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Finanças: Qual o impacto da crise na PetroRio?

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PRIO depende do preço do petróleo. Demanda retraída e sobreoferta pelos sauditas derrubaram os preços – mas a OPEP+ mostra a luz no fim do túnel.

O mundo mudou, nos adaptamos

O mundo mudou.

O coronavírus mudou, por algumas semanas, nossa capacidade de vida em sociedade e estamos ainda nos adaptando às restrições da pandemia.

Tenha certeza: esta não é a primeira e nem a última pandemia que veremos.

E a pandemia afetou o preço de todos os ativos no mundo.

Nossa bolsa caiu com a recessão e o pânico gerado pela quarentena forçada.

PetroRio (PRIO3) também foi bastante impactada. Mas, a história dela é outra…

Petróleo é commodity

Quem me conhece há mais tempo, sabe do meu desgosto por empresas de commodities.

Um desgosto que, claro, aprendi diretamente com o maior investidor de todos os tempos.

"Em um mercado commoditizado, é muito difícil ser mais inteligente que seu competidor mais estúpido. – Warren E. Buffett."

O problema das commodities é que seus preços variam. Variam drasticamente.

E a empresa produtora tem pouco poder de controle sobre o preço do produto que vende.

Resultado: os preços variam quando você menos espera.

Quem é PetroRio?

A PetroRio (PRIO3) é uma pequena empresa petrolífera que compra campos maduros e reduz drasticamente seus custos de extração.

A PetroRio produz, aproximadamente, 30 mil barris de petróleo por dia, enquanto a Petrobras (PETR4) produz quase 3 milhões.

Ela é 100x menor que a Petrobras.

E a vantagem de PRIO é justamente essa: agilidade, capacidade de operar a custos muito mais baixos e crescimento acelerado.

PRIO compra campos maduros (com a vazão já em declínio) por preços "justos", mas consegue operar a custos muito mais baixos.

E todo o caixa gerado na economia vai para o bolso dos acionistas – ou para a compra de novos campos maduros.

Nunca acontece conforme o planejado

Como não poderia deixar de ser, quando a PetroRio estava com seu negócio disparando, veio a crise do coronavírus.

O preço do petróleo, claro, sofreu um revés.

A demanda global pelo ouro negro cairia significativamente pela queda na atividade econômica e redução na demanda por transportes.

Faz todo sentido. Mas este não foi, nem de longe, o maior problema.

O problema foi o rancor e a malquerença que os russos guardavam, há anos, contra os ominosos ianques (americanos).

Os russos decidiram que chegara o momento de atacar!

A Rússia não gosta do gás de Xisto

Os russos olhavam o gráfico abaixo e sentiam raiva.

Participação de Mercado (percentual) dos produtores de petróleo. Fonte: CNBC e U.S. Energy Information Administration.

Enquanto Rússia e Arábia Saudita reduziam sua produção de petróleo para evitar uma queda dos preços mundiais, os Estados Unidos produziam cada vez mais.

E ocupavam uma fatia cada vez maior do mercado mundial de petróleo.

Os produtores do gás de Xisto americano, aceleravam sua produção enquanto os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP+) reduziam as vendas.

Sagazes, os russos decidiram que a farra americana acabava ali.

Fonte: Vanity Fair.

Quem viu qualquer filme de James Bond entende, perfeitamente, a personalidade russa.

A Rússia se negou a negociar novos cortes de produção pós-pandemia do coronavírus.

O contra-ataque saudita

Não é segredo nenhum do apreço do presidente americano por coisas douradas e reluzentes.

Tampouco é sigilosa sua afeição pela realeza árabe.

Fonte: The Straits Times.

O afeto fica claro no brilho no olhar dos dois poderosos líderes.

E, com os Estados Unidos sendo atacados pelos bolcheviques, o príncipe Mohammed bin Salman bin Abdulaziz Al Saud não teve dúvida: contra-atacou.

Os sauditas anunciaram que produziriam petróleo à máxima capacidade.

Os sauditas anunciaram novos investimentos para elevar sua capacidade de produção.

Fonte: CNBC e Refinitiv.

Os sauditas ligaram diretamente para os compradores de petróleo da Rússia para oferecer a matéria-prima com desconto.

Os sauditas anunciaram que cortariam drasticamente seus gastos públicos para sobreviver com petróleo abaixo de 20 dólares.

A guerra foi quente.

Efeitos colaterais

Você já pode imaginar o que acontece com muita oferta de petróleo combinada com economia retraída.

Petróleo Brent nos últimos 30 anos. Fonte: Bloomberg.

O petróleo caiu de mais de 60 dólares para menos de 23 dólares em 2 meses.

O petróleo atingiu seu menor valor em 18 anos. Menor valor desde 2002.

Vimos relatos de venda de petróleo abaixo de 10 dólares.

A Bielorússia queria comprar petróleo a 4 dólares da Rússia e alguns tipos de petróleo chegaram a ser cotados a preços negativos!

Estavam dando petróleo de graça. Pior ainda, você receberia dinheiro por comprar petróleo.

Absolutamente inacreditável.

Profetas do passado

Com o petróleo nas mínimas, as "projeções" dos "analistas", claro, eram de petróleo abaixo de 20 dólares por vários anos.

