fbpx
Pular para o conteúdo

Finanças: Proteja-se do coronavírus

Image

É tudo uma questão, como sempre, de ruído versus sinal

Vem cá. Vamos conversar.

Alguns de nossos leitores manifestaram estranheza com o fato de o Nord Insights de ontem não ter trazido qualquer menção ao pesado noticiário que assolava as Bolsas mundiais na volta do final de semana.

Não foi obra do acaso: com todo os veículos de comunicação bradando loucamente sobre o assunto, julgamos que nossa melhor contribuição seria não tomar parte na histeria coletiva e seguir fazendo o que fazemos sempre: focar nos fundamentos, esforçando-nos ao máximo para separar ruído de sinal.

(E, como de costume, tem ruído pra caramba no momento)

Mas não, não vivemos em um mundo paralelo. Acompanhamos atentamente, do lado de cá, o noticiário sobre a disseminação do coronavírus pela China e as enérgicas medidas adotadas por Pequim para contê-lo.

Nossos pontos são simples: primeiro, o noticiário carrega nas tintas para compensar o fato de estar (como de costume) atrasado. O surto não começou neste final de semana; apenas não se dava à questão suficiente atenção, até então. Como consequência, o senso de urgência de noticiar o que já é notícia velha faz com que não se fale em outra coisa onde quer que seja.

Segundo, não se trata exatamente de um fenômeno novo: surtos como o ainda recente A/H1N1 foram noticiados com tanto (ou maior) destaque.

Não me levem a mal: qualquer epidemia é um fenômeno grave. Mas existe, adjacente a ele, um segundo fenômeno que é a histeria coletiva que a ocorrência do primeiro provoca. A epidemia é um risco. A histeria é uma oportunidade.

Oportunidade, aliás, muito bem aproveitada por mercados mundo afora: não faz muitos dias que o nosso analista Cesar lançou mão desse espaço para sustentar, a partir de diversos indicadores, que valuations globais vinham esticados e que medidas de volatilidade pareciam retratar o atingimento do Nirvana pela humanidade.

E esse é um tipo de cenário que nós conhecemos bem: instala-se a euforia; impera a sensação de que tudo subirá para sempre e que os critérios de avaliação tradicionais não têm mais serventia.

As pessoas começam a achar que ganhar dinheiro é fácil. Começam a “fazer planos” com os ganhos futuros dos seus investimentos.

(Sabe aquela conta que você fez de, assumindo um retorno de “x por cento ao dia”, quanto tempo ainda precisaria trabalhar? Sim, eu sei que você fez. Eu já fui você…)

E não tem jeito, pessoal: isso não se sustenta.

Muitas pessoas, depois de ontem, parecem acreditar que o mundo vai acabar. Aparentemente a queda das Bolsas é a versão moderna das sete trombetas do apocalipse.

Cria-se um fenômeno interessante: a gravidade do noticiário é dada pela reação do mercado. E o medo se retroalimenta.

Acredite: não é assim.

O mercado não caiu (e, possivelmente, seguirá azedo nos próximos dias) por causa do coronavírus. Caiu porque os valuations não eram lá muito confortáveis e um evento macro serviu de gatilho para redução de posições de risco — sim, caso isso já tenha sido perdido de vista, eu reitero: posições em renda variável são consideradas investimentos com risco.

Foi conveniente. E não foi algo novo: estávamos há tempos de olho em eventos com potencial envergadura para alimentar essa narrativa — como a guerra comercial entre China e EUA e as hostilidades entre EUA e Irã, só para ficar nos mais recentes.

O que importa no momento?

Em primeiríssimo lugar, calma.

Da mesma forma que, com mercado subindo como se não houvesse amanhã, clamava por bom senso e racionalidade na tomada de riscos, o momento agora também é de pé no chão.

Se você nunca viu mercado caindo, saiba que movimentos da magnitude do de ontem são bem normais. Mesmo movimentos de magnitude maior do que o de ontem ocorrem com relativa frequência — é só o passado recente que deixou muitos mal acostumados mesmo.

Trajetória do Ibovespa desde 2016. Fonte: Bloomberg.

Em segundo lugar, tenha a consciência de que o mercado reage de forma exagerada a tudo. Vale para baixo e para cima. Existe um punhado de teoria sobre as possíveis causas dessa tendência ao overshooting por parte dos mercados financeiros, mas vou me abster. Basta ter em mente que a turma que tem bilhões ao alcance da ponta dos dedos vive à base de café e de Rivotril.

Da mesma forma que reajo com desconfiança quando, em meio à euforia, começam a propagar que dessa vez é diferente, também desconfio de discursos recomendando a fuga para as montanhas. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Em terceiro lugar, entenda que possivelmente haverá impactos no mundo real, mas as proporções variam de setor para setor e de empresa para empresa. Assistimos, ontem, a um dia de queda generalizada. Se, por um lado, é razoável acreditar que um evento dessa natureza possa afetar preços e volumes de determinadas commodities que têm na China destino importante, por outro parece-me improvável que as Casas Bahia vão vender menos cozinhas Bartira por conta do coronavírus.

Em quarto lugar, tenha em mente (relembre, se necessário) os porquês das teses de investimento nas quais você tem dinheiro. Pare de buscar validação no homebroker — que é o pior termômetro do mundo para qualquer coisa — e preste atenção ao mundo real.

Não se deixe contagiar. Nem pelo coronavírus, nem pela histeria que lhe é subjacente.

Sinal, ruído; risco, oportunidade

A reação indiscriminada do mercado ao coronavírus deve abrir novas oportunidades de compra de ações de boas empresas a valuations mais razoáveis. É isso que monitoraremos aqui.

A melhor maneira de mitigar risco é comprar barato. E andava difícil de comprar barato ultimamente — que o digam os assinantes do Nord Small Caps, que já andavam irritados com meu conservadorismo diante de um mercado tão exuberante.

Agora o jogo começou a virar.

Postado originalmente por: Nord Research