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Finanças: Ponha os pés no chão, Presidente

A opção pelo confortável pode tornar tudo mais difícil

Ponha os pés no chão, Presidente

Quando crianças estão aprendendo a andar, qual a melhor estratégia?

Permitir que o bebê caminhe sobre superfícies planas, nas quais os pés do aprendiz estejam firmes no chão? Ou protegê-lo em superfícies macias, já que o risco de queda é inevitável?

Espatifar-se no chão duro dói. No entanto, o risco de desequilibrar-se é menor. Por sua vez, caminhar em uma superfície fofa o protege da queda, mas também torna mais difícil superar o desafio de se manter firme e em pé.

Esse processo nos ensina sobre duas arbitrariedades da vida. A primeira é que não existe nenhuma escolha que não implique em perdas e ganhos. Segundo, é que a partir daquele momento tudo se torna mais complexo e arriscado.

Você não pode evitar de se esborrachar no chão, porém é evidente que a melhor escolha após o fato é que você se levante e tente novamente. A dificuldade estimula o progressivo aumento das habilidades humanas.

Portanto, escolher pela opção mais confortável pode, paradoxalmente, tornar tudo mais difícil.

Em 2018, Bolsonaro escolheu encarar um desafio que a grande maioria dos indivíduos nem conseguem imaginar. Para chegar ao posto foram necessárias uma série de habilidades e méritos próprios.

Assumir grandes cargos de liderança é como desafiar-se a caminhar sobre a  corda bamba. Exige habilidades avançadas para andar, absoluto equilíbrio para não cair e, principalmente, muita coragem — tanto para começar quanto para continuar.

Todavia, ter a chance de começar um espetáculo não garante que o equilibrista não corra o risco de cair. A dificuldade aumenta, pois o equilibrista está diante uma platéia que cria expectativas e observa atentamente sua performance.

Ao reconhecermos que grande parte da platéia está torcendo contra o equilibrista, nossas reações podem ser duas: corresponder à onda da multidão ou torcemos a favor para reparar a “injustiça” daqueles que não reconhecem o mérito de quem se dispõe ao feito.

É mais ou menos essa a dinâmica dos espectadores da Política nacional. Aqueles que procuram ansiosamente por falhas têm sua contraparte naqueles que justificam ou negam quando o Presidente erra.

É preciso admitir que as vaias já existiam antes do espetáculo começar e que, hoje, essas persistem independente de qualquer resultado governista. No entanto, quem optou por torcer a favor acredita que o Presidente deva prosseguir com seus métodos, mesmo que isso impacte negativamente o percurso do cargo e o leve a um resultado final diferente do esperado.  

O diálogo entre as respectivas torcidas segue um caminho exaustivo de escalada emocional e se distancia dos fatos. E o espírito defensivo da Política nacional tem impactos reais, como o mais novo esquema de segurança para acesso a jornalistas ao Presidente no Palácio.

O típico café da manhã entre o Presidente e representantes da imprensa foi substituído por um novo protocolo oficial, no qual apoiadores são atendido antes dos jornalistas. A equipe de comunicação de Bolsonaro também passou a produzir suas próprias gravações desses encontros e implementou um novo sistema de credenciamento dos profissionais da comunicação.

As desconfianças também afetam a base aliada: Frota foi expulso do partido, após ter se manifestado criticamente em relação ao Governo em várias situações. Bolsonaro respondeu, exigindo a destituição do Deputado e esvaziando seu poder dentro do partido. A deputada Carla Zambelli afirmou que o vice líder da bancada não pode falar o que quer e que o Deputado tinha um comportamento infantil. Frota respondeu: eu falo o que eu quiser e, para completar, desceu lenha no comportamento do Presidente.

A resposta de Bolsonaro às declarações foi: nem conheço esse aí.

Depois do episódio da melancia — verde por fora e vermelha por dentro —, a classe militar continua mostrando insatisfação. Apesar de concordarem com a nova política ambiental governista — principalmente em relação à Amazônia —, eles não estão felizes com os rumos da diplomacia. Em entrevistas, a preocupação é que o Governo Bolsonaro não carregue um legado histórico como um governo militar.

É plausível que, diante vaias, Bolsonaro recorra à sua torcida. Mas já tem torcedor de saco cheio…

Para piorar a situação, o Governo está diante uma situação delicada em relação à possibilidade de vetos à MP sobre abuso de autoridade. Para os mais conservadores do PSL, vetar o projeto — que foi amplamente aprovado na Câmara — é retomar a dinâmica de conflito com o Congresso. O resultado do veto seria, portanto, dificuldades de aprovar projetos mais importantes no futuro.

Por outro lado, Deputados com candidaturas mais ideológicas estão convictos no veto completo do Presidente, independente das consequências que ele possa trazer.

Confirmando a arbitrariedade da vida, qualquer escolha vai implicar em perdas e ganhos, maiores ou menores…

É esperar para ver.

Não obstante, considero que a melhor estratégia é escolher a terra firme. O caminho mais confortável só vai contribuir para a negação sobre o que é preciso para o aprendiz, finalmente, fincar os pés no chão.

 Marize Chons

Em observância à ICVM 598, declaro que as recomendações constantes no presente relatório de análise refletem única e exclusivamente minhas opiniões pessoais e foram elaboradas de forma independente e autônoma.

Postado originalmente por: Nord Research