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Finanças: Um passo antes — Parte III

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Quando estávamos no bull market, narramos a história de uma sorveteria rumo à abertura de capital. Com a crise atual, o que teria mudado nos planos da empresa?

Da euforia ao medo

Quando estávamos em pleno bull market, meu colega Cesar Crivelli lançou mão deste espaço para contar, em duas edições, uma história chamada “Um passo antes” — você pode conferir a Parte 1 e a Parte 2.

Ali ele deu um exemplo hipotético do processo de abertura de capital (IPO) da Sorveteria do Seu Zé, que aconteceu em meio a um contexto de alta liquidez e otimismo nos mercados globais.

Tudo ia muito bem nos planos da Companhia do Seu Zé, agora uma empresa de capital aberto; com bom caixa, expandindo negócios Brasil afora, com uma base de investidores esperançosa pelo seu crescimento — pois sabiam que os lucros, no futuro, seriam compensatórios.

Pois bem…

Ninguém contava que uma crise sanitária no meio do caminho iria forçar toda a rede de sorveterias a fechar temporariamente suas lojas localizadas no país inteiro.

Na tela do home broker, SORV3 caiu mais de 50 por cento.

Seria o mercado injusto com todo o histórico de sucesso da companhia?

Você compra negócios e não ações

Pense como o dono de um negócio.

As coisas do mundo real — longe dos home brokers — não se resolvem da noite para o dia.

Há de se ter muita paciência até que o esperado se materialize em resultados. E no meio do caminho podem haver percalços.

O cenário preocupa? Sim, e mesmo as Companhias ainda têm uma visão turva dos impactos futuros da crise.

Mas temos todos a convicção de que a maior parte das Empresas listadas em bolsa passará por esse desafio — algumas com maiores dificuldades do que outras.

Os impactos em SORV3

Para que você se junte a nós em nossas reflexões, vamos usar a sorveteria fictícia como exemplo novamente.

Assumamos que ela terá lojas fechadas por um trimestre inteiro. O faturamento zero é certo.

Sem faturar, a Companhia precisa gerenciar custos fixos e variáveis. Os custos variáveis devem, em sua maioria, diminuir em proporção ao volume vendido. Os fixos, por sua vez, têm maior rigidez.

SORV3 estava capitalizada após seu IPO — ou seja, havia acabado de captar dinheiro via mercado de capitais. Há caixa, portanto, para fazer frente a gastos inadiáveis por algum tempo.

A dívida tinha um prazo médio bem alongado, sendo que apenas uma pequena parcela do caixa precisaria ser usada para pagar os compromissos de 2020. O "Contas a Pagar" também é relativamente pequeno em relação à posição de caixa.

E se necessário ou julgado conveniente, a Companhia tem linhas de financiamento a taxas razoáveis das quais pode dispor.

Gastos relacionados a investimentos serão, na sua maioria, postergados: não há sentido em investir em novas lojas sem a perspectiva de quando poderão ser abertas.

O que fazemos? Avaliamos por quanto tempo o caixa da Companhia suporta os gastos. Chegamos, assim, a uma estimativa de quanto tempo a sorveteria consegue ficar fechada.

Em maior ou menor medida, esta é a situação de grande parte das empresas brasileiras neste momento — tanto as de capital aberto quanto outras, micro, pequenas e médias.

Um trimestre muda a história?

Empresas são criadas com o intuito de durar para sempre.

Conceitualmente, o valor de uma empresa é o somatório dos resultados que ela produzirá de agora em diante, descontados os valores de hoje.

Assumindo que o negócio sobreviva aos desafios do curto prazo, os obstáculos do momento não mudam materialmente as perspectivas futuras — esta é a nossa visão para a maioria das empresas listadas.

Nossas atenções, no Nord Dividendos, no Nord Small Caps e no Nord Deep Value estão concentradas em avaliar com rigor a capacidade de cada Empresa para enfrentar o curto prazo.

Seguimos vigilantes.

Postado originalmente por: Nord Research