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Finanças: Perder junto é mais fácil do que ganhar sozinho

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Nosso vieses pregam peças na gente

Do racional ao irracional

Tradicionalmente, escrever para vocês nunca é uma tarefa fácil. Porém, em pleno domingo de carnaval, transformar essas poucas linhas em algo minimamente interessante traz consigo uma complexidade adicional.

Enquanto você, nobre guerreiro, ainda se recupera dos bloquinhos de ontem e se prepara para o próximo, peço que fique comigo por alguns minutos.

Hoje, o tema é um de meus preferidos: behavioral economics.

Durante meus quatros anos de Economia, não se passava um dia sequer sem que repetíssemos a seguinte frase: “as pessoas são racionais na tomada de decisão”.

Era quase um mantra, mas tinha uma razão de ser. Essa é uma das fundações teóricas mais básicas da economia tradicional e o que fundamenta grande parte dos modelos econômicos.

Hum, agora, seria isso mesmo? Nem preciso dizer que não, certo?

A realidade é que somos rodeados por vieses e, muitas vezes, tomamos decisões que na literatura seriam caracterizadas como subótimas.

Não à toa, essa é uma área que cresce na literatura econômica. Diversos estudos vêm surgindo e questionando justamente o comportamento humano, com alguns deles até rendendo prêmios Nobel a Richard Thaler e Daniel Kahneman.

E, como investidores, esses vieses também afetam nossa vida nos mercados.

4 tentativas, 10 jardas e várias decisões erradas

Curioso que, mesmo em nossas terras brazucas, temos visto cada vez mais adeptos ao tão famoso futebol americano. Eles ainda são tímidos na maior parte do ano, mas aparecem com mais força em épocas de Super Bowl.

Se você, assim como eu, não é exatamente um grande entendedor do esporte, saiba o seguinte: cada time tem quatro tentativas para andar 10 jardas no campo.

Agora, imagine uma situação onde você já está na terceira tentativa e ainda não conseguiu avançar essa distância necessária no campo.

Nessa última jogada, o treinador tem duas possibilidades:

Opção A (mais segura): chutar a bola o mais longe possível de forma que o adversário comece a jogada de um ponto distante.

Opção B (mais arriscada): tentar atacar mais uma vez, iniciando a jogada normalmente e correndo risco de entregar a bola mais próxima da sua end zone.

E aqui fica a dúvida: qual decisão tomar? A ou B?

Tradicionalmente, a sabedoria milenar diria para seguir sempre com a opção A. Porém, Tobias Moskowitz  professor de Yale e estudioso de economia comportamental  tem um ponto muito interessante sobre essa questão.

Analisando os jogos dos últimos 30 anos da NFL, utilizando dados e um pouco de estatística, o resultado será que 96 por cento das vezes que os treinadores deveriam ir pela opção B, mas eles acabam não fazendo.

Sempre recorrem a opção A, mesmo que estatisticamente os números mostrem que seria mais benéfico ao time fazer o contrário.

Agora, se esse método é tão bom assim, por que ninguém fez isso ainda? E a resposta é: já fizeram.

Um treinador americano, Kevin Kelly, na cidade de Little Rock, resolveu adotar a estratégia e utilizar dados para a sua tomada de decisão.

Baseado nela, percebeu que os números apontavam que, via de regra, era mais vantajoso estatisticamente utilizar a opção A.

E, curiosamente, o histórico dele era impecável, vencendo grande parte dos campeonatos disputados por seu time.

Chegou ao ponto que, certa vez, perguntaram a ele porque ninguém o copiava.

A resposta foi a seguinte: “They prefer to lose traditionally, than to take the risk and win untraditionally”.

Em resumo, significa que o racional é que perder utilizando técnicas tradicionais é perdoável. Perder tentando inovar, não é.

No mercado, muitas vezes, vemos o mesmo comportamento.

Coach Kelly and Portfólio Managers

Curioso como no mercado sempre existe a ação ou setor do momento.

Em algum ponto do tempo, as estatais eram a temática. Logo depois, a bola da vez era uma aposta maior em ações ligadas à retomada econômica, como varejistas.

Hoje, ao que tudo indica, parece que existe um grande consenso em torno das operadoras de saúde verticalizadas como Hapvida.

Agora, não ache que só o mercado faz isso.

Em minha breve carreira como economista em um banco brasileiro, raramente víamos alguém destoando muito de comportamento nas projeções dos dados econômicos.

Na realidade, o que se vê é uma grande aglomeração em torno de um consenso. E isso não seria exatamente a mesma versão do mercado sobre o problema dos treinadores de futebol?

No mercado, ao investir nesses temas consensuais, raramente você será extremamente criticado por ter errado. Estaria perdendo dinheiro junto com a massa e isso é aceitável.

Porém, ao tentar algo mais exótico e fora desse consenso, tenha certeza de que está certo.

Erre aqui e em algum momento as pessoas acreditarão que você foi imprudente ou irresponsável.

Agora, não seria exatamente fora do consenso onde estariam as melhores oportunidades de investimento?

Além disso, não necessariamente boas empresas são bons investimentos. Muitas vezes precisamos cavar mais fundo a fim de encontrar as melhores oportunidades.

Mas é aquela velha história: a média não se importa com isso. Novamente, é melhor perder onde todo mundo aposta do que tentar navegar em águas nunca antes vistas e afundar sozinho.

E, acredite: esse comportamento é uma maravilhosa notícia para a pessoa física.

Nadando na piscina sozinho

A beleza de estudar esses vieses de comportamento é justamente se aproveitar deles.

Enquanto o mercado foca em seus temas e busca não se frustrar sozinho, temos a grandiosa oportunidade de olhar para além deles.

Explico melhor.

De modo geral, temos grandes piscinas no mercado: large caps, mid caps e small caps. Por conta do tamanho dos fundos, grande parte dos agentes se estabelecem na primeira.

Na segunda, já temos um quorum menor. Aqui, o prêmio destaque vai para Brasil Capital, que faz um belíssimo trabalho.

Na última piscina, que tem mais cara daquelas infláveis de plástico, pouca gente acessa. O nível da água é raso e pouquíssimos deles conseguem nadar bem por aqui.

Por outro lado, para a pessoa física onde as restrições de liquidez não se aplicam, é perfeito.

Sendo assim, é justamente nesse lugar que você consegue conquistar a maior vantagem sobre todo o mercado.

Então, ao invés de somente ficar olhando para o grande Piscinão de Ramos das large caps, ouse sair um pouco dele também.

Na minha visão, dividido dessa forma: invista com bom gestores para se aproveitar dos primeiros dois tanques, mas tente nadar sozinho.

No Nord Fundos nós conseguimos fazer a curadoria de quem são os gestores que ousam nos dois primeiros piscinões.

Mas, no terceiro, não conheço ninguém melhor que meu sócio Ricardo Schweitzer para lhe guiar pelo mundo das Small Caps.

Nade com segurança, mas não deixe de usar essa piscina.

Postado originalmente por: Nord Research