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Finanças: Um Plano para Reabertura da Economia

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Petróleo a preço de banana

Sem fôlego

A despeito de um noticiário global majoritariamente positivo, apontando para uma desaceleração da pandemia em diversas regiões-chave para a reabertura de diversas economias, mercados iniciam a semana majoritariamente em queda.

À potencial realização após o ensaio de retomada engrenado nas últimas sessões, somam-se atenções voltadas à temporada de resultados do 1T20 e nova rodada de queda para preços do petróleo.

Mercados asiáticos fecharam sem direção única, repercutindo ainda estímulos monetários na China. Praças europeias tentaram recuperação mais cedo, mas movimento perdeu força. Futuros americanos apontam para queda.

No front local, distúrbios no front político deflagrados nos últimos dias ganharam ainda mais corpo no final de semana e devem contribuir para mau humor.

Um plano é tudo que se pede

A Casa Branca divulgou um detalhado planejamento para a reabertura gradual da economia americana. Deixamos a avaliação das iniciativas propostas a cargo dos epidemiologistas. No front econômico, mais do que tudo importa a existência de um plano; uma sinalização que contribua para a formação das expectativas.

O anúncio vem em tempo similar a declarações do governador novaiorquino sugerindo que o pico de infecções no epicentro americano da pandemia já foi superado. A sensação é de que, enfim, o pior já passou por lá.

Anúncios similares surgem aqui e acolá, e sugerem que diversos países fizeram bom uso do período de afastamento social para não somente mitigar as pressões sobre seus sistemas de saúde mas, também, definir estratégias para a retomada dos negócios. Existe consciência, mundo afora, da necessidade de conciliar o controle epidemiológico com a geração de renda — que só se dá pela atividade econômica.

Mas isso estamos falando de países desenvolvidos. Do lado de cá, seguimos sem um norte e assistindo à digladiação entre entes federativos e poderes.

Petróleo a preço de banana?

O Petróleo WTI cai abaixo de 12 dólares hoje, em desvalorização da ordem de 40 por cento. É a maior queda intradiária da commodity desde 1982. Últimos dados de estoques sugerem que cortes recentemente anunciados não estão sendo suficientes para conter o acúmulo de óleo. Somam-se aos dados informações difusas sobre ofertas da commodity a preços de banana nos Estados Unidos.

Mas atenção para não confundir ruído com sinal: este preço diz respeito ao contrato futuro com vencimento mais próximo — que é amanhã. O próximo vencimento está na casa dos 22 dólares. Ou seja… há correria para ajustes finais na precificação.

Temos acompanhado a questão com atenção — o Bruce, no Investidor de Valor e no ANTI-Trader; eu, no Nord Deep Value.

A mim fica a impressão de que a estabilização de preços do óleo passa, necessariamente, por melhores condições de demanda.

E isso há de ganhar espaço na formação de preços à medida que economias reabrem.

Até lá, o desafio é resistir à tentação de perpetuar a excepcionalidade do momento presente — o que, salvo você acredite que todos ficaremos em casa para sempre, não faz sentido algum.

Não ficaremos no escuro para sempre

A propósito… não somente no mercado de petróleo a formação de expectativas é brutalmente afetada pelas incertezas do curto prazo. O mesmo se dá nos mercados acionários.

A título de exemplo, visões para o Nikkei 225 — principal índice do mercado japonês — abrangem um range que vai de valorização de 15 por cento a queda de 55 por cento a partir dos níveis atuais.

Por aqui, sempre preferimos — e continuaremos preferindo — nos abster desse tipo de discussão. Entendemos que, mais importante do que adivinhar (para não dizer chutar) em que nível estará o Ibovespa no final do ano, é entender quais avanços e retrocessos serão colhidos pelas operações das empresas que acompanhamos. Nosso foco é no mundo real.

Mesmo aqui, há desafios. Relacionados, principalmente, à falta de visibilidade quanto à duração das medidas em vigor. E entendemos que não estamos sozinhos nessa: a maioria de nossas conversas com pares de mercado sugere que a neblina à frente faz com que o foco seja em avaliar a capacidade de sobrevivência das Empresas em diversos cenários.

O lado bom disso é que, por definição, não dura para sempre: a partir do momento em que o futuro próximo se mostrar menos incerto, há espaço para um novo shift de expectativas. Sairemos do survival mode rumo a uma abordagem mais pragmática: dado o cenário que se desenhar, o que estará no preço?

E isso pode, sim, se traduzir em reavaliações positivas para os ativos.

Segure firme. Não ficaremos no escuro para sempre.

Um último recado

Os que me acompanham nos dias em que respondo por este espaço já devem ter percebido que prezo focar no que importa ao mercado. Contos da carochinha não são meu forte; deixo meus dilemas internos para serem discutidos na terapia e, penso eu, quem quiser uma aula on-line tem um milhão de alternativas melhores.

Hoje abro uma exceção, com a melhor das intenções: passar adiante, mais uma vez, uma mensagem que tenho procurado fazer reverberar em outros canais. Não podemos pensar somente em nossos investimentos enquanto, à nossa volta, outras necessidades mais imediatas se impõem.

Estou convicto de que a grande maioria das Empresas de capital aberto irá superar o momento atual sem grandes danos a longo prazo. Não perco uma única noite de sono com isso. A recuperação virá; o timing, francamente, é questão de segunda ordem.

O mesmo não se pode dizer dos pequenos empreendedores, que respondem coletivamente pela maior parte dos empregos e da geração de riquezas de nosso País.

Meu pedido é simples: procure, dentro do que lhe for possível, privilegiar os pequenos à sua volta. Prestigie os comércios de bairro que estejam, cada qual à sua maneira, tentando manter operações.

E por último: se é uma possibilidade para você, doe sangue. Os demais problemas que assolam o mundo não cessaram com a pandemia, e os bancos de sangue Brasil afora estão vazios. É um gesto minúsculo que pode fazer toda a diferença na vida de alguém.

Fique bem e boa semana.

Postado originalmente por: Nord Research