Espremendo os relatórios saía até sangue das previsões catastróficas.

O mercado é tão rápido e raso ao tentar prever o futuro que ninguém parou para pensar que os sauditas e os russos seriam os mais afetados pela sua própria atitude.

Ninguém pensou que muitos produtores (inclusive grande parte do gás de xisto e da OPEP+) quebram com petróleo a 20 dólares.

Muitos países têm custos de produção muito acima de 20 dólares.

Fonte: The Wall Street Journal e Energy Aspects e analistas.

As estimativas de custos (gráfico acima) variam bastante. Todo mundo gosta de dizer que seus custos são menores do que realmente são.

Mas petróleo a 20 dólares deixaria boa parte dos produtores mundiais fora do mercado.

Rússia e Sauditas possuem os menores custos.

Mas as duas economias são altamente dependentes de petróleo e seus governos só cobrem seus gastos com o barril sendo negociado acima de 70 dólares.

A briga foi um pouco longe demais…

Fazendo as pazes

Com os produtores do gás de Xisto preocupadíssimos, Trump pegou o telefone e ligou para Putin e o Príncipe..

Trump entrou na discussão e, rapidamente, tuitou que a produção seria cortada em 10 milhões de barris e tudo daria certo. Resultado:

Era tudo que Putin sonhava – que os Estados Unidos também colaborassem nos cortes de produção para segurar os preços do petróleo.

Os sauditas correram para marcar uma reunião da OPEP+, mas "faltou combinar com os russos" – os Estados Unidos não poderiam participar diretamente do cartel.

Como se dará a participação americana nos cortes de produção? Como será a nova ordem mundial do petróleo? Não será um acordo fácil.

E aqui estamos – a reunião da OPEP+ foi adiada para sexta-feira (10 de abril de 2020).

A PetroRio e o Cartel

A PetroRio possui custo de produção (breakeven) de 30 dólares por barril de Brent.

Abaixo disso, a companhia não ganha dinheiro vendendo petróleo (assim como muitas outras petroleiras mundiais).

O petróleo, hoje, está em 32 dólares. A empresa, como muitas outras petroleiras globais, luta para sobreviver.

A vantagem de PRIO é que ela possui uma proteção (hedge) que a permitiu vender petróleo, no 1T20, a 65 dólares.

E PetroRio ainda possui mais 850 mil barris hedgeados para o 2T20 (aproximadamente metade das vendas).

Hoje, como todas as outras petroleiras globais, PRIO segura seu caixa (reduz investimentos) e aguarda.

Acima de 40 e poucos dólares PetroRio é capaz de voltar com todos os seus projetos de expansão e investimentos.

A companhia aguarda. Tudo depende das tratativas entre russos e sauditas e americanos nas próximas semanas.

Não é a primeira briga Rússia vs sauditas

Continuamos confiantes em PetroRio, o motivo: as ações da Arábia Saudita deixaram claríssimas suas intenções.

O aumento da produção era a forma que encontraram de obrigar os russos a voltarem à mesa de negociações.

Ninguém quer o petróleo aqui embaixo por longos períodos. Os países produtores de petróleo já terão problemas suficientes para lidar com os impactos recessivos da pandemia.

Da última vez que sauditas e russos brigaram, em 2016, o petróleo (Brent) demorou 7 meses para cair de 60 dólares para 28 dólares.

Petróleo Brent em 2015-2016. Fonte: Bloomberg.

E demorou outros 5 meses para voltar para cima de 50 dólares.

Atualmente, a Arábia Saudita acelerou o processo de queda. Imagino que o retorno seja, igualmente, rápido.

PRIO e OPEP+

A preocupação no mercado, hoje, é a capacidade da OPEP+ de estabilizar o mercado com a queda na demanda.

O mundo produz ao redor de 100 milhões de barris/dia. A OPEP+ produz aproximadamente 30 milhões de barris e Trump anunciou corte de 10 milhões.

Os EUA precisarão ajudar na redução da oferta.

Já estamos vendo o fechamento de produção ao redor do mundo. Se o preço do petróleo ficar baixo por um longo período, veremos grande parte da produção mundial parar.

É uma fila. As petroleiras com os maiores custos de produção já estão saindo do mercado. Algumas quebrando.

As que permanecem precisam ganhar tempo até que o petróleo volte a patamares mais "normais".

A PetroRio ainda não começou a sofrer. Com seu hedge (proteção) vende petróleo a 65 dólares e ainda possui mais alguns barris hedgeados.

Já passamos pelo pior. Os futuros para o petróleo (Brent) indicam confiança na melhora de preços. Mas o petróleo só voltaria acima de 40 dólares em abril de 2021.

Futuros do petróleo Brent. Fonte: Bloomberg.

Como sempre, as "projeções" de "analistas" de petróleo a 20 dólares não demorou a se provar incorreta.

Até lá, PetroRio já sabe o que fazer: segurar caixa, reduzir custos, esperar entendimento entre sauditas, americanos e russos e aguardar que o mundo volte a consumir petróleo.

Sauditas e russos não querem maiores recessões em suas economias.

Trump precisa disputar uma eleição ainda em 2020.

Continuamos esperando um desfecho rápido desta disputa.

Continuamos confiantes no potencial de PetroRio.

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Postado originalmente por: Nord Research