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Finanças: Peso importa

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Escolha as apostas que valem a pena ser feitas

Imagem apresenta comparação entre o analista Ricardo Schweitzer mais magro e mais gordo.

Adivinhe o peso

De tempos em tempos surge, em algum programa de TV, uma competição que consiste em tentar adivinhar o peso das coisas. Se você, em algum momento da sua vida, assistiu à televisão, muito provavelmente já se deparou com isso.

Pois bem: eu quero jogar um jogo – e não, não é um jogo mortal. Vamos tentar adivinhar o peso de um animal – no caso, este analista que vos fala.

Meu peso máximo na vida adulta foi 137,6 kg. O mínimo, por volta de 80.

100 reais na aposta, tá bom?

O golpe tá aí

Minha primeira proposta é: adivinhe meu peso, com precisão de 1 casa decimal. Caso você acerte, eu lhe pago 200. Se errar, eu fico com os 100.

Essa é uma aposta claramente desfavorável para você, pois a precisão exigida para se obter o resultado vitorioso é muito grande.

Eu não faria essa aposta. Se você quiser, fique à vontade: o golpe tá aí; cai quem quer.

Melhorando o jogo

OK. Vamos tentar algo melhor.

Os termos que proponho agora são: escolha um peso mínimo e um máximo, com 5 kg de diferença. Por exemplo, entre 90 e 95.

Se o meu peso estiver dentro dessa faixa, seus 100 viram 200. Se eu pesar menos de 90 ou mais de 95, você perde tudo.

Talvez você se sinta mais confiante a participar desse jogo. Mas calma: eu ainda tenho uma terceira proposta.

A proposta irrecusável

Eis o jogo do qual você não pode deixar de participar.

Diga um número entre 40 e 200. Se meu peso for MAIOR do que o número que você disser, você ganha 200. Se for menor, você perde 100.

Talvez você não tenha suficiente confiança para afirmar se eu peso mais de 110, ou mais de 100, ou mais de 90… mas convenhamos: é BEM provável que eu pese mais de 40, não é mesmo?

Como dizer não para uma aposta dessas?

Algo de errado não está certo

Agora que já discutimos quantas arrobas eu peso, vamos ao que interessa.

Digamos que você tenha na bolsa um grupo de Empresas de um mesmo setor, mais ou menos parecidas entre si.

A Empresa A tem suas Ações negociadas ao equivalente a 10 vezes lucros.

As Ações da Empresa B negociam a 9 vezes.

As Ações da Empresa C, a 8.

E eis que há a Empresa D, cujas ações negociam ao equivalente a 2 vezes lucros.

Sim, eu disse DUAS VEZES.

Esse é o tipo de situação que deveria fazer as pessoas coçarem a cabeça: o que raios se passa na Empresa D para que suas Ações sejam tão penalizadas em relação aos pares?

Eu já adianto: muito provavelmente tem coisa aí. Talvez a Empresa venha apresentando resultados muito ruins; talvez tenha ficado para trás frente à concorrência; talvez ela tenha algum problema muito grave de gestão que se traduza em elevadíssima incerteza em relação ao seu futuro… talvez essa Companhia tenha risco real de deixar de existir.

Ou talvez, simplesmente, a Empresa D esteja esquecida pelo mercado: poucos analistas acompanham seus resultados (ou nenhum); a liquidez das Ações é baixa demais para o smart money… enfim.

Fato é: algo de errado não está certo. A questão é: a magnitude do desconto é proporcional ao tamanho do erro?

Aposte que o preço está errado

Digamos que a aposta disponível seja: eu aposto que o preço dessa Ação está errado.

Talvez a Empresa D tenha problemas. Mas talvez, mesmo com os problemas, suas Ações devessem valer, digamos, 6 vezes lucros – ainda bem abaixo de seus pares – ao invés de 2.

Ou talvez estejam ocorrendo transformações dentro da Empresa D que, caso bem-sucedidas, sequer se justifique que suas Ações negociem com qualquer desconto em relação aos pares. Quiçá mereçam até mesmo prêmio… mas o mercado deu uma de São Tomé e só vai botar preço depois que o resultado vier.

“Eu aposto que a Empresa D vale mais do que 2 vezes lucros” é mais ou menos como “eu aposto que o Ricardo pesa mais de 40 kg”.

Parece bom demais para ser verdade? Parece. Mas às vezes o mercado dá chance.

Foi assim, por exemplo, quando vimos Via Varejo (VVAR3) negociando na casa de 6 vezes EBITDA em janeiro de 2019 e recomendamos compra.

À época, Lojas Americanas negociava na casa das 12 vezes. Magazine Luiza, perto de 20.

Apostamos que o preço estava errado – e continuou errado por bastante tempo! As Ações chegaram a negociar perto de TRÊS vezes EBITDA – e o resto é história.

A grande ironia

Existem oportunidades assim. Sabe qual é a grande ironia?

A maioria dos investidores prefere participar de apostas nas quais há muito mais competição do que essas.

A concorrência em apostas se XPTO3 vale 10, 11 ou 12 vezes EBITDA é muito maior do que se a Empresa D vale mais de 2 vezes lucros.

E o exemplo de Via Varejo é excelente: quando estávamos lá, pouca gente olhava. Depois que as coisas começaram a se concretizar, virou pão quente.

Onde existia mais chance de ganho? Quando a aposta era que valia mais que 6 ou hoje, que elas negociam na casa das 12 vezes e a confabulação é se deveria ser 13, 14, 15…?

(Detalhe importante a todos que estão olhando para a cotação e comparando com o passado: a Empresa fez uma polpuda oferta de Ações em 2020 – ou seja, os 14-15 reais de hoje representam muito mais market cap do que 14-15 reais lá atrás).

O problema é que a maioria só quer ir aonde todo mundo já está.

Fuja da manada

Não sei você, mas eu prefiro apostar que o analista pesa mais do que 40 kg.

E a carteira do Nord Small Caps está repleta de casos assim: Empresas que estão simplesmente jogadas de lado pelo mercado, negociadas a valuations que, no meu entender, estão errados.

Preços podem continuar errados por muito tempo. Mas não continuam errados para sempre.

P.S.: Em fidelidade a meu espírito contrarian, perdi mais de 10 kg ao longo de 2020, enquanto todo mundo ficou em casa comendo.

Postado originalmente por: Nord Research