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Finanças: Ritmo de Pré-Carnaval

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Mercados fechados nos EUA devem se traduzir em baixo volume aqui

Tempo de folia

Mercados americanos estão fechados nesta segunda-feira. Não, os gringos não aderiram à folia dos bloquinhos dos Faria Limers: é o President’s Day o responsável pelo hiato norte-americano.

Temos como barômetros, hoje, o front europeu e o desenrolar da noite no Oriente — e são animadores os sinais.

Diante de sinalizações de estímulos econômicos por parte de Pequim, visando mitigar os impactos do coronavírus, mercados chineses tiveram bom início de semana. Se o mesmo ânimo não se viu nos pares asiáticos, a notícia pelo menos reverberou no front europeu, que tem dia de ganhos hoje.

Por aqui, a tendência é de sessão de liquidez reduzida, refletindo NY fora do ar e foliões em ritmo de Pré-Carnaval.

Tsunami ou marolinha?

Como não era de se imaginar diferente, as últimas semanas foram de intensos questionamentos na terra brasilis sobre os potenciais impactos da epidemia chinesa em nossa atividade econômica. Não é para menos: somos um País exportador e temos no Gigante Vermelho um parceiro comercial extremamente relevante.

Com indícios de que, em função dos shutdowns ordenados por Pequim, a indústria chinesa operou nas últimas semanas a algo da ordem de 50-60 por cento de capacidade, bem como que a epidemia pode ter afetado toda a cadeia logística do País, fica, do lado de cá, a sensação de que um amplo leque de indústrias terá impactos — seja em pedidos, seja em suprimentos.

A questão é: está mais para tsunami ou marolinha?

Impactos (1)

Tenho me debruçado, com especial atenção, em duas verticais: de um lado, a cadeia da mineração e da siderurgia. Do outro, a indústria de alimentos.

O processo de desligamento (e posterior religamento) de um alto-forno é extremamente custoso. Como consequência, a produção de ferro-gusa e, posteriormente, aço, não se sujeita a shutdowns. A demanda por minério de ferro, portanto, deve ser pouco afetada…

…mas se tanto a indústria de transformação quanto operações de infraestrutura e construção civil experimentarem diminuição no ritmo, isso há de se traduzir em acúmulo de estoques de aço nas usinas.

E aqui, sim, preços podem sofrer — inclusive no mercado externo. Atenção às siderúrgicas, portanto.

Impactos (2)

Por outro lado, a China precisa comer. E a redução da atividade interna pode se traduzir, por lá, em maior dependência de importações de alimentos.

Chama a atenção, especialmente, a cadeia de proteínas. O Brasil é um importante parceiro, bem como outros países americanos onde empresas brasileiras têm operações.

Desdobramentos da gripe aviária e da febre suína africana já vinham impactando a produção doméstica de proteínas na China. Com as repercussões do coronavírus sobre a atividade, isto tende a se intensificar.

Uma bela oportunidade, talvez, para nossas empresas do setor.

Dessa vez é diferente?

Tenho sentimentos muito contraditórios em relação à China. Tendo passado boa parte da minha carreira avaliando empresas cujos resultados dependem umbilicalmente do Gigante Vermelho, por diversas vezes carreguei a sensação de que o estilo “mão de ferro” de condução do Partido Comunista estava fadado a levar o País a situações insustentáveis.

Mas sinceramente? Na maioria das vezes em que apostei contra, quebrei a cara: a margem de manobra de Pequim sempre se mostrou maior do que eu imaginava.

Será desta vez diferente? Francamente, acredito que não.

As sinalizações de estímulos fiscais e a concessão de maior margem de manobra para o sistema financeiro dão, mais uma vez, a sensação de que eles lançarão mão do kit completo para mitigar os impactos econômicos da epidemia.

Não por acaso, os mercados sopesam a situação sem entrar definitivamente em modo pânico — muito pelo contrário, demonstram certa resiliência, quase incômoda.

Mar calmo nunca fez bom marinheiro

Não se enganem: o oba-oba dos últimos meses ficou para trás. Pelo menos boa parte de 2020 deve ser marcada por idas e vindas; sucessivas revisões de estimativas dos impactos mundo afora do drama que se desenrola em território chinês.

Não é mar calmo o que temos pela frente — e, consequentemente, quem se deixar levar pelo excesso de confiança gestado pelo passado recente pode acabar se machucando bastante.

Mas daí a concluir que não há oportunidades… há um oceano de distância.

Mesmo quando olhamos para dentro de casa, aliás: a temporada de resultados do 4T19 já prenuncia discrepâncias de desempenho relevantes entre as empresas — seja por diferenças setoriais, seja por lições de casa internas.

Há quem goste de olhar o mercado “de cima para baixo”: olho para o macro e acho que o setor X vai andar bem e o Y vai andar mal, então aumento minha exposição a X e reduzo a Y.

Tenho para mim que 2020 é da turma do bottom-up: as iniciativas da empresa XYZ começarão a render frutos que não estão na expectativa do mercado.

Para minha sorte, é minha turma.

A diferença entre ganhos e perdas pode não estar na leitura do macro, mas na contagem de porcas e parafusos.

É o tipo de coisa para o qual gostamos de olhar lá no Nord Small Caps — que, após um breve período de reflexão, está gradualmente voltando às compras.

Com cuidado. Sempre.

Postado originalmente por: Nord Research