Moreira Franco e outros implicados, a Lava-Jato pareceu estar dando o recado de que, apesar dos duros golpes sofridos, principalmente por decisões do STF, ainda tem fôlego para causar estragos nas hostes das quadrilhas que tomaram os Três Poderes. Poucos dias depois, no entanto, Temer e cia. já estavam livres, leves e soltos.

Por outro lado, um dia antes das prisões, foram veiculados resultados de pesquisa que apontaram o maior e mais real perigo  ao combate à corrupção: o enfraquecimento do governo Bolsonaro.

Só o que os bandidos desejam é que o governo eleito sob a bandeira de fortalecimento do combate ao crime e à violência se torne um pato manco já no início de seu mandato, e esse risco está se mostrando real e até previsível, caso os rumos não sejam corrigidos.

O maior sintoma desse agravamento do enfraquecimento do governo foi desnudado pela atitude de Rodrigo Maia de dar um chega-pra-lá em Moro, jogando o pacote anticrime apresentado por este ao Congresso para as calendas, além de uni-lo às propostas anteriormente levantadas por Alexandre de Morais.

Aparentemente Bolsonaro está repetindo o mesmo erro de Temer. Ambos, ao assumirem, despertavam a esperança da população de que utilizariam a força da indignação popular com a corrupção institucionalizada para se fortalecer e, assim, pressionar um Congresso que somente se moveria na direção correta através de muita pressão.

Temer jogou pela janela todo e qualquer apoio popular que pudesse arregimentar ao nomear um ministério cheio de investigados e somente dedicado a obter condições de governo através do toma-lá-dá-cá. Bolsonaro está incorrendo no mesmo erro, embora pelas vias exatamente cotrárias.

O enfraquecimento de Moro certamente foi muito facilitado pelas ações dos bolsonaristas, nos bastidores, para tentar inviabilizar a CPI da Lava-Toga, o que conseguiram ao engavetá-la pela segunda vez. Pela ótica do governo, um acirramento da tensão com o STF poderia levar à paralisação da reforma da Previdência, e esta está sendo considerada a “alma” desse governo.

Até as decisões do próprio STF para enfraquecer a Lava-Jato já são reflexos do enfraquecimento de Bolsonaro. Mesmo com o desgastado Temer ainda no Poder, foram os tuítes do general Villas Bôas que fizeram com que o STF refluísse em sua intenção de libertar Lula. Agora, no entanto, os militares, que teoricamente estariam mais fortalecidos com a participação em vários níveis do atual governo, têm suas ações absolutamente tolhidas.

Por um lado, por causa de disputa por nacos de Poder dentro da Administração, com o embate aberto entre Olavo de Carvalho e os filhos presidenciais contra a ala militar, e por outro, paradoxalmente, exatamente por integrar o miolo do governo. À sombra do inexpressivo Temer, os militares puderam dar seu recado, mas agora se o fizerem, além de desnudarem ainda mais a tibieza de Bolsonaro, poderão atrair um intenso fogo amigo.

Bolsonaro também tem dado amplas doses de inadvertida contribuição aos combatentes da Lava Jato ao despertar animosidades inúteis com suas irresponsáveis atividades nas redes sociais. Quando ele deveria estar alimentando todos os esperançosos de moralidade na política, ele apenas atrai a atenção para secundárias e controversas posturas sobre costumes.

Dando prioridade absoluta à reforma da Previdência e, com isso, marginalizando o importantíssimo papel de Sérgio Moro em seu ministério, Bolsonaro apenas está plantando as sementes das ervas daninhas que poderão sufocar as ações com potencial de lhe aumentar o apoio popular, a sua força de pressão sobre um desgastado Congresso e a própria possibilidade de aprovação da tão necessária reforma da Previdência.

O mais correto, neste momento, seria exatamente inverter as prioridades. Já que a reforma da Previdência já tem possibilidade de começar a ser debatida na CCJ, o ideal agora seria uma intensa atividade do governo no sentido de começar a analisar e aprovar as medidas anticrime de Moro, especialmente as de combate à corrupção e ao protagonismo criminoso que o STF vem desempenhando.

Com essas medidas, a população voltaria a ter esperanças em Bolsonaro, elevaria suas taxas de aprovação, reverteria a curva de perda de credibilidade que já aponta para níveis preocupantes e fortaleceria seus músculos políticos para enfrentar a dura batalha no Congresso e no STF. A própria reforma da Previdência seria muito favorecida com uma situação assim.

João Batista Cenzi
João Batista Cenzi é engenheiro mecânico, administrador de empresas e, atualmente, diretor da Instituto Pesquisas de Opinião Censuk. É comentarista constantemente convidado nas programações da TV Candidés e da Minas FM.