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O que os gestores pensam sobre Itaú (e outros bancos)

A posição da Nord a respeito de Itaú você já conhece.

“É difícil fazer previsões, especialmente se for sobre o futuro”.

Niels Bohr


Caso antigo

A posição da Nord a respeito de Itaú você já conhece.

No Investidor de Valor, série tocada pelo Bruce, carregamos uma posição no banco via Itaúsa desde setembro de 2015, com valorização de 180 por cento no período.

A maneira com que ele trata a queridinha Itaúsa pode dar a impressão de que este é um casamento para o resto da vida.

Mas não é o caso. Nem poderia, um gestor ou analista não pode criar qualquer apego a uma posição.

Se as condições de preço e valor passam a não oferecer uma assimetria convidativa, então é preciso dizer finalmente adeus.

Ainda não chegamos lá.

Mas acontece que de tempos para cá, o mercado foi tomado pelo tema da disrupção no setor financeiro.

Plataformas de investimento, corretoras independentes e bancos digitais brotam todos os dias com a promessa de acabar de vez com a soberania dos grandes bancos nas últimas décadas.

O comportamento das ações de alguns desses novos players reforça a euforia.

No ano, Banco Inter sobe +176 por cento, Banco Pan +399  e Banco Pactual +167.

Na contramão, após o resultado de Itaú na terça feira, as ações dos bancos caíram fortemente e arrastaram o Ibov para baixo.

Como o Bruce mesmo comentou no dia seguinte neste mesmo espaço, nada para se preocupar. O resultado veio bom, a despeito da deterioração em algumas linhas do negócio.  

Mas a minha ideia hoje não é trazer a minha opinião ou a dele… gostaria de compartilhar a visão de outros gestores que acompanho, e que tive a oportunidade de falar nessas últimas semanas. Foram mais de 10 deles, gestores de vários bilhões de reais em bolsa.

Tenho certeza que pode servir de alguma forma para que você esteja pronto para a nova realidade que está por vir.

Comprados

A maioria dos gestores com que falei ainda estão comprados em Itaú. Boa parte destes estão overweight (mais comprado do que os 9 por cento do Ibov) outros equal e uma pequena parte underweight (menos comprados do que os 9 por cento do Ibov).

Devo dizer aliás que muitos carregam hedges comprados em bancos digitais (principalmente em Banco Inter e BTG).

Mas voltando ao ponto principal, as razões pelo buy em ITUB são divididas em duas partes:

A primeira tem a ver com o fundamento.

O negócio é bastante bom, com alta lucratividade (ROE de 23,5 por cento) e um valuation ainda razoável (11 vezes lucros 2020). Além disso, ao longo dos últimos anos, o banco tem se mostrado mais ágil do que os restantes em se reinventar. E, mesmo com maior competição no segmento de comissões e tarifas, na área de crédito o Itaú ainda deve surfar o espaço deixado pelos bancos públicos, sem pressionar spreads.

Pensando que estamos no 4° ano de um ciclo de 6-7 anos de bull market, os gestores consideram que temos mais 2 anos de bons resultados antes de se preocupar com deterioração efetiva nas margens do negócio.

Por outro lado, entre eles há um consenso que joga contra o investimento de mais longo prazo.

Quando provocados, eles são categóricos: se há uma posição que eles não carregariam por 10 anos de olhos fechados é Itaú, ou qualquer outro banco grande.

A segunda razão pelo buy tem a ver com a questão técnica.

Passada a reforma e com a vinda do gringo, o dinheiro vai vir para os nomes mais óbvios e líquidos.

Como já mostramos aqui, o peso dos bancos ainda é muito grande no Ibov.

                                                Fonte: B3

O gestor não é pago para estar certo lá na frente, mas, sim, para ganhar dinheiro. É preciso estar em cima da prancha quando a sequência vier.

Estando de fora de empresas com grande peso o índice, o gestor corre o risco de ver o Ibov disparando e sua carteira ficando para trás. Isso é ruim, gera saques, afeta reputações…

Ter as grandes do Ibovespa na carteira não deixa de ser uma proteção contra o próprio índice.

Por fora

Há uma parcela menor de gestores que estão zerados em Itaú e outros bancos.

Com o mandato menos indexado ao Ibov, a principal ideia que os norteia é que há uma porção de outras opções que apresentam mais crescimento, tem maior alavancagem operacional e são mais impactados por um ambiente de juros mais baixos (consumo, varejo, commodities e infra estrutura).

É muito mais uma questão de custo de oportunidade e preferência na alocação do que, necessariamente, algo contra o case.  

Aliás, em “os do contra” é exatamente onde eu queria chegar.

Os Do Contra

Nos últimos anos, a grande valorização de Itaú e outros bancos fez criar uma legião de acionistas apaixonados.

Também pudera, os negócios se mostraram tão resilientes que mesmo durante a crise reportaram resultados recordes.

Neste momento, mais próximos do final do ciclo, com menos alavancas de crescimento e maior concorrência, começam a finalmente aparecer gestores que estão apostando contra.

Estão short (vendidos) em Itaú para se financiarem em histórias de grande crescimento e que têm potencial muito maior de valorização.

A aposta é que se Itaú se valorizar “apenas” de 10 a 15 por cento ao ano nos próximos 2-3 anos, a ponta long (comprada) vai se valorizar tão mais que vai compensar qualquer prejuízo caso estejam errados na ponta short.

Sinais do tempo de que a segunda linha vem aí.

Empresas menos óbvias, menos conhecidas e que muitas vezes passam despercebidas por quem só olha os highlights.

Tem coisa boa por aí

Empresas como Via Varejo, que representa 0,14 por cento do índice e que já se valorizou mais de 86 por cento em 2019.

Ter comprado VVAR3 após a recomendação do Ricardo no Nord Small Caps causou um impacto brutal na minha carteira no ano. Apenas uma ação representa a maior parte do meu bom desempenho em ações em 2019.

Já dissemos aqui que o Ibovespa é extremamente concentrado.

Os bancos, a Petrobras, a Vale e mais algumas poucas empresas praticamente definem o rumo do índice.

Boas empresas que fazem parte das carteiras da Nord, muitas vezes, nem estão no Ibov.

O bull market requer ir além, fugir do óbvio e se aprofundar em novas histórias.

Até outro dia seria uma loucura apostar contra um Itaú da vida.

Como também acharia uma loucura se alguém me dissesse, há uns 5 anos, que a Faria Lima de 2019 estaria lotada de marmanjos se equilibrando em patinetes.

O que será que vamos ouvir nos bares do Itaim daqui a 5 anos?

Risadas ao lembrarmos que um dia achamos que as fintechs acabariam com o Itaú?

Ou saudosismo ao lembrarmos do bancão que crescia 20 por cento ao ano?

Até lá, mantenha sua posição em Itaú, mas fique de olho em outras oportunidades.

Não tente prever o futuro. Patinetes são apenas o começo.

Um abraço,

Postado originalmente por: Nord Research