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O Dilema de Renan

O Dilema de Renan

Por João Cenzi

À exceção das bobagens de Flávio Bolsonaro enrolando-se no caso Queiroz, o que de mais quente acontece em Brasília nesses dias é a discussão da possibilidade de recondução de Renan Calheiros à presidência do Senado.

Monta-se um grupo a favor aqui, outro contra ali, colhe-se um depoimento de apoio acolá, e um contra mais acolá ainda, enquanto as redes sociais fervilham com hashtags #ForaRenan e assemelhadas.

No entanto, na verdade Renan sabe que está na posição de, se não se eleger, o bicho pega, e se eleito, o bicho come, e só está levantando toda poeira que pode para conseguir um mínimo de proteção.

Se for eleito, pode até causar muita dor de cabeça em Bolsonaro e Guedes com a aprovação da reforma da Previdência, embora não tenha força suficiente para barrá-la, mas não deverá aquecer a cadeira presidencial por mais de seis meses. Apesar de todo o Poder que a presidência do Senado e do Congresso lhe conferirá, ele acabará sendo muito desgastado pelos 14 inquéritos a que responde, e que certamente ganharão uma cuidadosa atenção da PF de Moro e uma celeridade a que o STF e a PGR não estão acostumados. Precisará de muita sorte para não deixar a presidência direto para a Papuda ou Curitiba, nos braços amigáveis de Gabriela Hardt.

Se lançar-se candidato e perder, adeus qualquer influência que poderia almejar exercer. Além de expor sua fragilidade, passará a ser um simples senador, sem poltrona em qualquer posição de mando, e absolutamente vulnerável às vicissitudes provindas de Moro, da PGR ou da PF. Terá muita sorte se transformar-se em um senador de quem ninguém se lembre.

A sacada de Renan. então, será levar a “quentura” de sua candidatura até o mais próximo do dia da eleição que ele puder. No momento exato, ele procura os outros candidatos viáveis e negocia com eles a retirada de sua candidatura em troca da presidência da Comissão de Constituição e Justiça, onde ainda terá uma voz que possa atingir altos níveis de decibéis. Assim, ele poderá passar desapercebido a maioria do tempo, mas volta e meia poderá procurar um refresco junto ao governo Bolsonaro, mostrando-se capaz de interferir negativamente caso a proteção não lhe seja estendida. Só resta saber se combinaram com Moro!

Se estivesse na Inglaterra, onde se pode apostar até se um avião cairá ou não sobre a Torre de Londres até o meio-dia do próximo domingo, eu procuraria a primeira casa de apostas e cravaria todas as minhas fichas na eleição de Simone Tebet. Bem, jogo é jogo. Poderia até perder todas minhas fichas, mas estou convicto de que minhas chances de ganho são maiores que as de perda.

A candidatura do major Olímpio do PSL é apenas estratégica. Na Câmara, para não perder a possibilidade de algum espaço de mando, o PSL foi obrigado a queimar etapas e adiantar uma posição a favor de Maia. No Senado, ele pretende valorizar seus votos até o final, portanto major Olímpio pode até mesmo não abandonar a corrida. Suas chances, no entanto, são as mesmas de que caia um avião sobre a Torre de Londres até o próximo domingo.

Tasso Jereissati é um bom candidato. Tem a aprovação da maioria dos seus pares, e poucas arestas com outros, porém não é de fazer política de bastidores. Não é competitivo.

Acho que a parada ficará mesmo entre David Alcolumbre (DEM) e Simone Tebet (MDB), que certamente será a candidata no lugar de Renan. Entrará, então, no jogo a tradição do Senado de sempre eleger um presidente oriundo da maior bancada, que ainda é o MDB.

Bem.

A sorte está lançada, e eu fiz meu lance. Façam suas apostas, senhoras e senhores.

João Batista Cenzi
João Batista Cenzi é engenheiro mecânico, administrador de empresas e, atualmente, diretor da Instituto Pesquisas de Opinião Censuk. É comentarista constantemente convidado nas programações da TV Candidés e da Minas FM.